Rios de todo o mundo apresentam “preocupantes níveis de degradação nos ecossistemas“, segundo um estudo liderado pela investigadora da Universidade de Coimbra (UC) Maria João Feio, que foi neste dia divulgado.

Os resultados do estudo mostram “preocupantes níveis de degradação nos ecossistemas ribeirinhos, com menos de metade dos troços estudados em boa qualidade biológica (42 a 50%, dependendo do elemento biológico – peixe ou invertebrados) e cerca de 30% severamente degradados”, referiu Maria João Feio.

De acordo com aquela cientista do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, “as piores condições foram encontradas em climas áridos e equatoriais“.

Este estudo reuniu três dezenas de investigadores de todo o mundo e teve como objetivo analisar o estado biológico dos rios, da forma mais ampla possível, com base em dois bioindicadores usados na monitorização dos rios: os macroinvertebrados bentónicos e os peixes.

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Foram analisados resultados de programas de monitorização de 45 países (64 regiões de estudo) de todos os continentes e, particularmente, um grande número de áreas de países pertencentes ao Sul Global, “que têm as maiores reservas de biodiversidade de águas doces do mundo, mas que têm sido menos estudadas ou cujos dados não são conhecidos”, explicou Maria João Feio.

Entre estes países estão a China, o Nepal, a Nigéria, o Brasil, a África do Sul, o Vietname e o Camboja.

A investigação integra dados de “áreas consideradas “hotspots” de biodiversidade, como é o caso da Amazónia, e de países como o Japão ou a Coreia do Sul, que até agora não estavam acessíveis à comunidade internacional“.

Foram também analisadas “a influência do desenvolvimento humano e alterações antropogénicas sobre a qualidade biológica dos rios”, o que Maria João Feio defendeu ser “essencial para perceber que medidas devem ser implementadas a nível global“.

Segundo a cientista, dos fatores estudados, os que mais influenciam negativamente os rios são a “má qualidade físico-química da água (uma realidade especialmente em África, na Ásia e na América do Sul), o facto de existirem menos áreas protegidas para rios e um maior nível de desenvolvimento humano, que se pode traduzir numa maior história de alterações no uso do solo por agricultura, indústria e urbanização“.

Já os fatores associados à melhor qualidade biológica dos rios são o aumento da área de floresta e a melhor qualidade da água.

No que diz respeito a países em desenvolvimento, estes têm “as maiores percentagens de locais moderadamente impactados, o que pode indicar uma tendência recente para a degradação dos mesmos”.

O estudo mostrou também que as comunidades de peixes se encontram em piores condições do que as dos invertebrados.

“Na grande bacia australiana de Murray-Darling, 56% dos locais estão severamente alterados, o que pode ser devido ao efeito das quatro mil barreiras à deslocação dos mesmos ao longo do rio, como as barragens ou açudes. Estas encontram-se amplamente espalhadas pelos rios do mundo, dado que cerca de 63% dos grandes rios já não correm livremente”, explicou a investigadora.

Na sua opinião, “isto é particularmente relevante quando se sabe que está a ser planeado um grande número de novos aproveitamentos hidráulicos para a América do Sul e Ásia”.

Para Maria João Feio, as conclusões do estudo refletem a “perda de biodiversidade das águas doces, bem como a alteração nos padrões de distribuição das espécies“, com o crescente aumento de espécies invasoras.

“Tudo isto altera o funcionamento dos ecossistemas ribeirinhos, levando à perda de serviços fornecidos por estes ecossistemas às populações (desde o fornecimento de água à regulação climática ou à prevenção de doenças)”.

Neste âmbito, defendeu ser essencial continuar a monitorizar os rios em todo o mundo, “desde aqueles onde nunca se fez nada a outros que viram os seus programas serem suspensos”, e “planear medidas de recuperação”.

“O nosso estudo mostra que estabelecer áreas protegidas para rios ou melhorar as florestas são soluções eficientes”, frisou.