Os últimos dias do FC Porto foram o espelho da temporada em formato montanha-russa que a equipa de Sérgio Conceição está a viver: depois de uma descida a pique surge sempre uma subida consistente que depressa é interrompida por outra queda livre. Os dragões foram à Bélgica golear o Club Brugge e apurar-se para os oitavos de final da Liga dos Campeões e, dias depois, estavam em São Miguel a empatar com o Santa Clara para ficarem a oito pontos da liderança do Benfica. Subida consistente, queda livre.

Esta terça-feira, porém, era dia de perseguir novamente o lado ascendente da montanha-russa. No Dragão, já com o apuramento garantido, o FC Porto recebia o Atl. Madrid e tinha a possibilidade de ainda chegar ao primeiro lugar do grupo caso fizesse um resultado igual ou melhor do que o do Club Brugge na Alemanha frente ao Bayer Leverkusen. Do outro lado, num contexto bastante distinto, a equipa de Diego Simeone já só podia perseguir a vaga de repescagem para a Liga Europa.

Ficha de jogo

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FC Porto-Atl. Madrid, 2-1

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Daniele Orsato (Itália)

FC Porto: Diogo Costa, Pepê (Rodrigo Conceição, 89′), Fábio Cardoso, Marcano, Zaidu (Wendell, 52′), Otávio (Gonçalo Borges, 89′), Stephen Eustáquio, Grujic, Galeno (Bernardo Folha, 89′), Taremi, Evanilson (Toni Martínez, 81′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Samuel Portugal, Danny Loader, André Franco, João Mário, Bruno Costa

Treinador: Sérgio Conceição

Atl. Madrid: Oblak, Molina, Savic, Gimenez, Reinildo, Saúl (Matheus Cunha, 60′), De Paul, Witsel, Correa (Barrios, 85′), Griezmann, João Félix (Carrasco, 60′)

Suplentes não utilizados: Grbic, Sergio Mestre, Reguilón, Kondogbia, Felipe, Morata, Mario Hermoso, Sergio Diez

Treinador: Diego Simeone

Golos: Taremi (5′), Stephen Eustáquio (24′), Marcano (ag, 90+5′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Grujic (39′), a Reinildo (42′), a Savic (48′), a De Paul (69′), a Fábio Cardoso (69′)

“É sempre uma grande equipa. Têm um grandíssimo corpo técnico, uma grandíssima equipa, jogadores que se conhecem muito bem porque jogam juntos há muito tempo com o mesmo treinador e isso é uma vantagem. Independentemente do momento, o Atl. Madrid vai acabar por fazer uma boa época. Uma época não é só feita de sucesso, há ciclos e este vai acabar por ser um menos bom do Atl. Madrid. O nosso também não é bom, na Primeira Liga, mas amanhã é mais um desafio. Se não correr bem, vão falar sobre a crise do FC Porto. Temos de ir vivendo desses momentos e perceber que cada momento desses pode ser decisivo para o desenrolar da época”, explicou o treinador dos dragões na antevisão da partida.

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Assim, neste contexto, Sérgio Conceição não podia contar com os castigados David Carmo e Uribe, lançando Marcano e Grujic no onze inicial, e recuperava a titularidade de Eustáquio, que foi substituído por Bruno Costa contra o Santa Clara depois de ter sido expulso no Clássico com o Benfica. Na direita da defesa, mantinha-se Pepê, com João Mário a ficar no banco e Galeno a manter o lugar na ala esquerda. No Atl. Madrid, Simeone apostava em Correa e Griezmann — e também em João Félix, que voltava à titularidade dos espanhóis nove jogos depois.

Não foi preciso esperar muito depois do apito inicial para perceber que a superioridade do FC Porto em relação ao Atl. Madrid seria clara. Os espanhóis até tiveram as primeiras aproximações à baliza contrária, ainda que sem qualquer perigo, mas depressa os dragões chegaram à vantagem: Pepê conduziu uma transição pela direita, encontrou Evanilson em desmarcação já na grande área e o brasileiro assistiu Taremi, que só precisou de encostar para a baliza deserta sem qualquer oposição (5′).

O Atl. Madrid atuava num 4x4x2 que se desdobrava num 3x4x3 a construir e não só demonstrava uma total incapacidade para implementar verticalidade e assertividade como não conseguia responder à pressão intensa do FC Porto. Os dragões não davam espaço ao adversário, encurtavam linhas e aproximavam setores e eram superiores na posse de bola, nos ataques e nos remates. A discrepância entre as duas equipas era visível principalmente no corredor esquerdo do ataque da equipa de Sérgio Conceição, onde Zaidu e Galeno iam tornando visíveis todas as fragilidades defensivas de Savic.

E acabou por ser por aí, precisamente, que o FC Porto chegou ao segundo golo. Zaidu soltou Galeno na ala, o avançado aproximou-se da área e cruzou atrasado para Eustáquio, que apareceu vindo de trás para rematar rasteiro e bater Oblak (25′). O Atl. Madrid ainda esboçou uma reação depois do golo do internacional canadiano, com Griezmann a atirar à figura de Diogo Costa (32′), mas a equipa de Sérgio Conceição causava perigo sempre que decidia acelerar os movimentos e esteve permanentemente mais perto de chegar ao terceiro golo do que propriamente de sofrer o primeiro.

Otávio ainda ficou muito perto de aumentar a vantagem até ao fim do primeiro tempo, com um remate rasteiro que Oblak defendeu (37′), e o FC Porto foi mesmo para o intervalo a vencer o Atl. Madrid de forma justa e totalmente justificada. Mais do que isso, o FC Porto foi para o intervalo no primeiro lugar virtual do grupo da Liga dos Campeões, já que na Alemanha o Club Brugge permanecia empatado sem golos contra o Bayer Leverkusen.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo mas Sérgio Conceição não teve de esperar muito até ser obrigado a mexer, já que Zaidu saiu lesionado de um duelo com Savic e foi substituído por Wendell. O jogo mudou de características na segunda parte, com o FC Porto a manter um controlo aparente mas a permitir mais espaço e posse de bola ao Atl. Madrid, que ia explorando o meio-campo adversário mas sem grande presença no último terço.

Os dragões, aliás, continuavam a ser o conjunto mais perigoso — com Evanilson a atirar por cima na cara de Oblak depois de uma assistência de Taremi (62′). Pelo meio, João Félix rematou de fora de área para Diogo Costa encaixar mesmo antes de sair (60′), sendo rendido por Matheus Cunha, e Griezmann acertou na baliza mas viu o golo ser anulado por falta de De Paul no início do lance (68′).

A partida voltou a modificar-se nos últimos 20 minutos, com o Atl. Madrid a arriscar mais com o aproximar do apito final e a deixar mais espaço nas costas da defesa — algo que era facilmente aproveitado pelo FC Porto para explorar a profundidade e a verticalidade do ataque. Oblak voltou a ser decisivo ao defender um cabeceamento de Evanilson após um canto (73′) e Sérgio Conceição acabou por mexer já dentro dos últimos 10 minutos, trocando Evanilson por Toni Martínez e lançando depois Gonçalo Borges, Bernardo Folha e também Rodrigo Conceição.

Até ao fim, apesar das várias ocasiões em que o FC Porto poderia ter dilatado a vantagem, acabou por ser o Atl. Madrid a reduzir o marcador com um autogolo inconsequente de Marcano já nos descontos (90+5′). Os dragões venceram os espanhóis no Dragão e beneficiaram do empate sem golos do Club Brugge em Leverkusen para ficar no primeiro lugar do Grupo B da Liga dos Campeões, evitando desde já os principais tubarões no sorteio dos oitavos de final — enquanto que a equipa de Diego Simeone falhou até a Liga Europa e está fora das competições europeias.

Num dia em que Pepê realizou uma enorme exibição, em que Eustáquio voltou a provar que é jogador para estes palcos e em que Diogo Costa foi novamente crucial, Taremi demonstrou que é o verdadeiro embaixador de uma equipa de Sérgio Conceição que é, quer e só pode ser europeia: depois do brilharete na Bélgica, o avançado iraniano voltou a marcar, esteve perto de bisar em várias ocasiões e entrou numa lista reduzida de nomes que fizeram golos pelo FC Porto em três jogos consecutivos na Liga dos Campeões.