Por estes dias a atenção dos media em Changpeng Zhao, CEO da plataforma de negociação de criptoativos Binance, desviou-se um pouco das moedas virtuais. O seu investimento de 500 milhões de dólares no Twitter, garantindo apoio a Elon Musk para concluir a compra da rede social, suscitam muitas questões ao empresário de 45 anos.

No dia de arranque da Web Summit, CZ (como é mais conhecido) entrou pelo palco central com os habituais ténis amarelos (a cor associada à Binance), para no dia seguinte aparecer no palco designado Q&A (perguntas e respostas) e terminar a sua participação na Web Summit com a conferência de imprensa.

O tema Twitter esteve em todas as ocasiões. No primeiro dia já tinha comentado haver “muitas razões para o Twitter ser um bom investimento”, até porque o Twitter “é uma plataforma importante”, ainda que tenha notado, nesse dia, que Musk é “para mim” um “homem bastante difícil de prever”. Admitiu, já esta quarta-feira, que não conhece pessoalmente o líder da Tesla. “Ele é uma pessoa muito ocupada e eu também”, mas se Musk quiser tomar uma bebida está disponível. Ainda assim, CZ vai dizendo que não tem intenções de entrar na administração do Twitter, até porque não gosta muito das longas horas que se passa em reuniões. “Tenho muito trabalho na Binance”, acrescenta, mas não afasta por completo.

Sobre questões estratégicas sobre o Twitter, volta a reafirmar que não é o CEO e que a sua participação é minoritária, cerca de 1%. “Estamos disponíveis para ajudar”, mas, acrescentou, Musk “teve muita gente para despedir e tem de assentar. Vamos esperar que assente a vamos ver como podemos ajudar”.

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Changpeng Zhao assume que está ocupado com a Binance, que ainda não obteve licença em Portugal, mas, segundo revelou, quer aumentar a sua presença no país, e já tem falado com Carlos Moedas, presidente da Câmara, para ter um escritório em Lisboa. Mas vai advertindo em relação à taxação dos criptoativos. Ainda que vá dizendo que em Portugal é um tema em discussão e que ainda não está aprovado — de facto o tema está na proposta de Orçamento do Estado para 2023 em discussão no Parlamento — CZ alerta que os investidores acabam por preferir outras geografias com poucos impostos. Recorda o caso da Índia que quer aplicar um imposto de 30% sobre cada transação. Se acontecer isso, comenta, “as pessoas vão deixar de negociar. Vão matar a indústria”. Por isso admite que possa haver alguma tolerância dos investidores para impostos sobre mais-valias, mas não sobre transações.

CZ já esteve, disse, três vezes em Portugal. A sua participação na Web Summit conta como terceira visita ao país.

CEO da Binance veio à Web Summit defender estabilidade das criptomoedas e falar sobre a relação com Musk

Sobre o mercado das criptomoedas, assume que tem 99% dos seus ativos em BNB (criptomoeda da Binance) e 1% em bitcoin. E pouco em dólares. No primeiro dia advogou que o setor das criptos é estável. No segundo dia, sem se comprometer com projeções para a bitcoin, lembrou que esta moeda tem tido ciclos de quatro anos — em que um ano é de queda, dois de recuperação e um quarto de pico. Já houve três picos na bitcoin. Mas é em alturas de bear market (de baixo) que há muito a fazer, considera o responsável. “É mais fácil de contratar, é mais fácil de crescer e investir em outras empresas e fazer aquisições”, a valores mais realistas, acrescentou.

Atribui esta queda no mercado das criptos também ao facto de ainda haver muito investimento correlacionado com as ações que estão a cair devido à subida de taxas de juro. “Vão no mesmo sentido, quando, em teoria, deviam ser distintos”, mas, admite, “as pessoas que negoceiam criptos negoceiam ações”, e quando há uma queda querem dinheiro e vendem ações e criptos. “A base de utilizadores é muito correlacionada. Com o tempo, o mercado das cripto vai crescer e haverá outros utilizadores”.