Foi em 1990 que a Sociedad Española de Automóviles de Turismo foi adquirida pelo Grupo Volkswagen, que na altura alegava querer fazer da Seat uma marca concorrente da Alfa Romeo, o que nunca aconteceu. O que aconteceu, 28 anos depois, foi que a denominação que identificava as versões mais desportivas da Seat foi convertida numa marca autónoma: no início de 2018, nascia a Cupra. Ora, quatro anos depois da aposta neste jovem construtor, tudo indica que o Grupo Volkswagen está seriamente a ponderar acabar com a Seat, tal como a conhecemos. Foi isso mesmo que o actual CEO da Volkswagen, Thomas Schäfer, admitiu em entrevista à Autocar.

O alemão é, desde o passado dia 8 de Julho, chairman da Seat. Nesse mês, as vendas do construtor espanhol caíram 45% e, no mês seguinte, 42% face ao período homólogo do ano anterior. Trata-se de uma queda considerável, mas que em grande parte é explicada pelas prioridades definidas pelo próprio Grupo Volkswagen, em matéria de acesso a semicondutores. Ora, segundo a referida publicação, a Seat surge no fim da lista para receber os chips que os fornecedores conseguem entregar. E sem estes componentes não há como a produção não se ressentir e, por tabela, as vendas. Não obstante, Schäfer recusa liminarmente a ideia de que o conglomerado germânico esteja a acabar com o fabricante espanhol. “Nós não estamos a matar a Seat, precisamos é decidir o que fazer com a marca”, disse, indiciando que há dúvidas sobre a viabilidade do fabricante espanhol mais antigo. O mesmo não acontece com o mais novo: “A Cupra é o futuro da Seat. A Cupra é a reinvenção da Seat daqui para frente. A Cupra vai avançar muito mais depressa para a electrificação.”

A posição do novo chairman da Seat não surpreende. O próprio CEO da Seat e da Cupra, Wayne Griffiths, confessou há relativamente pouco tempo ao Observador que não há sequer planos para electrificar plenamente a gama da Seat, marca que é das poucas no mercado que nem tem um modelo eléctrico na sua gama. Nos tempos de Luca de Meo, era suposto que essa estreia se fizesse com o Seat el-Born, apresentado como protótipo em 2019. O gestor italiano mudou-se para a Renault em meados de 2020 e, entretanto, a Seat “perdeu” o Born para a Cupra. E a ofensiva eléctrica do jovem construtor espanhol é para continuar, enquanto a Seat se mantém apenas com a combustão e não irá para além dos híbridos plug-in (PHEV), disse Griffiths ao Observador por ocasião do Plano Cupra. Isto pese embora o futuro dos PHEV seja cada vez mais periclitante, dependendo da vontade política de continuar ou não a subsidiar este tipo de mecânicas. Curiosamente, Thomas Schäfer assegurou à Autocar que “até 2028 ou 2029”, a Seat “está bem” – não se percebe “bem” como, pois inevitavelmente a imagem do construtor como uma marca jovem e moderna perder-se-á se o produto não alinhar pelas novas tendências.

Ao dizer que “A Cupra é o futuro da Seat”, Schäfer não diz necessariamente que não há futuro para a Seat. Pelas suas palavras, depreende-se que a Seat parece estar condenada a desaparecer como fabricante de automóveis. Mas o nome pode persistir como marca de mobilidade, sugere o novo chairman. Acontece que essa marca já existe: é a Seat Mó, a unidade de negócios que trabalha para desenvolver a “futura estratégia de micromobilidade da empresa com foco em produtos e serviços eléctricos”. A Seat Mó já opera em Espanha, desconhecendo-se se a ideia de Schäfer é expandir a abrangência territorial da empresa. É uma possibilidade, porque a Seat deixaria de competir com as outras marcas do grupo. Mas passaria a competir com a Moia, a jovem empresa de mobilidade criada pela VW que está no terreno desde 2018, fornecendo boleias partilhadas (ridepooling) nas principais cidades alemãs…

De recordar que a Seat fechou o ano passado com 470.500 unidades transaccionadas, um aumento 10,3% comparando com 2020 (426.600). A esse número é necessário subtrair a “fatia” da Cupra, que comercializou 79.300 veículos em 2021, número que pretende duplicar rapidamente. Isto significa que, por enquanto, a Seat vende seis vezes mais que a Cupra e, como até Schäfer reconhece, é a marca com o perfil de cliente mais jovem, atraindo novos clientes para o grupo.

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