O Novo Banco fechou os primeiros nove meses do ano com lucros de 428,3 milhões de euros, mais 178% do que no mesmo período do ano anterior – ou seja, quase triplicando os lucros. É um resultado que se destaca entre os números já divulgados pelos outros bancos até ao momento, nesta época de apresentação de resultados: o BCP teve lucros de 97,2 milhões, o BPI 286 milhões e o Santander Portugal 385 milhões. Sobre a nova legislação, sobre a renegociação dos créditos, o presidente-executivo, Mark Bourke, considera que não traz grandes novidades.

O “crescimento sustentado do negócio [é] demonstrativo da capacidade de geração de receita e capital, apesar do atual contexto macroeconómico, pressões inflacionistas e subida das taxas de juro”, afirma o banco em comunicado de imprensa divulgado esta segunda-feira. O banco acrescenta que “o desempenho da atividade está em linha com as expectativas para setembro de 2022, apesar do atual contexto
macroeconómico caracterizado por pressão inflacionista e consequente volatilidade das taxas de juro, agravado pelo conflito na Ucrânia”.

Um dos principais fatores que justificam a forte subida dos resultados é o menor registo de imparidades e provisões (que subtraem diretamente aos lucros). “O Grupo novobanco registou até 30 de setembro de 2022 um reforço de imparidades e provisões no montante de 22,5 milhões de euros, apresentando uma redução face aos valores registados no período homólogo (-85,9%)”, diz o banco. Outro efeito positivo foi a venda da sede, em Lisboa, que deu ao banco 71,5 milhões.

Esse efeito compensou uma descida na margem financeira, um indicador-chave para os bancos já que reflete a diferença entre aquilo que o banco paga para se financiar (depósitos, BCE, etc.) e os juros cobrados nos créditos que concede. A margem financeira baixou 5,6%, para 430,2 milhões de euros, penalizada pelos custos pagos pelos títulos de dívida sénior emitidos no final de 2021 (que começaram a pagar juros neste exercício). Por outro lado, a margem financeira também sofreu com o registo dos juros do financiamento obtido no BCE ao abrigo do programa de cedência de liquidez de longo prazo (TLTRO III) – um programa que foi alterado pelo BCE a 27 de outubro e, com essas alterações, o Novo Banco estima que a margem financeira no trimestre seria beneficiada em 7,5 milhões de euros.

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O crédito a clientes (líquido) aumentou 3,9% para 24,6 milhões de euros (na comparação entre final de setembro e final de dezembro de 2021), “confirmando a trajetória de crescimento da carteira de crédito no segmento de empresas e de particulares, num ambiente de taxas de juro favorável”, afirma o Novo Banco.

O banco também ganhou mais 3,8% na cobrança de comissões (215,7 milhões), em parte devido à revisão do preçário de serviços a clientes.

Créditos. Novo diploma “apenas vem codificar o que o banco já deveria fazer de qualquer forma”, diz CEO

O Novo Banco não organizou uma conferência de imprensa para apresentar os resultados aos jornalistas, mas numa teleconferência com analistas Mark Bourke, o presidente-executivo do Novo Banco foi questionado sobre o anúncio feito pelo Governo da nova legislação para as eventuais renegociações de créditos em taxa variável – e deu a entender que, na sua opinião, não traz grandes novidades.

“A nossa apreciação geral é que [a legislação] apenas vem codificar aquilo que deve ser a prática normal no banco“, disse Mark Bourke na conference call com analistas, esta segunda-feira. A legislação está à espera da promulgação por parte do Presidente da República, antes de entrar em vigor, depois, com a publicação em Diário da República.

Por ser uma proposta legislativa “muito recente” – publicamente, ainda houve apenas o anúncio político – Mark Bourke indicou que “ainda estão a ser analisados os patamares e aquilo que podem significar”. Mas, comenta o responsável, “em situações em que as taxas de esforço sobem estes patamares, mais de 30%, 50%, nessas situações já seria normal que isso desencadeasse conversas com os clientes, em circunstâncias normais“, ou seja, sem a nova legislação.

Quem (e como) pode pedir para renegociar o crédito, com o novo diploma criado pelo Governo?

Estes são os primeiros resultados trimestrais divulgados pelo Novo Banco desde que o novo presidente-executivo, Mark Bourke, indicou numa nota interna aos trabalhadores, noticiada pelo jornal Eco, que nos planos futuros está “preparar o banco para um IPO [venda de parte do capital em bolsa], de forma a assegurar um futuro completamente independente”.