Mais de dois mil médicos especialistas em medicina geral e familiar não estão no Serviço Nacional de Saúde, noticia esta segunda-feira o jornal Público citando contas feitas pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).
Segundo o mesmo jornal, bastava que metade deles estivessem nos centros de saúde para que se revertesse a situação dos 1,3 milhões de portugueses sem médico de família.
As estatísticas mais recentes do SNS, com data de outubro, apontam para a existência de 5.575 médicos de família com utentes atribuídos nos centros de saúde. Todavia, segundo a Pordata, havia 8.198 especialistas em medicina geral e familiar em Portugal em 2021.
Mesmo retirando os médicos desta especialidade que estão no SNS em cargos de chefia (e, por isso, sem utentes), o presidente da APMGF, Nuno Jacinto, estima que existam mais de dois mil especialistas fora do SNS.
Atualmente, cerca de 1,3 milhões de portugueses não têm médico de família — uma carência que se resolveria com cerca de mil médicos.
Neste contexto, como lembra também o Público, surgiu recentemente a polémica relativa à criação de Unidades de Saúde Familiar (USF) de modelo C — uma possibilidade que está prevista na lei, mas que nunca foi usada, e que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, admitiu na semana passada.
Atualmente, os cuidados de saúde primários em Portugal não são compostos por centros de saúde iguais em todo território: existem Unidades de Saúde Familiar (USF) e Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), estruturas com modelos de funcionamento diferentes.
Além das atuais USF de modelo A e modelo B, a lei também prevê a possibilidade de unidades de modelo C, um modelo que pode traduzir-se em cooperativas de médicos ou em operadores do setor social e privado.
Esta possibilidade foi admitida pelo ministro da Saúde como ferramenta temporária para fazer frente à carência de médicos de família, mas o Bloco de Esquerda alertou que essa ideia abre a porta uma “privatização” dos cuidados de saúde primários.
O antigo ministro da Saúde António Correia de Campos, o responsável pela criação das USF, disse ao Público que abrir USF de modelo C com privados seria “cuspir na universalidade” que se pretende para o SNS.