Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

De Mem Martins para o Qatar, do Qatar para o Mundo mais de uma década depois. Pedro Miguel Correia, mais conhecido no futebol como Ró Ró, voltou a ser titular no país anfitrião para o primeiro encontro não só da prova mas também dos marrons em fases finais de Mundiais, cumprindo o sonho de estar presente na principal prova de seleções com um trajeto que dificilmente poderia imaginar: passou por infantis e iniciados do Benfica, esteve uns meses no Estreça da Amadora, jogou no Aljustrelense e foi daí, com a ajuda do amigo e ex-avançado Pedro Russiano, que saltou após dois meses de treinos à experiência para o Al Sadd, em 2011. Cinco anos depois, cumprindo os pressupostos e tendo essa vontade, naturalizou-se qatari.

Pagaram para andar escondidos em Marbelha e Málaga mas bastou apanharem um Valencia (a crónica do Qatar-Equador)

Ró Ró até fui um dos raros casos que foram tentando remar contra a maré. Sofreu a primeira falta deste Mundial, cometeu a segunda, foi tentando dar profundidade pela direita, arriscou mesmo subidas à área com um desvio de cabeça a ser a tentativa mais perigosa do Qatar ao longo do jogo. Contas feitas, o Equador foi melhor. E o jogador de 32 anos acabou por admitir que a ansiedade traiu o trabalho da equipa.

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“Não foi o começo que desejávamos nem o jogo que nós queríamos fazer, não correu bem apesar das emoções e de jogarmos em casa no primeiro Mundial. Não nos correu tão bem mas o futebol é assim, aprendemos com os erros. Agora é levantar a cabeça e fazer muito melhor do que fizemos hoje. Havia muita ansiedade, sim. Falo por mim e pelos meus colegas, é o primeiro Mundial e é a primeira vez em casa. Muita emoção, muito nervosismo, as coisas nunca saíram bem nos primeiros 30 minutos. Marcaram os dois golos e depois já foi difícil ir atrás”, começou por explicar o lateral direito na zona mista após o encontro.

“Portugal tem uma excelente equipa, excelentes jogadores. Espero que cheguem à final e que consigam ganhar o Mundial. Apesar de ser qatari, gosto que Portugal faça um bom torneio porque eles merecem. Acho que Portugal vai fazer um grande Mundial. Final de sonho Qatar contra Portugal? Sim, sim, eu pelo menos continuo a pensar assim porque ainda podemos ganhar os próximos dois jogos sabendo que são sempre muito complicados. O futebol é assim, se continuarmos a trabalhar e se fizermos melhor do que hoje acho que podemos seguir com mais três pontos”, referiu, antes de falar da simbologia do dia do arranque.

Pedro Correia, ou Ró-Ró, o defesa nascido em Mem-Martins que joga pelo Qatar

“Foi um dia muito especial para mim porque vim para cá muito cedo, jogar o Mundial é o sonho de qualquer jogador e também vi o país a crescer, quando cheguei o Qatar não era o país eleito para organizar o evento. Quando aconteceu tive a oportunidade de vir para a seleção e representar o país. Estou muito feliz por representar o Qatar e ver o país a organizar o Mundial, espero que continuem assim. Acho que vai ser um dos melhores Mundiais de sempre porque estão a fazer tudo por isso”, voltou a reforçar.

– E fica triste por ver todas as notícias negativas que foram saindo?
– Oh, as pessoas gostam de falar… Quem vive aqui é que sabe…

“Todas as pessoas gostam de julgar, vamos fazer o quê? Uns julgam, outros não julgam. Têm de viver aqui para saber o que é que se passa aqui, julgar é muito fácil mas também não vou falar mais sobre isso… Se é um Mundial importante para reverter isso? Toda a gente vai sentir isso e depois do Mundial vamos falar porque as pessoas vão passar a ter a resposta certa”, concluiu o lateral direito.