Durante vários minutos, na tribuna de honra do estádio Khalifa International Stadium, a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, deixou à vista de todos o braço com a braçadeira arco-íris e a inscrição “One Love” (Um amor, em português) que a FIFA procurou banir dos relvados do Campeonato do Mundo do Qatar, país onde a homossexualidade é crime.
A decisão de Faeser não surpreende – na terça-feira tinha mesmo dito que considerava que “proibir uma mensagem de amor é um grande erro da FIFA” – mas ganha ainda mais relevância pelo facto de a governante alemã ter estado sentada ao lado de Gianni Infatino, o presidente do organismo que tutela o futebol mundial, com o símbolo de apoio à comunidade LGBTQIA+ à vista. O líder máximo da FIFA também assistiu ao protesto da equipa alemã, cujos jogadores taparam a boca na altura em que tiraram a fotografia de equipa.
Foi já na segunda-feira, segundo dia do Campeonato do Mundo, que as federações de sete países – Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e Suíça – revelar que a FIFA iria “impor sanções desportivas” se os capitães usassem as braçadeiras em campo. Para demonstrar alguma abertura, o organismo antecipou a campanha “Não à discriminação” para os capitães das 32 equipas poderem usar uma braçadeira com uma declaração com uma mensagem pelos direitos humanos.
Protestos em dinamarquês e inglês
A decisão da FIFA não diminui os protestos, mesmo que tenha evitado que o “arco-íris” entre em campo. Na terça-feira, em outra tomada de posição no feminino, a antiga primeira-ministra da Dinamarca Helle Thorning-Schmidt assistiu ao jogo entre a seleção do seu país e a Tunísia com as cores do arco-íris nos braços.
Former Danish Prime-Minister Helle Thorning Schmidt sticking it to #Qatar and #FIFA, by wearing rainbow colors upon arrival at the stadium in Qatar. pic.twitter.com/OdgnmjebWl
— Frank I Am ???? (@_frankiam) November 22, 2022
“É uma situação muito triste. A Federação [dinamarquesa] lutou desde o primeiro dia para que algo fosse feito na FIFA”, declarou citada pela imprensa dinamarquesa. “Fico feliz pelas sete federações que trabalharam juntas nisto, mas talvez seja a hora de jogar futebol, o que não significa que estejamos a desistir da luta pelos direitos LGBT. Vale a pena lembrar que apenas sete dos 221 países membros da FIFA acharam isto uma boa ideia”, acrescentou.
Na segunda-feira, e apesar de a seleção britânica ter optado por não usar a braçadeira, a comentadora desportiva da BBC Alex Scott – ela própria ex-internacional inglesa – tomou uma posição. A antiga futebolista colocou a braçadeira no seu braço e foi com ela posta que esteve no relvado do Khalifa International Stadium a fazer a antevisão do jogo de estreia da Inglaterra no Mundial, frente ao Irão.
Alex Scott, antiga internacional inglesa e comentadora na BBC, no relvado do estádio do Irão – Inglaterra com a braçadeira arco-íris que foi proibida pela FIFA. pic.twitter.com/q3omDF0fhf
— Pedro Barata (@pbarata95) November 21, 2022
Scott não fez menção ao uso da braçadeira durante a cobertura televisiva antes do jogo, como a jornalista Kelly Somers fez questão de realçar. A mensagem revestiu-se de especial importância já que a antiga internacional revelou, numa autobiografia recentemente lançada, que manteve uma relação de quase uma década com a colega de seleção Kelly Smith.