É mais uma demissão nas equipas das urgências. Desta vez, foi nos Açores, em Ponta Delgada. A notícia foi avançada pela SIC Notícias e confirmada pelo Observador. Os chefes de equipa da urgência do Hospital do Divino Espírito Santo apresentaram a demissão nesta quarta-feira. O motivo prende-se com a falta de meios humanos para cumprir os valores mínimos das escalas do próximo mês. No entanto, nos Açores, o mal-estar entre os clínicos arrastava-se desde meados de novembro, na sequência de declarações do vice-presidente do Governo dos Açores, Artur Lima (CDS), sobre pagamento de horas extra.

Na altura, o número dois do governo regional disse que os médicos “não podem usar o dinheiro como moeda de troca para dispensar” a prestação de cuidados. A resposta dos profissionais de saúde chegou em forma de abaixo assinado: médicos dos três hospitais públicos do arquipélago manifestaram a sua indisponibilidade para realizar horas extraordinárias além do limite legal das 150 horas.

No continente, na terça-feira passada, tinham sido os chefes e subchefes das equipas do serviço de urgência do Hospital Amadora Sintra a apresentarem a carta de demissão. Na véspera, o mesmo acontecia em Almada, no Hospital Garcia de Orta. Escalas de dezembro “abaixo dos mínimos” foi a justificação apresentada em todos os casos.

“Vai haver mais demissões”, diz ao Observador o bastonário da Ordem dos Médicos. Com a falta de recursos humanos, os chefes das equipas não conseguem garantir que os doentes são atendidos em condições “e protegem-se”, acrescenta Miguel Guimarães. “Isto não quer dizer que não fiquem nas urgências a tratar dos doentes. Quer dizer é que não podem ser responsabilizados pelo que possa acontecer a um doente por falhas nas equipas”, esclarece o bastonário. E essas falhas, garante, não são pequenas.

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Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos, fala mesmo em atitude cínica da parte das administrações hospitalares. “Os chefes das equipas demitem-se, mas as administrações não os substituem. E, mesmo demissionários, acabam por ficar por ali.” Foi isso que aconteceu, refere, quando equipas de clínicos se demitiram, há vários meses, no Hospital São Francisco Xavier, no Santa Maria (Lisboa) ou no Hospital de São José.

Manuel Pizarro desvaloriza e diz que problemas são “crónicos”

Na manhã de quarta-feira, no Parlamento, o ministro da Saúde desvalorizou as demissões dos últimos dias e considerou que os problemas nas urgências, além de “crónicos”, estão localizados a “três ou quatro unidades” perfeitamente identificadas.

Na opinião do bastonário dos Médicos estes problemas não devem ser minimizados. “Não podemos desvalorizar o facto de não conseguirmos dar cuidados de qualidade aos doentes”, disse Miguel Guimarães ao Observador.

Também Roque da Cunha, presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), deixa um alerta ao governante: as declarações do ministro Manuel Pizarro podem ter um efeito contrário ao desejado.

“A decisão de apresentar um pedido de demissão é individual e, na maioria dos casos, os chefes de equipa preferem não assinar um papel e tornar públicas estas situações”, defende o sindicalista. Ao desvalorizar “tudo”, o ministro da Saúde corre, na opinião de Roque da Cunha, o risco de estar “a incentivar mais chefes de equipa a tornarem públicos os problemas que enfrentam” nos hospitais. “Não tenho dúvidas de que estes problemas existem na maioria, na generalidade, dos hospitais.”