Jiang Zemin, antigo Presidente chinês, morreu esta quarta-feira, avançou a agência de notícias estatal Xinhua. Zemin tinha 96 anos e lutava contra uma leucemia. De acordo com a agência, o antigo Presidente da China morreu às 12:13 em Xangai, hora local, 4:13 em Lisboa.

O político chinês assumiu as rédeas da China na sequência do massacre da Praça Tiananmen, em 1989, e liderou o gigante asiático durante uma década de franca expansão económica.

“A morte do camarada Jiang Zemin é uma perda incalculável para o nosso partido, para os nossos militares e para as pessoas de todos os grupos étnicos”, era possível ler no anúncio da morte do antigo líder chinês, citado pela agência estatal. A notícia da morte de Zemin é dada pelas instituições oficiais com “profunda dor”.

Zemin é descrito neste comunicado como um líder notável e de “elevado prestígio, um grande marxista, um estadista, estratega militar e diplomata”, cita a agência Reuters. 

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Jiang Zemin, um antigo gerente de uma fábrica de sabão, foi nomeado secretário-geral do Partido Comunista em junho de 1989, uma escolha vista na altura como inusitada para liderar o partido após os protestos estudantis que marcaram esse ano e levaram ao massacre na Praça Tiananmen. Ainda nos anos 50, trabalhou na Stalin Automobile Works, em Moscovo, e passou um ano como diplomata na Roménia.

Foi presidente da China ao longo de dez anos, entre 1993 e 2003, e tornou-se no principal rosto da abertura chinesa aos mercados globais. Foi sob a batuta de Zemin que a China conquistou força e emergiu como um dos nomes mais relevantes no mercado industrial e uma rival aos mercados desenvolvidos.

A abertura da China aos mercados globais é vista como o principal legado deste antigo Presidente, que era conhecido pelos gostos particulares, ainda mais para um estadista chinês. O perfil do New York Times retrata Zemin como um comunista que, aos olhos dos políticos estrangeiros, era visto como algo fora do molde. Afinal, citava Lincoln, assumia publicamente o seu gosto pelos produtos da indústria cinematográfica do rival EUA, e em 1997 até foi notícia por cantar “Love Me Tender” durante um jantar numa visita oficial às Filipinas.

Os episódios de canções em público de Jiang Zemin, com temas clássicos que aprendeu durante a estadia na Roménia, eram uma carta que tirava com frequência da manga para galantear figuras políticas relevantes dos anos 90. Os episódios tornaram-se, aliás, conhecidos internacionalmente: a Time recorda que, durante uma visita ao Reino Unido, o líder chinês até tentou que a Rainha Isabel II cantasse num karaoke.

Além do crescimento económico, o legado de Jiang Zemin fica marcado por outros dois momentos históricos que simbolizam o fim do colonialismo europeu naquele ponto do globo. Primeiro, com a passagem de Hong Kong das mãos do Reino Unido para a China, em 1997, ao lado do então Príncipe Carlos, agora Rei Carlos III. Dois anos mais tarde, também marcou presença na cerimónia de transferência da soberania de Macau de Portugal para a República Popular da China, a 20 de dezembro de 1999.

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Em 1997, ao lado do então Príncipe de Gales, na cerimónia de entrega da soberania de Hong Kong

Em 2001, conseguiu mais uma proeza, após longas negociações, especialmente com os Estados Unidos — a entrada da China na Organização Mundial do Comércio.

Apesar da saída da presidência chinesa em 2003, continuou a ter influência política. Nos bastidores, escreve o New York Times, até terá participado nas conversas de bastidores para escolher o atual Presidente chinês Xi Jinping.

As relações nem sempre fáceis com os Estados Unidos

O trabalho nas relações entre a China e os Estados Unidos são descritos por vários analistas como uma prioridade do mandato de Jiang Zemin. Ainda assim, os primeiros anos, principalmente após o massacre de 1989, ficaram marcados pela turbulência nas relações. Mas Jiang, visto internacionalmente como um líder pragmático, estava convencido de que não era possível à China prosperar durante muito tempo se estivesse sempre no papel de adversária dos Estados Unidos.

“Dava forte primazia às relações com os Estados Unidos e acho que correu alguns riscos no avanço da relação”, partilhou Christopher K. Johnson, analista político que trabalhava como analista para a CIA nos anos 90, ao New York Times. “Sabia como desligar o interruptor anti-Estados Unidos quando era preciso”.

Prova desse trabalho nas relações com Washington foram as várias visitas de Estado que fez aos Estados Unidos durante a década em que liderou a China. Na sequência dos ataques às Torres Gémeas do 11 de setembro até ofereceu ajuda e cooperação na “guerra contra o terror” ao então Presidente George W. Bush.

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