O aeroporto de Rzeszow era, até há bem pouco tempo, um mero foco de voos comerciais, explorado sobretudo por companhias como a Ryanair e a polaca LOT Polish Airlines. A poucos quilómetros de centro da cidade do mesmo nome, o aeroporto servia sobretudo os interesses turísticos de uma localidade que, nos últimos anos, se tornou um importante foco de turismo regional para o país de Leste.

Tudo mudou, no entanto, a 24 de fevereiro, com a invasão russa da Ucrânia, o mundo mudou e reconfigurou prioridades a todos os níveis — incluindo no aeroporto de Rzeszow, que se tornou um dos mais importantes pontos de apoio no esforço de guerra na Ucrânia.

Milhares de voos têm chegado nos últimos meses a Rzeszow, transportando ajuda humanitária e armamento destinado a apoiar a Ucrânia, mas também refugiados que procuram fugir da destruição provocada pela guerra.

“Simplesmente estávamos (e estamos) a cumprir com o nosso trabalho. A nossa proximidade com a fronteira operacional da NATO basicamente obriga-nos a isso”, explicou ao jornal espanhol El Confidencial o porta-voz do aeroporto, Waldemar Mazgaj. “Todos temos estado à altura das circunstâncias para lidar com o enorme aumento de tráfego. Desde os empregados do aeroporto aos controladores aéreos, de logística… Todos têm contribuído para este esforço sem precedentes.”

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Os responsáveis do aeroporto não revelam dados concretos sobre o conteúdo transportado pelos aviões — informações que são, naturalmente, confidenciais. Ainda antes da guerra, veículos não identificados, mas cuja natureza militar se deixava adivinhar, começaram a circular, apanhando de surpresa os próprios funcionários do aeroporto. “Ao início, foi surpreendente ver tantos militares, e até baterias de mísseis e outro armamento que deixavam a descoberto. Agora são mais cuidados, mas continuamos a ver vários camiões a sair em direção à fronteira”, conta um trabalhador do aeroporto de Rzeszow.

A ajuda vai para lá do aeroporto, estendendo-se até à própria cidade. O governo de Volodymyr Zelensky já reconheceu a Rzeszow o estatuto de “cidade-refúgio”, pelo “incrível apoio” que aquela infraestrutura tem dado aos cidadãos ucranianos que fugiram desde o início da invasão. Trata-se da primeira cidade a receber esse reconhecimento.

O orgulho da população local é notório e importante, numa altura em que o sentimento de solidariedade para com os refugiados ucranianos começa a dar sinais de enfraquecimento, pelo menos na Europa de Leste. Na Chéquia, por exemplo, manifestações recentes juntaram em Praga cerca de 100 mil pessoas sob o lema “Chéquia Primeiro”, um movimento que visava “acabar com a diluição da população” — ou seja, os manifestantes defendiam que se fechasse a porta a refugiados de guerra oriundos da Ucrânia. Mesmo na Polónia, sondagens recentes indicam que cerca de 69% da população vê com bons olhos a chegada de cidadãos ucranianos ao país.

Milhares de pessoas protestam em Praga contra política de proteção à Ucrânia

É um problema que pode vir a acentuar-se nos próximos meses, com a chegada do inverno a ameaçar a sobrevivência de uma população que, a braços com falhas nas redes de energia, não se consegue manter quente nos meses mais frios. Neste contexto, a ajuda humanitária (geradores de energia, materiais térmicos, etc.) vinda do Ocidente e que passa sobretudo por Rzeszow é fundamental.

Ainda assim, prevê-se que tal não chegue para contrariar por completo mais uma vaga migratória. Agnieszka Ścigaj, membro do Conselho de Ministros polaco, afirmou que “os políticos ucranianos estão a fazer tudo o que está ao alcance para assegurar que as migrações ocorrem internamente [das zonas mais afetadas pela guerra para outras menos afetadas]“. Apesar disso, espera-se um aumento no fluxo na fronteira.

Perante este cenário, alguns refugiados já temem que o apoio vindo da Polónia e de populações como a de Rzeszow possa vir a dissipar-se. Todavia, a acreditar nas palavras de habitantes locais como Michal, esse cenário não está em causa. “Na Chéquia, vemos que estão a cansar-se dos ucranianos. Só nós continuamos a ajudar“.