O aeroporto de Rzeszow era, até há bem pouco tempo, um mero foco de voos comerciais, explorado sobretudo por companhias como a Ryanair e a polaca LOT Polish Airlines. A poucos quilómetros de centro da cidade do mesmo nome, o aeroporto servia sobretudo os interesses turísticos de uma localidade que, nos últimos anos, se tornou um importante foco de turismo regional para o país de Leste.
Tudo mudou, no entanto, a 24 de fevereiro, com a invasão russa da Ucrânia, o mundo mudou e reconfigurou prioridades a todos os níveis — incluindo no aeroporto de Rzeszow, que se tornou um dos mais importantes pontos de apoio no esforço de guerra na Ucrânia.
Milhares de voos têm chegado nos últimos meses a Rzeszow, transportando ajuda humanitária e armamento destinado a apoiar a Ucrânia, mas também refugiados que procuram fugir da destruição provocada pela guerra.
When the war is over, the Rzeszów airport must be added to UNESCO World Heritage Sites pic.twitter.com/svcc7DR4nk
— Karol Gotfryd, ticking you off (@GotfrydKarol) November 4, 2022
“Simplesmente estávamos (e estamos) a cumprir com o nosso trabalho. A nossa proximidade com a fronteira operacional da NATO basicamente obriga-nos a isso”, explicou ao jornal espanhol El Confidencial o porta-voz do aeroporto, Waldemar Mazgaj. “Todos temos estado à altura das circunstâncias para lidar com o enorme aumento de tráfego. Desde os empregados do aeroporto aos controladores aéreos, de logística… Todos têm contribuído para este esforço sem precedentes.”
Os responsáveis do aeroporto não revelam dados concretos sobre o conteúdo transportado pelos aviões — informações que são, naturalmente, confidenciais. Ainda antes da guerra, veículos não identificados, mas cuja natureza militar se deixava adivinhar, começaram a circular, apanhando de surpresa os próprios funcionários do aeroporto. “Ao início, foi surpreendente ver tantos militares, e até baterias de mísseis e outro armamento que deixavam a descoberto. Agora são mais cuidados, mas continuamos a ver vários camiões a sair em direção à fronteira”, conta um trabalhador do aeroporto de Rzeszow.
A ajuda vai para lá do aeroporto, estendendo-se até à própria cidade. O governo de Volodymyr Zelensky já reconheceu a Rzeszow o estatuto de “cidade-refúgio”, pelo “incrível apoio” que aquela infraestrutura tem dado aos cidadãos ucranianos que fugiram desde o início da invasão. Trata-se da primeira cidade a receber esse reconhecimento.
O orgulho da população local é notório e importante, numa altura em que o sentimento de solidariedade para com os refugiados ucranianos começa a dar sinais de enfraquecimento, pelo menos na Europa de Leste. Na Chéquia, por exemplo, manifestações recentes juntaram em Praga cerca de 100 mil pessoas sob o lema “Chéquia Primeiro”, um movimento que visava “acabar com a diluição da população” — ou seja, os manifestantes defendiam que se fechasse a porta a refugiados de guerra oriundos da Ucrânia. Mesmo na Polónia, sondagens recentes indicam que cerca de 69% da população vê com bons olhos a chegada de cidadãos ucranianos ao país.
Milhares de pessoas protestam em Praga contra política de proteção à Ucrânia
É um problema que pode vir a acentuar-se nos próximos meses, com a chegada do inverno a ameaçar a sobrevivência de uma população que, a braços com falhas nas redes de energia, não se consegue manter quente nos meses mais frios. Neste contexto, a ajuda humanitária (geradores de energia, materiais térmicos, etc.) vinda do Ocidente e que passa sobretudo por Rzeszow é fundamental.
Ainda assim, prevê-se que tal não chegue para contrariar por completo mais uma vaga migratória. Agnieszka Ścigaj, membro do Conselho de Ministros polaco, afirmou que “os políticos ucranianos estão a fazer tudo o que está ao alcance para assegurar que as migrações ocorrem internamente [das zonas mais afetadas pela guerra para outras menos afetadas]“. Apesar disso, espera-se um aumento no fluxo na fronteira.
Perante este cenário, alguns refugiados já temem que o apoio vindo da Polónia e de populações como a de Rzeszow possa vir a dissipar-se. Todavia, a acreditar nas palavras de habitantes locais como Michal, esse cenário não está em causa. “Na Chéquia, vemos que estão a cansar-se dos ucranianos. Só nós continuamos a ajudar“.