Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

Um texto do El País publicado esta quarta-feira sobre a situação de Cristiano Ronaldo funcionava como um exemplo paradigmático da inversão de papéis que toda a novela acabou por promover naquele que é sempre o ator principal. Ora, segundo a publicação, “o balneário de Portugal prefere Gonçalo Ramos a Cristiano”. Quem? Bruno Fernandes, Bernardo Silva e até o primeiro-ministro do país, António Costa. A informação vem de dentro? Não, apenas das declarações proferidas da zona mista. E o que disseram? Bruno Fernandes elogiou o capitão admitindo que ficar no banco é tão complicado para ele como seria com um jogador de 18 anos porque ninguém gosta mas nunca entrando em comparações. Bernardo Silva fez uma análise um pouco mais tática, explicando os pontos fortes de ambos e destacando a grande noite do mais novo. António Costa não podia ter sido mais político na resposta – no futebol e na engenharia, o selecionador é que sabe.

No fundo, é mais perceção do que outra coisa, algo que se conseguiu também perceber pelas declarações de José Fonte, campeão europeu pela Seleção em 2016, no podcast diário da BBC. “Portugal tem qualidade para fazer isto em todos os jogos mas temos de ser honestos: só a presença dele em campo faz com que inconsciente e automaticamente os jogadores da Seleção tenham de jogar para ele, dar-lhe sempre a bola. Por ser quem é, pelo que fez e o que ainda é capaz de fazer. Quando ele não está, Portugal joga mais em equipa e isso viu-se: jogaram de forma fluida, sem um único ponto focal, todos contribuíram e foi lindo de ver. Tivemos sucesso com Cristiano Ronaldo ao longo destes anos, foi muito influente. Gonçalo Ramos oferece uma proposta de jogo diferente e teve uma noite perfeita. Não se ensina uma lenda como Ronaldo. Ronaldo será sempre Ronaldo e para Portugal até é muito positivo ter um jogador como ele a sair do banco, será mais um problema a causar aos adversários”, referiu o experiente central do Lille.

Foi dentro deste contexto também que a imprensa espanhola avançou esta quarta-feira que Ronaldo teria recusado integrar o treino dos suplentes utilizados ou não utilizados após o encontro com a Suíça, em mais um caso para Fernando Santos gerir no plano interno. Fonte da Federação recusou esse cenário, explicando que a seguir aos jogos o capitão faz quase sempre trabalho de ginásio e que foi isso aconteceu.

Ainda assim, não houve qualquer comunicado ou desmentido oficial dessas informações. 24 horas depois, e perante mais um caso a envolver o número 7, a medida mudou e a Federação emitiu mesmo uma nota a desmentir a informação de que Ronaldo teria ameaçado abandonar a concentração quando soube que não seria titular no jogo dos oitavos com a Suíça, numa alegada conversa mais acalorada com Santos que depois viria a acalmar o tom, com o jogador a mudar de ideias mesmo perante essa condição de suplente. O choque terá acontecido antes do último treino e essa ameaça de cabeça mais quente durou pouco tempo.

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“Uma notícia divulgada esta quinta-feira dá conta que Cristiano Ronaldo ameaçou deixar a Seleção durante uma conversa com Fernando Santos, selecionador nacional. A FPF esclarece que em momento algum o capitão da Seleção Nacional, Cristiano Ronaldo, ameaçou deixar a equipa nacional durante o estágio no Catar. Cristiano Ronaldo constrói a cada dia um historial ímpar ao serviço da equipa nacional e do País que tem de ser respeitado e que atesta o inquestionável grau de compromisso com a Seleção”, começa por dizer o comunicado emitido no site oficial da Federação Portuguesa de Futebol.

“Um grupo demasiado unido para ser quebrado por forças externas. Uma nação demasiado corajosa para se deixar atemorizar perante qualquer adversário. Uma equipa no verdadeiro sentido da palavra, que vai lutar pelo sonho até ao fim! Acreditem connosco! Força, Portugal!”, escreveu Ronaldo minutos antes da habitual conferência de imprensa de um jogador da Seleção, neste caso Otávio (que também destacou que nunca viu qualquer discussão e que sempre sentiu o capitão ligado ao grupo).

“Aliás, o grau de entrega do jogador mais vezes internacional por Portugal ficou novamente demonstrado – se necessário fosse – na vitória frente à Suíça, nos oitavos de final do Mundial 2022. A Seleção Nacional – jogadores, treinadores e estrutura FPF – encontra-se, como desde o primeiro dia, totalmente empenhada e entusiasmada na construção daquela que o País deseja que seja a melhor participação de sempre de Portugal num Campeonato do Mundo”, concluiu o mesmo comunicado emitido esta manhã.

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