Março de 2020 estava a chegar ao fim quando, durante uma conversa na rede social Instagram, o avançado do Real Madrid Karim Benzema atirou a crítica mordaz. Questionado pelo humorista francês Thomas Ngijol sobre Olivier Giroud, seu colega na seleção de França, nem pensou: “A essa respondo rápido. Não se confunde a Fórmula 1 com o karting, e estou a ser simpático. Próxima…”. Para que não ficassem dúvidas, ainda acrescentou como esclarecimento: “Eu sou o F1.”

A frase do agora Bola de Ouro é uma das mais duras mas está longe de ser a única crítica ao mal amado dos “les bleus”. Incluindo de colegas de profissão, como já se viu. Em 2015, por exemplo, foi alvo de um outro comentário pouco abonatório – ainda que mais discreto – feito por Thierry Henry. Numa altura em que se falava na necessidade de reforços pelo Arsenal, clube no qual Titi foi ídolo máximo, a resposta foi esclarecedora: o Arsenal devia investir num “goleador de alta qualidade” caso quisesse voltar a ganhar a Premier League. Ou seja, Giroud não chegava.

Em 2015, o avançado disse estar “tudo bem”, mas querer ter uma “conversa de homem para homem” com Henry. Agora, sete anos depois, surgiu uma resposta ao melhor nível. No passado dia 22, o agora jogador do AC Milan inaugurou o marcador no jogo frente à Polónia e entrou na história do futebol francês ao tornar-se o melhor marcador dos “les bleus”. Com 52 golos, e aos 36 anos, ultrapassou o próprio Henry.

O Campeonato do Mundo de 2022 está a ser uma espécie de redenção para o jogador do AC Milan, que já marcou 4 vezes no Qatar. Este sábado, foi mesmo o autor do golo da vitória de França frente a Inglaterra, que apurou a sua equipa para as “meias” da competição, onde irá defrontar Marrocos. Convocado para a seleção francesa desde 2011, este é o terceiro Mundial que disputa. Em 2014, marcou frente à Suíça, na vitória por 5-2. Mas foi o torneio de seleções na Rússia, quatro anos depois, que o colocou como alvo de comentários jocosos do mundo do futebol. Titular da equipa que se sagrou campeã do Mundo esse ano, Giroud não marcou nenhum golo durante a competição e passou a ser comparado com Stéphane Guivarc’h, campeão 20 anos antes pelos “les bleus” e também ser marcado nenhum golo em sete jogos.

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A verdade é que os números demonstram um jogador de maior qualidade e importância do que as críticas deixam transparecer. Giroud brilhou no Montpellier de 2011/2012, marcando 24 golos e sendo a figura central na conquista do título francês, o único na história do clube. Foi assim que despertou a atenção do Arsenal, então treinador pelo também francês Arsène Wenger.

Durante cinco anos e meio nos gunners, marcou 105 golos e ganhou três Taças de Inglaterra e três Supertaças. Mas nunca foi verdadeiramente amado pelos adeptos arsenalistas. Em janeiro de 2018, transferiu-se para o Chelsea, onde não conseguiu ser campeão inglês mas conquistou uma Liga dos Campeões, uma Liga Europa e (mais) uma Taça de Inglaterra. Nos azuis de Londres marcou 39 golos.

O destino seguinte foi Itália, onde conseguiu ajudar o AC Milan a tornar-se campeão 11 de seca depois. Em 55 jogos, tem 22 golos marcados. Números estes que terão ajudado Didier Deschamps a colocar o avançado na lista de convocados para o Mundial – um mês antes não era ainda assim certo que integrasse o lote de escolhidos.

Como a vida – ainda mais no futebol – dá muitas voltas, Giroud tem beneficiado da lesão que afastou Benzema do Qatar e lhe permite jogar mais minutos e ser um elemento preponderante na seleção francesa. Em 2020, respondeu às críticas do avançado do Real Madrid, de forma igualmente contundente e ironizando com o facto de este nunca ter ganho uma grande competição pelos “les blues”: “Sou um kart, mas tenho um Campeonato do Mundo”. Será que vai a caminho do segundo e, com os golos que tem marcado, deixa de ser o mal amado?

*Artigo atualizado às 21h10 de 10 de dezembro com informação de mais um golo de Giroud no Mundial