Quando Fernando Santos se encontrou com Fernando Gomes na passada terça-feira, na Cidade do Futebol, não havia nenhuma dúvida: o ciclo tinha chegado ao fim. E foi isso que explicou ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol, com mais argumentos ainda do que aqueles que à partida se pensava. No entanto, e após ouvir todas as explicações do selecionador, a ideia do líder federativo continuava igual à que tinha antes do Campeonato do Mundo: cumprir o contrato de 2024, que coincidia com o seu fim de mandado, e lançar as bases do novo ciclo que estava a começar tendo em vista o próximo Europeu. Tentou, não conseguiu. E as últimas 48 horas serviram para fechar os pormenores da rescisão e procurar caminhos para a sucessão.
A questão da revogação do vínculo que tinha ainda mais dois anos de duração, a partir do momento em que ficou assente de que seria essa a decisão, foi feita de forma amigável e muito longe dos valores de quatro a sete milhões de euros que chegaram a ser ventilados pela imprensa. Neste caso, aquilo que levou a um maior tempo de demora teve a ver o facto de haver um contrato com uma das empresas do selecionador, a Femacosa (num caso que levantou polémica e que “ajudou” também na decisão de Santos considerar que tinha chegado ao fim um ciclo), sendo que era a partir dessa ligação que eram pagos também os adjuntos do técnico. Tudo isso está agora devidamente acertado para evitar qualquer tipo de dúvida ou problema.
Como o Observador tinha explicado após a eliminação de Portugal no Campeonato do Mundo do Qatar, com uma derrota pela margem mínima frente a Marrocos nos quartos, Fernando Santos sentiu que já existia um desgaste grande como selecionador mas juntava a isso vários outros pontos que foram acontecendo nos últimos meses, entre os problemas com o Fisco onde sempre se considerou alvo de uma injustiça (algo que continua a pensar e manifestar), a situação com Cristiano Ronaldo depois de ter deixado o avançado no banco nos dois últimos encontros do Mundial e a própria relação com parte do grupo de trabalho eleito para a competição. Em paralelo com isso, o técnico ficou desagradado com algumas situações que se passaram no Qatar, como por exemplo a conferência em que defendeu que o capitão não tinha feito qualquer gesto para si ou para o banco na altura em que foi substituído no encontro da fase de grupos com a Coreia do Sul.
Quer isto dizer que a maioria dos jogadores da Seleção pretendiam a sua saída? Não. Alguns jogadores, com Cristiano Ronaldo à cabeça, não gostaram de algumas opções tomadas no Mundial e alteraram a relação com o técnico; outros, como Rui Patrício, até podem considerar que poderiam ter outra utilização no Qatar (no caso no jogo frente à Coreia do Sul) mas separam isso de tudo o resto; um largo grupo entende que não foi por Fernando Santos que a equipa não fez mais no Campeonato do Mundo e até ficou impressionado pela forma como lidou com o caso do capitão após o que se passou com os sul-coreanos, esperando apenas a decisão da Federação em relação à sua continuidade ou não e ao seu sucessor. Em resumo, poderia ser um técnico com as suas lacunas mas, além dos títulos inéditos que ganhou, tinha condições para lançar uma nova era onde fica apenas por conhecer o papel que Ronaldo terá ou não no grupo de trabalho.
Em paralelo, perante a necessidade de encontrar um novo técnico para liderar a Seleção principal, Fernando Gomes foi começando a reunir várias opiniões para avançar com uma solução (até porque, com a saída de Tiago Craveiro da FPF, os centros de decisão também mudaram). Para já, é praticamente garantido que o sucessor será conhecido apenas em 2023 e não está colocada de parte a possibilidade de haver um comando interino nos dois primeiros encontros do ano, a contar para a qualificação para o Europeu de 2024 (Liechtenstein em casa, Luxemburgo fora). Essa ideia é tida, também, para tentar chegar à opção número 1.
Entre vários nomes que foram tidos em consideração, não só portugueses mas também estrangeiros (algo que não era bem visto por alguns responsáveis da Federação, tendo em conta o sucesso que os treinadores nacionais têm conseguido no plano interno e internacional), José Mourinho é aquele que mais agrada nesta fase a Fernando Gomes. No entanto, perante uma época que está em curso com a Roma na luta por vários objetivos na Serie A, na Taça de Itália e na Europa e a impossibilidade de haver uma solução cada vez mais fora do comum de acumulação de clube e seleção, a hipótese só seria válida a partir de junho.
Segundo sabe o Observador, esse cenário de acumular cargos ainda chegou a ser equacionado numa primeira abordagem ao técnico do conjunto transalpino, que sempre manifestou publicamente o desejo de um dia chegar à Seleção Nacional, mas depressa caiu por terra por entendimento de todas as partes envolvidas. Ainda assim, e mesmo que Mourinho aceitasse rumar a Portugal no final da presente temporada, teria de haver um acordo com a Roma, com quem assinou um contrato de três anos válido até junho de 2024. É nesse ponto que está o comando dos dois primeiros encontros de qualificação para o Euro-2024: se José Mourinho aceitar, Rui Jorge ou outro quadro da FPF podem assumir; se recusar, aí volta tudo à estaca zero. E Rui Jorge, selecionador dos Sub-21, ganha outra força para assumir em definitivo a equipa A. Abel Ferreira ou Paulo Sousa foram outros dos nomes já ponderados caso as outras opções caiam.