“Estamos sempre a fazer peças novas, peças novas…” Ao longo de quase 40 anos de Sá, Aranha & Vasconcelos serão já milhares, conta Carmo Aranha, uma das sócias fundadoras do  estúdio de arquitetura e design de interiores. Habitualmente, fazem apenas aquilo a que chamam de “projetos fechados”, ou seja criam ambientes completos para empresas ou clientes particulares e isto inclui a criação de peças exclusivas que rumam depois para um arquivo que já vai longo. Agora algumas destas peças terão também morada numa nova loja online, com a qual a empresa quer partilhar as suas criações com novos clientes e apresentam-nas como 100% nacionais.

A Sá, Aranha & Vasconcelos foi fundada em 1985 por Carmo Aranha e Rosário Tello e tem morada no número 45 da rua do Vale Formoso, em Marvila (Lisboa), desde 2009. O Observador visitou o grande espaço que ambas descrevem como “a nossa casa” e onde cabe todo um universo. Há um armazém, escritórios, ateliers e um showroom que pode ser visitado, segundo marcação. Ali trabalha uma equipa de quase 30 pessoas com idades entre os vintes e os sessentas. Rosário assume-se como a mais velha da equipa e destaca a importância da escala do edifício: “Eu tenho 1m54, tudo o que é grande me fascina”. Acrescenta ainda: “Este espaço permite-nos alguma loucura e algum sentido de humor”. Pelo showroom é possível ver uma série de peças com uma etiqueta amarela. Significa que se destinam à loja online, um projeto que ficou, carinhosamente, apelidado de “Yellow” (amarelo). À conversa com as fundadoras, desafiámo-las a destacarem cinco peças da deste novo projeto, enquanto contavam a sua história.

A loja online abriu no final de outubro com o objetivo de valorizar o espólio da empresa e alinhar também com a tendência atual das compras online. Querem fazer chegar as suas peças a clientes novos e a criação de um espaço online era um movimento que estavam a fazer lentamente, a Covid-19 foi o empurrão que tornou o projeto realidade. “A pandemia catapultou toda a sociedade, o mundo inteiro, não foi só Portugal, para uma outra forma das pessoas conseguirem estar juntas, estando fisicamente separadas”, diz Rosário Tello.

O sofá Timeless em exposição no showroom da Sá, Aranha & Vasconcelos, entre os 4500 e 5380 euros, na loja online. D.R.

“Quando o projeto aparece inicialmente, começa com uma conversa com a minha filha Francisca, foi ela quem no fundo o montou”, explica Carmo Aranha. “Para fazer isto precisamos de sangue novo”, pensaram, e os membros da equipa na altura já estavam todos alocados aos projetos do dia a dia, por isso levou à criação uma nova equipa.

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Começaram por definir um total de 12 peças para começar a nova loja online, porque queriam começar lentamente, mas de repente, já tinham ultrapassado as quarenta. “Porque quando se faz o sofá precisa-se da mesa, quando se faz a mesa precisa-se do candeeiro… para rematar qualquer coisa que seja um ambiente.”

Sobre a seleção das peças quem fala é Rosário Tello e tudo começou com um sofá. “Os sofás eram uma questão importante e criámos esta situação modelar.” Este sofá foi criado para ser intemporal e é como um jogo de módulos que pode ser montado em diferentes combinações. Há mobiliário de design, mas também objetos lifestyle. Quiseram também dar um serviço de excelência ao cliente que compra online. Têm um serviço de “luvas brancas”. Ou seja, há uma equipa que entrega as peças, monta e no final traz o lixo, tudo a usar luvas brancas.

Mesas em Travertino, entre 940 e 970 euros. D.R.

Não podiam faltar também as mesas de apoio. Como as mesas de ferro ou as mesas em Travertino. Quanto às primeiras: “São muito versáteis e gosto imenso do material, aço corten. Normalmente, vai oxidando e fica quase com cor de ferrugem e o que nós gostamos é o aço corten com esta cor, quase preto. Vai em quase todo o tipo de ambiente e temos colocado em situações completamente diversas. Na sua simplicidade, é uma peça que acho que tem imenso interesse”, diz Rosário. Já as mesas em Travertino são as preferidas de Carmo. “Acabam por ser uma escultura que é uma mesa.”

À venda na loja online tanto há peças do arquivo, como novas. “Há peças criadas de propósito e outras depuradas ou ligeiramente transformadas para encaixarem nesta linguagem que queríamos agora utilizar, segundo Rosário Tello. “Na seleção de peças procuramos ter peças que sejam fáceis. Gostamos de ter abrangência. Estamos a lançar artigos que sejam passíveis das pessoas, à distância ou sem nos conhecerem, conseguirem perceber como é que isto vai ficar em qualquer ambiente, mais clássico ou mais contemporâneo, fica bem.” Primeiro querem perceber o mercado, mas no curto tempo de existência da loja, já podem afirmar que as peças que estão a ser procuradas são as “peças diferentes”.

Mesa em ferro, 970 euros. D.R.

Algumas peças existem em stock, outras não. “Nos fornecedores, temos as coisas preparadas e algumas estruturas já começadas com a possibilidade de em muito poucos dias se conseguir finalizar. Podemos não as ter fisicamente aqui, mas isso está assegurado nos bastidores.” Os produtos à venda online são totalmente nacionais. As sócias dizem que a grande maioria das fábricas e artesãos com quem trabalham são portugueses. Para os projetos que concebem, compram elementos que não são nacionais, mas no que toca às suas criações e móveis que produzem, tudo é produzido em Portugal. A maior parte dos fornecedores está nas regiões centro e norte, mas também os há em Lisboa. “É curioso, quando fomos à China, porque tivemos lá dois grandes projetos de decoração, uma das coisas que não nos fez querer continuar foi nós sentirmos que eles queriam muito que passássemos a produzir aquilo que levámos, que foi 100% português, na China. E nós não queríamos isso. Valorizamos a identidade nacional”, conta Rosário Tello.

Mesa Pitch Black, 2200 euros. D.R.

Entre as peças que as sócias escolheram na sua loja online está ainda “a mesa grande”. É uma peça que Rosário destaca, pelos materiais. “A combinação do aço inox polido. Estamos outra vez no material ferro, que com o tratamento passou a aço e sendo aço, é polido, que eu acho que é sempre muito nobre. E esta cor quase escura que é uma fibra, que é um material inovador.” E há ainda o charriot, o discreto e prático acessório que foi uma escolha de ambas. “Se fizer um jantar em casa, ponho um charriot destes à porta com uns cabides para as pessoas porem os casacos. É um charriot pequeno que cabe em qualquer canto”, explica Carmo. E também se fecha e pode ser arrumado atrás de uma porta.

Charriot flexível, 520 euros. D.R.

Não seria possível falar sobre a Sá, Aranha & Vasconcelos sem falar de arte, um elemento tão importante na história do estúdio. “Temos uma ligação muito forte com galerias de arte e com artistas. Gostamos de projetos experimentais.” Há galerias que emprestam parte do seu acervo para exporem neste showroom, porque mesmo não sendo uma galeria, também ajudam a vender arte. Trabalham com galerias portuguesas  e também espanholas, mas há uma preferência por artistas nacionais.

100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.