Fernando Medina pediu a Alexandra Reis que apresentasse a demissão e a secretária de Estado do Tesouro aceitou “prontamente”, anunciou o Ministério das Finanças em comunicado enviado às redações às 23h31. É a oitava governante a sair em oito meses de Governo em maioria absoluta socialista. A saída acontece no meio de mais um caso polémico a envolver um membro do Governo, nomeadamente a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis no início deste ano pela saída da administração da TAP.

“Solicitei hoje mesmo [terça-feira] à eng.ª Alexandra Reis que apresentasse o seu pedido de demissão como secretária de Estado do Tesouro, o que foi por esta prontamente aceite”, começa Fernando Medina por dizer, explicando a decisão pelo “no sentido de preservar a autoridade política do Ministério das Finanças num momento particularmente sensível na vida de milhões de portugueses“, diz o comunicado enviado pelo gabinete de Fernando Medina.

Comunicado do Ministério das Finanças

São quatro parágrafos o comunicado enviado pelo Ministério das Finanças e depois de António Costa ter dito, durante esta noite, que estava a avaliar com os ministros (Finanças e das Infraestruturas) o teor do esclarecimento da TAP sobre a compensação paga a Alexandra Reis pela empresa detida pelo Estado e os passos seguintes a dar.

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Os “passos seguintes” foram mesmo a demissão de Alexandra Reis, que aconteceu três horas depois de conhecidos os esclarecimentos da TAP.

“No momento em que enfrentamos importantes exigências e desafios, considero essencial que o Ministério das Finanças permaneça um referencial de estabilidade, de autoridade e de confiança dos cidadãos. São valores fundamentais à boa condução da política económica e financeira e à direção do setor empresarial do Estado”, diz ainda Fernando Medina, deixando uma última palavra de agradecimento por “todo o trabalho desenvolvido”, dizendo ainda que Alexandra Reis é “detentora de um curriculum profissional de enorme mérito e qualidade”. Medina diz “reconhecer a integridade e correção com que neste período pessoalmente difícil assegurou a defesa do interesse público.”

Oitava demissão de um governante em oito meses da maioria

Alexandra Reis tinha entrada em novembro no Governo, depois da remodelação que António Costa fez no seguimento da saída de Miguel Alves do Governo. Esta demissão em concreto foi especialmente traumática tendo em conta que aconteceu cerca de um mês depois da nomeação do ex-presidente da Câmara de Caminha para o centro político do Governo que estava envolto em vários episódios de descoordenação política que Costa procurava, assim, resolver. O nome escolhido para esta tarefa acabou, no entanto, por se revelar um problema adicional, tendo em conta os casos de justiça em que estava envolvido, por decisões como autarca.

Com a saída de Miguel Alves, António Mendonça Mendes assumiu a pasta de secretário de Estado Adjunto, abrindo a porta a mudanças nas Finanças, já que este era o nome que liderava a pasta dos Assuntos Fiscais desde 2015. Assim, no Terreiro do Paço, entrou Nuno Félix (para os Assuntos Fiscais), mas também Alexandra Reis (para o Tesouro), movendo João Nuno Mendes do Tesouro para a Secretaria de Estado das Finanças.

Nessa pequena alteração ao elenco governativo, António Costa ainda aproveitou para um ajuste de contas que já tinha sido pedido pelo seu ministro da Economia. Em causa estavam declarações dos dois secretários de Estado, João Neves e Rita Marques, sobre a posição pública do ministro António Costa e Silva sobre uma baixa generalizada do IRC.

As declarações dos dois secretários de Estado a desautorizarem o seu próprio ministro caíram mal em Costa Silva que se queixou ao primeiro-ministro. Costa deixou essas demissões em suspenso e à primeira oportunidade foram duas cabeças que também rolaram, fazendo subir o número de baixas governativas da maioria. Para os lugares no Turismo e na Economia entraram então Pedro Cilínio e Nuno Fazenda.

E antes de todas estas mudanças, António Costa já tinha tido outro problema para resolver e não ao nível de secretarias de Estado, mas sim de um Ministério de peso, a Saúde. Marta Temido pede a demissão, depois de um verão de caos nas urgências hospitalares e na sequência da morte de uma grávida na urgência do Hospital de Santa Maria. Os dois secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales e Maria de Fátima Fonseca, demitiram-se na mesma tarde em solidariedade com Temido. O sucessor escolhido por Costa foi Manuel Pizarro que se fez acompanhar por Margarida Tavares e Ricardo Mestre, como seus secretários de Estado.

A saída mais precoce neste Governo de maioria aconteceu logo no início de maio, um mês depois da nomeação, mas não aconteceu por razões políticas. A secretária de Estado da Igualdade e das Migrações, Sara Abrantes Guerreiro, pediu a demissão por motivos de saúde e foi substituída por Isabel Almeida Rodrigues.

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