António Costa puxou do histórico dos últimos sete anos para dizer que, apesar das “vicissitudes” na composição ou na “orgânica” que foram tendo os seus Governos, conseguiu ultrapassar sempre as dificuldades. E promete fazê-lo de novo. Quanto ao facto de ter recrutado os novos ministros dentro do Governo (João Galamba passa a ministro das Infraestruturas e Marina Gonçalves a ministra da Habitação), o primeiro-ministro negou, em conferência de imprensa esta segunda-feira, que haja “esgotamento” e justificou as escolhas com o facto de garantirem que “não há descontinuidade” das políticas.
O primeiro-ministro — que desde o caso TAP/Alexandra Reis só tinha feito uma declaração de poucos minutos a jornalistas no funeral de António Mega Ferreira — fez rasgados elogios ao novo ministro das Infraestruturas. António Costa diz que “João Galamba, para surpresa de muitos, foi um excelente secretário da Estado da Energia” e que “revelou qualidades executivas muito importantes”. O chefe de Governo disse mesmo que os progressos do país na transição energética “muito se devem a ele [João Galamba]” e destacou a “criatividade para resolver problemas”.
Sobre Marina Gonçalves, a nova ministra da Habitação, António Costa foi mais contido nos elogios, mas disse que “imprimiu uma boa dinâmica à política de habitação, numa fase em que ainda estava relativamente embrionária”.
Falando sobre ambos, Costa descreveu os novos ministros como “duas pessoas com experiência governativa”, que “conhecem os meandros da Administração”, que “não se embaraçam com as exigências da transparência e da burocracia necessária à boa contratação pública” e que “dão garantias de que não haverá descontinuidade do que está a ser executado e que haverá estabilização e estabilidade na execução das políticas”.
Sobre o facto de serem militantes do PS, Costa justifica que o seu Executivo tem tido um “bom equilíbrio” entre governantes com “experiência política” e os da “sociedade civil” e que “dos 55 membros do Governo, um terço são pessoas que nunca tinham exercido qualquer cargo político”. Além disso, acrescenta, “seria estranho que um Governo do PS não tivesse pessoas do PS ou da área política do PS”.
Costa sobre mensagem de Marcelo: “Não sinto responsabilidade acrescida”
Costa falo ainda sobre a mensagem de Ano Novo do Presidente da República. O primeiro-ministro diz que não sentiu “responsabilidade acrescida”, já que Marcelo Rebelo de Sousa “enfatizou o que todos têm consciência”.
O primeiro-ministro reviu-se ainda nas palavras de Marcelo quando o Presidente destacou “a confiança que os portugueses” depositaram no PS e no próprio António Costa. E acrescentou: “Governar é uma responsabilidade pesada, mas ninguém que é primeiro-ministro deve ter medo da responsabilidade”.
António Costa defendeu ainda que o mais importante é “a estabilidade das políticas” e que esta é que permite “estabilidade na vida dos portugueses”. Lembrou ainda que o Governo tem tido “uma trajetória de contas certas, controlando e reduzindo o défice e a dívida”.
O primeiro-ministro concordou ainda com Marcelo Rebelo de Sousa quanto ao facto de 2023 ser um ano “muito exigente”.
Costa sobre caso TAP: “Administração está em funções e vai apresentar boa notícia”
Sobre a continuidade da administração da TAP, António Costa diz que “a TAP está a voar” e que “a administração está em funções” e que “os resultados que vai apresentar em breve vão ser uma boa notícia”.
O primeiro-ministro admitiu ainda que continua à procura de comprador para a TAP e confessou que não está “arrependido” de ter nacionalizado a TAP porque isso “assegurou uma grande estabilidade na empresa ao longo dos anos e permitiu que o aumento de capital após a pandemia não partisse do zero”.
Relativamente à abertura de um inquérito do Ministério Público sobre o caso da indemnização dada pela TAP a Alexandra Reis, António Costa lembra a separação de poderes: “Se o MP entendeu haver razões para abrir inquérito, excelente!”.
Depois de chamado a justificar-se de porquê ter feito escolhas dentro do Governo, o primeiro-ministro lembrou que Alexandra Reis era “de fora do Governo”. Como quem diz: era de fora e correu mal; ser de dentro não é necessariamente mau.
Saída de Medina, Costa ri-se e diz: “Quando oposições forem Governo, mandam no Governo”
Questionado pelos jornalistas sobre a fragilidade do ministro das Finanças e o pedido de demissão feito pela oposição, Costa riu-se e recusou a saída do Fernando Medina: “Quando as oposições forem Governo, mandam no Governo”. O primeiro-ministro desvalorizou ainda a saída de 11 pessoas do Governo: “Uma das secretárias de Estado é agora ministra, uma saída por doença grave, outros secretários de Estado caíram por estar na dependência de dois ministros que saíram por razões conhecidas”.
O primeiro-ministro diz que os “problemas às vezes não se podem evitar”, mas que “nenhum desses problemas não teve consequências na vida dos portugueses”. E diz também que é preciso “não confundir a árvore com a floresta”.
A conferência foi longa e o primeiro-ministro abordou ainda outros temas. António Costa, que em entrevista recente à CMTV não soube dizer a que preço estava o arroz, falou das dificuldades provocadas pela inflação: “Cada vez que vamos ao supermercado e vemos a conta, vemos que estamos a sofrer com estilhaços da Guerra na Ucrânia”.