Em pleno inverno, e com o Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge a detetar uma atividade epidémica da gripe com tendência crescente, a pressão nas urgências hospitalares está a aumentar nos serviços de saúde da área de Lisboa — quer no setor público, quer no privado.
Do lado do público, as urgências do Hospital Beatriz Ângelo e do Hospital de Santa Maria têm tempos de espera para doentes considerados urgentes de mais de 14 horas. Estes tempos de espera, divulgados através do site do Serviço Nacional de Saúde (SNS), correspondem ao tempo que o utente terá de esperar depois de ter passado pela fase de triagem — onde é atribuída uma pulseira, de acordo com a urgência.
Aumento das consultas nos centros de saúde com pouco reflexo nas urgências
No Hospital de Santa Maria, a maior instituição de saúde do país, o tempo médio de espera é de 14 horas e 16 minutos para doentes considerados urgentes — a quem foi atribuída uma pulseira amarela. Pelas 15h30 desta terça-feira, estavam em espera 54 pessoas para atendimento urgente. O tempo de espera para serviço muito urgente estava nos 32 minutos e menos urgente estava nos 55 minutos, com 30 pessoas por atender.
No Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, a urgência geral para casos considerados menos urgentes, cuja pulseira é azul, tem um tempo médio de espera de 17 horas e 58 minutos. Já os doentes considerados urgentes têm um tempo médio para atendimento de 11 horas e 10 minutos e estão 56 pessoas à espera.
Os tempos de espera diminuem, no entanto, nos restantes hospitais. No Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, os doentes considerados menos urgentes são quem tem de esperar mais — 1 horas e 25 minutos. Os casos urgentes estão com 52 minutos de espera e os muito urgentes com 1 hora e 12 minutos.
No Hospital de São José, em Lisboa, um doente com pulseira verde terá de esperar, em média, duas horas. Já um doente urgente tem de esperar 46 minutos e estão, neste momento, 20 pessoas à espera de consulta. Já no Hospital São Francisco Xavier, o tempo de espera está entre as 3 horas e 43 minutos para os utentes não urgentes e os 36 minutos para situações muito urgentes.
Médicos de família são contratados para atenderem doentes não graves nas urgências
Na parte da pediatria, o Hospital Dona Estefânia, que faz parte do Centro Hospitalar Lisboa Central, tem um tempo médio de espera de uma hora e 21 minutos para casos menos urgentes e cerca de uma hora para casos urgentes. No entanto, o número de utentes em espera é muito inferior aos hospitais anteriores. No total, entre não urgente e muito urgente, estão em espera 13 doentes.
De acordo com o sistema utilizado pelo Serviço Nacional de Saúde, uma pessoa identificada com uma pulseira laranja — caso muito urgente — deveria esperar, no máximo, 10 minutos. No entanto, este cenário não se verifica na maioria dos hospitais.
Os problemas nos serviços de urgência foram, aliás, reconhecidos por Manuel Pizarro, ministro da Saúde, esta terça-feira: “Nós não negamos que existem problemas, designadamente nos serviços de urgência. Estamos a trabalhar para os resolver”.
“Pessoas que não têm razão para ir à urgência, deixem de ir à urgência, procurem a linha SNS24, ou os centros de saúde”, aconselhou o responsável pela pasta da Saúde, quando falava aos jornalistas à saída de uma visita ao Hospital Fernando Fonseca, na Amadora. E acrescentou que “duas em cada cinco pessoas que vão à urgência, em algumas urgências metade das pessoas, são pessoas que poderiam ser melhor tratadas se não recorressem ao serviço de urgência e diminuíam a pressão sobre o serviço de urgência“.
À Lusa, o ministro da Saúde indicou que o modelo de rotatividade das urgências de ginecologia e obstetrícia poderia ser alargado aos serviços de urgência geral, mas ressalvou que, antes de qualquer decisão política, tem que haver um estudo técnico que fundamente essa medida. “Na região Norte funcionam já há muitos anos as chamadas urgências metropolitanas, em que há concentração de várias especialidades no que diz respeito ao serviço de urgência num dos hospitais da região”, disse Manuel Pizarro.
No privado, tempos de espera chegam a ultrapassar as 3 horas
Já no setor privado, os tempos de espera ultrapassam as duas horas. No Hospital dos Lusíadas, o tempo médio de espera para os adultos, casos não urgentes, é de 3 horas e 25 minutos. No casos não urgentes, a espera não chega a uma hora. No Hospital da Luz, o tempo médio de espera para os adultos é de 3h35 e para a pediatria é de 3h17. Na CUF Descobertas, na zona do Parque das Nações, os doentes têm de esperar 2 horas e 7 minutos por uma consulta de urgência.