“Parece verão.” Foi desta forma que um residente em Bilbau, no País Basco, em Espanha, resumiu à Reuters as elevadas temperaturas que se estão a fazer sentir ao longo destes dias. A Europa está a passar por um fenómeno extremo, que está a levar vários países a registarem temperaturas próximas dos 20 graus em pleno inverno. A responsabilidade é atribuída a uma massa de ar quente que está a passar pela Europa, vinda de zonas subtropicais.

Além de Espanha, também países como a Suíça, França, Polónia, Ucrânia ou Hungria estão a sentir temperaturas extremas. Em Budapeste, na Hungria, os termómetros chegaram a 18,9ºC no primeiro dia do ano, quando habitualmente costumam ter temperaturas negativas. Em Varsóvia, na Polónia, um cenário semelhante: 18,9ºC. Na República Checa, em Javorník, ainda mais expressivo, nos 19,6ºC.

Em vários destes países as temperaturas estão entre 10 a 12ºC acima das temperaturas visíveis nesta altura do ano. Em alguns países onde o esqui tem franca expressão, como a Suíça ou Áustria, há resorts desertos devido à ausência de neve. O “manto” branco habitual nesta altura do ano, está a ser substituído por ervas e lama.

É este o cenário que está a ser visível em zonas como Chamonix, em França, ou Innsbruck, na Áustria. E já estão a ser registadas consequências para o esqui a nível profissional: em Adelboden, um resort na Suíça, este fim de semana decorre um evento da modalidade a nível mundial. A prova, na pista de Chuenisbärgli, vai ser feita maioritariamente com neve artificial. “O clima está a mudar, o que é que devemos fazermos? Vamos parar com a vida?”, comentou Toni Hadi, diretor desta pista, ao Guardian.

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Nem sequer a elevada altitude é garantia da existência de neve. Em Splügen, um resort da Suíça, esta segunda-feira foi encerrado o acesso devido à “falta de neve, chuva forte e a elevadas temperaturas”.

De acordo com uma publicação da Greenpeace Reino Unido no Twitter, “mais de metade das estâncias de esqui em França foram forçadas a fechar este inverno devido a temperaturas mais amenas”.

“Frequência de episódios quentes está a aumentar”

Pedro Sousa, meteorologista do IPMA e investigador, explica ao Observador que estas temperaturas mais amenas para a época do ano que se estão a verificar em vários pontos da Europa resultam de uma “massa de ar vinda do Atlântico ou do Norte de África”, que traz temperaturas mais elevadas.

É algo normal de acontecer? Apesar de as temperaturas estarem mais altas, Pedro Sousa deixa a ressalva de que a “meteorologia por si própria tem grandes variações, as próprias médias [de temperaturas] são feitas pesando isso.” “A questão é que estamos com um clima cada vez mais quente em média. Hoje em dia é mais fácil atingir temperaturas mais elevadas porque a nossa base está mais elevada”, explica o meteorologista, notando que hoje “é mais fácil ter temperaturas mais altas do que há 50 anos”.

A falta de neve e as temperaturas mais amenas para pontos gelados da Europa podem ser então encaradas como efeito das alterações climáticas? “Pode-se dizer que sim, mas com uma ressalva”, lembra Pedro Sousa:  “Nunca podemos atribuir um evento isolado às alterações climáticas. Sempre houve episódios acima da média no clima, já houve invernos quentes no passado. O que se deve ver é perceber com que frequência é que isto acontece. A frequência dos episódios quentes está a aumentar.”

Pedro Sousa explica ainda que “atualmente a temperatura já não está tão extrema como esteve há uns dias, já está menos anómala”. “Neste momento vai continuar um padrão zonal, com fluxo de oeste e vai haver várias oscilações consecutivas. O que interessa é que um fluxo de oeste não permite que haja invernos muito frios na Europa. Neste momento não há nenhuma perspetiva para os próximos dias que mostre entrada de frio polar.”