Há um novo álbum dos U2 a caminho e há um português envolvido no processo. A banda irlandesa anunciou nas suas redes sociais o lançamento de “Songs of Surrender”, com data de lançamento prevista para 17 de março. O novo disco consistirá em 40 canções, “re-imaginadas e re-gravadas” pelo quarteto, no que promete ser uma reinterpretação nostálgica dos maiores êxitos da banda. Em jeito de amostra, no vídeo de anúncio é possível um trecho da nova versão de “Beautiful Day”, interpretada por Bono.
O artista visual João Pombeiro foi o responsável pelo vídeo do anúncio do projeto, que retrata alguns dos momentos marcantes do percurso do quase meio século dos U2, bem como da história do final do século XX e início do século XXI.
O leiriense, de 43 anos, conta com um longo currículo em Portugal, com participações em projetos de humor bem conhecidos como “Uma Nêspera no Cu”, websérie e espetáculo ao vivo de Bruno Nogueira, Nuno Markl e Filipe Melo, bem como colaborações com o “universo” Bruno Aleixo. Além-fronteiras tem também mostrado trabalho, como referiu em declarações ao Observador. “Já colaborei em dois videoclipes para um projeto do Nightmares on Wax (produtor e DJ britânico), um nome mais antigo, já dos anos 90, trabalhei para a Warp Records (editora britânica), e com o Lance Skiiiwalker (rapper norte-americano)”.
Foi precisamente esta última colaboração com o rapper de Chicago que chamou a atenção dos U2. “Ia ao encontro daquilo que eles andavam à procura, que era uma coisa com colagens. Penso que tem a ver com o facto de o Bono gostar de colagens, o final do livro dele está cheio de fotografias em colagem”. O livro em questão, “Surrender”, é autobiografia do cantor, e o subtítulo da obra – “40 Songs, One Story” – forma a base temática que inspirou o novo álbum.
O leiriense esteve quase para não aceitar o convite, e tudo devido a uma banda histórica do rock’n’roll português. “Da primeira vez que fui contactado, fui obrigado a recusar porque já estava a fazer um projeto para os Xutos e Pontapés” revela Pombeiro. Não fosse um atraso providencial na concretização do projeto, e a oportunidade ter-se-ia esfumado, declarou, assumindo: “com muita pena minha”.
Até porque, como o próprio admite, é fã de longa data. “Cresci a ouvir U2, sobretudo aquela fase nos anos 90, para mim é a mais interessante — discos como o Zooropa, o Achtung Baby, até o Joshua Tree (este ainda na década de 1980), são discos de que gosto bastante, por isso obviamente que foi um prazer”, diz.
O processo criativo foi simples. O conceito já existente da banda aliado ao estilo visual do trabalho de João Pombeiro fez com o “casamento” não trouxesse grandes surpresas relativamente ao que esperar. Ainda assim, o artista sublinha que teve “liberdade total” (dentro dos parâmetros estabelecidos) para desenvolver o vídeo, consciente da dificuldade da tarefa de reduzir num minuto uma história de 46 anos.
Ainda assim, o vídeo está carregado de alusões ao passado dos U2, dos maiores momentos aos mais ínfimos detalhes. Nem as origens mais remotas, em concertos nos pátios escolares de Dublin com o nome “Feedback” ficaram esquecidos. “Consegui até encontrar 4 fotografias do primeiro concerto que deram e fiz uma animação a partir daí”.
Além do passado musical, o vídeo revisita ainda alguns momentos marcantes na história do último meio século — desde Martin Luther King à bomba atómica, passando pela queda do muro de Berlim – referências ancoradas no forte ativismo social e político da banda. “Fartei-me de fazer investigação”, conta Pombeiro. “Li imenso, vi documentários, fui aprender tudo o que ainda não sabia sobre a banda. Quando foram gravar em 89/90 para Berlim, apanharam o último avião antes da queda do muro. Estiveram lá no momento em que aquilo aconteceu. É marcante porque também os marca enquanto banda, no seu percurso”. Percurso esse para o qual o vídeo remete sempre, de forma mais ou menos direta, em todas as imagens usadas. “Vem sempre tudo da música, está lá tudo”.
As reações, diz o artista, têm sido muito positivas – “o telefone não para de receber notificações”. Ainda assim, admite que uma reação em particular o deixou satisfeito. “O melhor feedback que tive foi diretamente da banda. Recebi um recado no fim, já com o vídeo feito e aprovado, a dizer que estavam muito contentes com o trabalho, e que foi dos trabalhos criativos de que gostaram mais nos últimos anos. Obviamente que para mim, sobretudo sendo fã da banda, é a reação mais importante”.