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Ugarte, Rafa e o sacrifício dos não sacrificados (a crónica do Benfica-Sporting)

Este artigo tem mais de 1 ano

Leões entraram melhor mas não ganharam, encarnados estiveram sempre por cima em desvantagem mas falharam reviravolta e dérbi foi-se "amarrando" até ao empate que sabe a derrota para ambos (2-2).

Rafa foi sempre o principal agitador ofensivo do Benfica, Ugarte dominou a nível de recuperações e duelos ganhos mas nenhum saiu a sorrir no dérbi
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Rafa foi sempre o principal agitador ofensivo do Benfica, Ugarte dominou a nível de recuperações e duelos ganhos mas nenhum saiu a sorrir no dérbi

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Rafa foi sempre o principal agitador ofensivo do Benfica, Ugarte dominou a nível de recuperações e duelos ganhos mas nenhum saiu a sorrir no dérbi

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Foi uma semana, apenas uma semana, mas uma longa semana. Porque os resultados da última ronda foram opostos e obrigaram a trabalhos distintos por parte dos dois técnicos. Porque o mercado de transferências voltou a funcionar entre as contratações garantidas e as propostas rejeitadas. Porque os opositores diretos na classificação (neste caso, o Sp. Braga) não facilitaram em nada na antecâmara da partida. Mais do que aquele sempre apetecível dérbi, o Estádio da Luz era sobretudo um espelho das duas realidades diametralmente opostas entre Benfica e Sporting. Nada ficaria resolvido, muito sobraria para o que há ainda para resolver. E o ponto de partida para o primeiro duelo entre rivais lisboetas na presente temporada passava pelas viragens que os dois conjuntos promoveram ou não conseguiram evitar em comparação com as três últimas épocas.

Sporting esteve duas vezes na frente, Gonçalo Ramos bisou: dérbi termina com empate na Luz

O Benfica não teve propriamente o melhor regresso no período depois do Campeonato do Mundo, com um empate em Moreira de Cónegos a afastar a equipa do primeiro título da temporada (Taça da Liga) e uma derrota em Braga a roubar a invencibilidade em todas as competições antes dos triunfos curtos mas seguros com Portimonense (Liga) e Varzim (Taça de Portugal). Pelo meio, e enquanto voltava aos bons resultados, o clube foi dando passos seguros a curto e médio prazo para reaproveitar o embalo da metade inicial da época: “resolveu” o caso Enzo Fernández com a permanência do argentino por mais seis meses fazendo as “pazes” com os adeptos com o golo marcado na Póvoa de Varzim; continua a tentar colocar os excedentários noutros clubes; garantiu a contratação de duas jovens promessas escandinavas, Casper Tengstedt e Andreas Schjelderup, pagando para já um total de 15 milhões que podem passar os 20 com cláusulas por objetivos.

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“Espero um jogo extraordinário. Vamos jogar um dérbi contra um adversário muito bom, ambas as equipas jogam um futebol de ataque. Tentam jogar o seu tipo de futebol independentemente do adversário. Vai ser um encontro difícil e que queremos vencer. É muito importante para nós. Se quisermos ser campeões, temos de fazer muitos pontos. Não podemos empatar muito ou perder jogos, caso contrário perdemos o comboio. Até agora temos estado bem mas ainda não chegámos ao fim. Temos de manter o nível, continuar a vencer e não interessa quem é o adversário, temos de lutar sempre pelos três pontos. Agora vai ser igual. Ainda nem estamos a meio da temporada. Não estamos especialmente preocupados com a diferença pontual, estamos é a pensar sempre no próximo jogo”, comentara um confiante Roger Schmidt antes do dérbi.

Do lado oposto, o Sporting teve na Madeira uma derrota frente ao Marítimo com tanto de inesperada como de penalizadora na sequência de sete vitórias consecutivas que não só colocaram a equipa na Final Four da Taça da Liga como deram uma aparente imagem de redenção para a segunda metade da época que acabou por não confirmar-se. O plantel tem carências, os reforços não chegam – o Midtjylland terá recusado uma oferta de quatro milhões pelo central Ousmane Diomandé (cedido neste momento ao Mafra), o sonho Pablo Sarabia esfumou-se com o espanhol a caminho do Wolverhampton e ainda há o problema Pedro Porro, a ser cada vez mais “cobiçado” pelo Tottenham. A par disso, na dura realidade dos números, uma derrota na Luz deixaria os leões a 15 pontos da liderança, a nove do segundo lugar e possíveis oito do terceiro.

“A equipa está sempre motivada. Vinha de um bom momento. O que aconteceu já aconteceu noutras alturas, são momentos chave em que voltamos um bocadinho atrás. Tem a ver com a inexperiência de muita gente, que não está habituada a lutar por títulos, isso leva tempo. Temos de entrar com mais intensidade e jogar melhor com bola. Diferenças no ataque ao mercado? Sabemos a realidade. O importante é, sabendo essa diferença que não é de agora, não nos escondermos atrás disso. Tudo ou nada para o Sporting? Não sabemos o que vai acontecer mas claro que a distância já é muito grande. Temos de pensar jogo a jogo, melhorar no que temos de melhorar. Se olharmos ponto a ponto, podíamos ter ganho os jogos que não ganhámos. Somos capazes de vencer o Benfica e qualquer outro”, salientara Rúben Amorim antes do dérbi.

Num duelo sem tabus, com Schmidt a confirmar as recuperações de Grimaldo e Rafa e Amorim a revelar o meio-campo com Ugarte e Pedro Gonçalves apesar da evolução física de Morita, havia um choque entre a defesa de um legado construído em poucos meses no Benfica e a defesa de um orgulho e de uma identidade nos últimos três anos no Sporting. E foram dois desses jogadores que assumiram o protagonismo de um dérbi que foi “amarrando” para o empate a par de Gonçalo Ramos: Rafa, mesmo perante o sacrifício físico de quem voltou agora à competição mas até sem estar a 100% basta acelerar para desbloquear o jogo, assistiu, criou, “inventou” mas não saiu a rir; Ugarte, jogando sempre no limite disciplinar até ver o primeiro amarelo aos 61′, fez uma exibição por dois no meio-campo a todos os níveis mas de pouco ou nada valeu.

Ficha de jogo

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Benfica-Sporting, 2-2

16.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Benfica: Vlachodimos; Bah, Otamendi, António Silva, Grimaldo; Florentino Luís, Enzo Fernández; Aursnes (David Neres, 64′), Rafa (Chiquinho, 90+3′), João Mário e Gonçalo Ramos

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Morato, Lucas Veríssimo, Gil Dias, João Neves, Draxler e Musa

Treinador: Roger Schmidt

Sporting: Adán; Gonçalo Inácio, Coates, Matheus Reis (St. Juste, 67′); Porro, Ugarte, Pedro Gonçalves, Nuno Santos; Francisco Trincão (Jovane Cabral, 89′), Marcus Edwards (Arthur, 78′) e Paulinho (Chermiti, 78′)

Suplentes não utilizados: Franco Israel, José Marsà, Ricardo Esgaio, Tanlongo e Mateus Fernandes

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Bah (27′, p.b.), Gonçalo Ramos (37′ e 64′) e Pedro Gonçalves (53′, g.p.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Otamendi (5′), Rafa (41′), Pedro Gonçalves (45+3′), Trincão (46′), Ugarte (61′), St. Juste (86′) e Chermiti (88′)

O encontro arrancou com um filme que talvez fosse um dos menos esperados perante o contexto que se vivia na Luz: um Sporting a defender com linhas mais subidas numa primeira fase e a conseguir em várias fases condicionar a primeira fase de construção dos encarnados, um Benfica a ter alguns passes de risco falhados que impediam mais chegadas ao último terço e um dérbi com um conjunto leonino bem mais confortável em campo mesmo que sem oportunidades a não ser um livre direto batido por Pedro Porro para defesa atenta de Vlachodimos que valera antes o primeiro amarelo do jogo logo no quinto minuto a Otamendi. Os minutos passavam, a toada mantinha-se mas aos poucos começava a haver mais Enzo Fernández no setor intermédio com e sem bola. Estava ali a chave de um novo capítulo com muito mais metros para se jogar.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Benfica-Sporting em vídeo]

Com o argentino a conseguir ter mais posse e virado de frente para o jogo, o Benfica não só ganhou metros a partir de trás como foi começando a procurar algo que lhe faltava até aí: a profundidade. E era quase com sinais de fumo que os entendimentos apareciam, numa primeira instância com o campeão do mundo a ver a entrada de João Mário na zona entre Matheus Reis e Nuno Santos para um remate travado por Adán (20′) e logo a seguir com Rafa a ganhar também as costas, a passar com classe por Gonçalo Inácio mas a rematar de novo para defesa do guarda-redes espanhol (21′). O Sporting abanava, Paulinho caía lesionado no relvado a queixar-se de um lance em que foi tocado na cabeça e a paragem acabou por ser a melhor conselheira para os leões, que sacaram de seguida a melhor versão coletiva na direita entre Porro e Edwards para o cruzamento do inglês na linha a encontrar Trincão para o toque final na pequena área a meias com Bah (27′).

Mesmo sem ter feito muito em termos ofensivos para isso, o Sporting encontrava-se em vantagem e tinha um outro contexto para gerir o encontro a seu jeito tentando disfarçar uma lacuna evidente que nem sempre o voluntarioso Ugarte conseguia esconder: um meio-campo a dois com Pedro Gonçalves num dérbi deixa a equipa leonina demasiado exposta a um conjunto encarnado que é melhor em posse. Se a isso se juntar ainda a fragilidade emocional quando as coisas deixam de sair e o adversário consegue encostar no meio-campo contrário, a formação verde e branca tende a colocar-se num papel mais vulnerável. E foi isso que o Benfica soube aproveitar, com a pressão a dar frutos numa jogada em que Rafa voltou a conseguir fintar no espaço de uma cabine telefónica, Gonçalo Ramos antecipou-se a Gonçalo Inácio e o desvio ao primeiro poste deu o empate e a justiça no resultado por tudo o que se tinha passado até esse momento na Luz (37′).

Os nervos começavam a ficar mais à flor da pele nos últimos minutos antes do intervalo e o recomeço do jogo nem por isso abrandou essa tendência, com Gonçalo Ramos a tentar um remate de fora da área quando tinha outras soluções mais proveitosas e Paulinho a “ganhar” uma grande penalidade a António Silva num lance que Artur Soares Dias deixou passar mas foi depois avisado pelo VAR para rever as imagens antes de Pedro Gonçalves não tremer e recolocar o Sporting na frente (53′). Ramos voltou a ter um desvio de cabeça ao primeiro poste mas ao lado após um lance em que Rafa atirou para defesa de Adán mas em fora de jogo e Roger Schmidt via-se obrigado a mexer na equipa também para aproveitar o bom momento que a equipa atravessava no jogo. Nem foi preciso: Aursnes lançou bem Grimaldo pela esquerda, o espanhol teve um cruzamento perfeito na zona entre guarda-redes e central e Ramos desviou na pequena área (64′).

Schmidt não deixou de lançar David Neres para o lugar de Aursnes em busca da primeira vantagem no jogo que pudesse decidir o dérbi a seu favor, Amorim respondeu com a colocação de St. Juste no lado direito da defesa para estancar a zona onde os leões mais sofriam sem bola. Questão: a partida estava inclinada de vez, com Florentino Luís a ganhar sozinho o meio-campo e o centro de jogo dos leões “gripara”. E foi isso que se foi vendo com o passar dos minutos, não só pela percentagem crescente de posse em zonas adiantadas mas também nas tentativas de visar a baliza de Adán que começaram com um cabeceamento de Otamendi para defesa do espanhol (74′) e com um cruzamento/remate de João Mário que saiu com pouca força (76′).

A dança de opções saídas do banco continuava, também aqui com o Sporting a ter bem menos opções para virar o encontro a seu favor do que o Benfica – e foi essa escassez de recursos que levou à aposta de Amorim no ainda avançado júnior Chermiti, que entrou para o lugar de Paulinho com Arthur Gomes a substituir nesse momento Marcus Edwards (77′). Os encarnados arriscavam mais pela vitória mas continuavam sem voltar a desfazer a muralha defensiva verde e branca, os leões percebiam o espaço que tinham a mais para saírem em transições rápidas mas havia sempre algum toque ou passe que saía mal e anulava uma potencial jogada de perigo. Foi assim que o dérbi chegou ao fim, com Adán a resolver as bolas paradas de João Mário que foram à baliza (90′) e Chermiti a ter o último remate na primeira boa saída mas por cima (90+1′).

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