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Alguém “experiente, competente e assertivo”, com um “coração grande”. É “exatamente a pessoa certa para o Bundeswehr [Forças Armadas da República Federal alemã] nesta virada dos tempos.” Foi assim que o chanceler Olaf Scholz descreveu Boris Pistorius, 62 anos, o novo ministro da Defesa alemão, que vem substituir Christine Lambrecht, um dia depois de esta ter apresentado a sua demissão.

O anúncio do novo ministro foi uma surpresa, já que e o seu nome — pouco conhecido no âmbito internacional — nunca tinha sido mencionado no jogo das especulações e das escolhas mais óbvias. Quem é, então, a figura que vem comandar a Defesa alemã, pasta que assume especial relevo numa Europa em guerra? Boris Pistorius vem do Ministério do Interior do governo da região da Baixa Saxónia, pasta que liderava desde 2013.

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Estudou direito em Osnabrück e Münster. Completou o serviço militar entre 1980 e 1981 e juntou-se  ao Partido Social Democrata (SPD) alemão, aos 16 anos. Ainda que sem experiência militar em campo, Pistorius é, nas palavras de Scholz, um “político extremamente experiente, com experiência administrativa e que tem estado envolvido em política de segurança durante anos.” O novo ministro terá experiência no trabalho com as forças armadas, tendo sido o responsável pela sua reforma na Baixa Saxónia. É um grande defensor do corpo policial, indica o americano The New York Times. .

O novo novo detentor da pasta de Defesa entra no governo alemão num período crítico, considerando que a Alemanha está sob pressão, vinda de várias frentes, para aumentar o apoio militar à Ucrânia, com a permissão para a utilização de tanques Leopard no centro das atenções. A Alemanha tem sido cautelosa no envio dos carros de combate, com receio de que estes possam contribuir para um escalar o conflito. Outros países detentores dos mesmos veículos, produzidos na Alemanha (por uma empresa sediada na cidade de Munique), precisam da autorização de Berlim para que possam ser enviado.

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Apesar de ter feito parte do grupo de amizade Alemanha-Rússia da Bundesrat, Câmara Alta do Parlamento alemão, antes de este ter sido dissolvido em abril, diz a agência Reuters, Pistorius já falou contra os “ataques brutais” da Rússia na Ucrânia. Foi, aliás, ele o o responsável pela aprovação da lei que passou a processar qualquer pessoa que utilize a letra “Z” em público — símbolo utilizado nos veículos e nos uniformes das forças russas. De acordo com o jornal inglês The Guardian, mostrou-se favor do apoio para endurecer a  defesa da Ucrânia — mostrando-se, por outro lado, cético relativamente à eficácia das sanções impostas a Moscovo.

Em 2018, quando era Ministro do Interior da Baixa Saxónia, Pistorius pediu uma revisão às sanções impostas à Rússia, depois da invasão da Crimeia. Pistorius alegou que, além dos danos causados na economia alemã, que terá sofrido perdas na ordem dos milhares de milhões, o resultado das medidas punitivas estaria a fortalecer a política interna de Vladimir Putin, terá dito ao alemão Süddeutsche Zeitung. “Esta deveria ser uma altura para rever as sanções. Se não atingimos as metas, então devemos perguntar-nos se os instrumentos [utilizados] são os corretos.”

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No campo da vida pessoal, é viúvo e tem dois filhos. Em outubro de 2016, veio a público a relação com Doris Schröder-Köpf, ex-mulher do ex-chanceler, Gerhard Schröder, que governou a Alemanha entre outubro de 1998 e novembro de 2005.

O antigo chanceler é conhecido por manter uma relação próxima e pessoal de Putin. Os dois amigos de longa data encontraram-se há poucos meses, no verão de 2022, quando Schröder fazia férias em Moscovo. Com a guerra a decorrer há já vários meses, o encontro gerou controvérsia na Alemanha. Numa entrevista à imprensa alemã, Schröder disse que não tinha nada por que se desculpar, diz o inglês The Guardian.

Schröder foi também muito criticado por manter negócios com a empresa estatal russa Gazprom, sendo uma das figuras nos bastidores da construção de dois gasodutos no Bar Báltico, criados para transportar gás para a Europa — um deles foi desativado após a invasão da Rússia à Ucrânia, estando o outro a entregar apenas 20% do nível de gás esperado. O casamento entre Doris Schröder-Köpf e Gherhard Schröder durou vinte anos.

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Christine Lambrecht decidiu abandonar o cargo de ministra da Defesa na segunda-feira, 16 de janeiro, depois das várias críticas feitas à mensagem de Ano Novo que publicou nas suas redes sociais. Num vídeo com fogo de artifício, a antiga ministra mencionou a guerra na Ucrânia e disse que o conflito lhe tinha permitido ter “muitas impressões e muitos encontros com excelentes e interessantes pessoas”, além de “muitas experiências especiais”. E terminou dizendo “muito obrigada”.

A imprensa internacional adiantou ao longo dos últimos dias possíveis substitutos para Christine Lambrecht, mas o nome de Boris Pistorius nunca foi mencionado. Na lista estariam nomes como Eva Högl, comissária parlamentar para as forças armadas, Siemtje Möller, secretário de Estado da Defesa, e Lars Klingbeil, líder do partido de Lambrecht, que vem de uma família militar.