O ex-presidente do Governo da Madeira Alberto João Jardim afirmou que ao longo de quatro décadas os seus executivos realizaram cerca de 4.900 inaugurações e desafiou os críticos da sua governação a indicarem as que não deveriam ter ocorrido. “[Os] meus governos fizeram 4.890 inaugurações. Governos, não eu. [Os] governos Albuquerque prosseguiram-no”, escreveu Jardim na sua conta da rede social Twitter, na terça-feira.

O ex-governante e líder do PSD/Madeira acrescentou: “Para não perder tempo com ‘gajos importantes (?!…)’, de uma vez por todas indiquem à população aí beneficiada, um a um, qual o investimento que não devia ter sido feito!”.

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A publicação foi feita depois de, no domingo, o Diário de Notícias ter divulgado declarações do social-democrata Sérgio Marques em que o ex-secretário e diretor regional disse que houve “obras inventadas a partir de 2000”, quando Alberto João Jardim era presidente do executivo madeirense, e grupos económicos que cresceram com o “dedo do Jardim“.

Sérgio Marques, que foi diretor regional entre 1988 e 1989, referiu, citado pelo jornal, que a governação de Jardim “foi fantástica até 2000”, mas depois “começaram a inventar-se obras, quis-se continuar no mesmo esquema de governo, a mesma linha, obras sem necessidade, aquela lógica das sociedades de desenvolvimento, todo aquele investimento louco que foi feito pelas sociedades de desenvolvimento”.

O social-democrata, que na terça-feira renunciou ao cargo de deputado na Assembleia da República e solicitou a sua saída da comissão política do PSD/Madeira, escreveu no domingo, na rede social Facebook, que estas declarações ao DN foram prestadas em ‘off’, no âmbito de um trabalho sobre os 47 anos com o PSD no poder na Madeira, numa “parte informal” da conversa, até porque “estão longe de ter atualidade e pertinência”.

O ex-deputado acrescentou que as suas opiniões eram “conhecidas, não são segredo, mas que se referem a momentos do passado, e que estão distantes da atualidade política regional”.

Depois das críticas a Jardim, deputado do PSD renuncia ao mandato na Assembleia

Sérgio Marques, secretário regional dos Assuntos Europeus e Parlamentares entre 2015 e 2017, na presidência do também social-democrata, Miguel Albuquerque, afirmou ainda que foi afastado do cargo por influência de um grande grupo económico da região. A Lusa tentou, sem sucesso, obter um comentário de Alberto João Jardim.

No Twitter, o ex-presidente referiu que os críticos dos seus investimentos vão apontar “a habitual marina Lugar de Baixo [concelho da Ponta do Sol], destruída por tempestade e já não resolvida porque a oposição recorreu ao Tribunal Constitucional”.

Este empreendimento custou cerca de 100 milhões de euros, porque foi sucessivamente danificado por tempestades e reconstruído. O projeto acabou por ser abandonado pelo executivo madeirense em 2015, tendo sido considerado um dos ‘erros’ da sua governação.

O ex-presidente do Governo Regional (antecessor de Miguel Albuquerque, que ocupa o cargo desde 2015) considerou que “cabia a outros, depois, a iniciativa de aproveitar” a infraestrutura construída, mas “não o fizeram”. “Ano eleitoral, maçonaria e ‘Madeira Velha’ nervosos…”, conclui, referindo-se às legislativas regionais que decorrem este ano.

Na segunda-feira, questionado pelos jornalistas sobre se Sérgio Marques deveria afastar-se do partido por iniciativa própria, Albuquerque, também líder do PSD/Madeira, disse: “O PSD é um partido livre e só está no PSD quem quer.”

Os deputados do PS na Assembleia Legislativa da Madeira anunciaram, no domingo, que vão solicitar uma comissão de inquérito para averiguar alegados favorecimentos do executivo madeirense a grupos económicos.

Na segunda-feira, por seu turno, os eleitos do JPP indicaram que vão chamar os empresários Luís Miguel de Sousa (Grupo Sousa) e Avelino Farinha (grupo AFA) ao parlamento madeirense para prestarem esclarecimentos sobre as declarações de Sérgio Marques e também do ex-governante regional Miguel de Sousa sobre o assunto.