Em março de 2019, no Estádio do Restelo e com toda a receita para seguir para fins solidários, Benfica e Sporting levaram 15.204 pessoas a assistir a um jogo de futebol feminino. O número, até hoje, é ainda a maior assistência de uma partida de futebol feminino em Portugal — ainda assim, se olharmos exclusivamente para encontros oficiais, o recorde absoluto era de um mesmo Benfica-Sporting, no passado mês de maio, que juntou 14.221 espectadores na Luz. Ou seja, este domingo, o objetivo era superar os 14.221 e sonhar com algo maior do que os 15.204.

Novamente no Estádio da Luz, desta feita a contar para os quartos de final da Taça de Portugal, o Benfica recebia o Sporting e um novo dérbi lisboeta procurava conquistar mais degraus na história do futebol feminino português. E se as contas da Liga BPI estão desequilibradas entre encarnadas e leoas — as primeiras lideram a classificação de forma isolada, as segundas estão no 4.º lugar atrás de Sp. Braga e Famalicão –, toda essa lógica poderia ser alterada noutra competição e num claro objetivo das duas equipas.

“Claro que estamos a passar por uma ótima fase internamente, temos estado à altura em tudo o que toca a provas nacionais. Mas, sendo um jogo da Taça de Portugal e a eliminar, pode haver surpresas. É um jogo em que não há segundas oportunidades e será marcado por momentos. Temos preparado tudo o que pode acontecer no jogo, não nos desviamos da identidade da equipa, tentando tornar-nos cada vez mais competentes. Manter a equipa compacta, uma equipa pressionante e que quer mandar no jogo. Haverá diferentes momentos do jogo. São jogos e jogos, são provas diferentes”, explicou Filipa Patão, treinadora de um Benfica que surgia na Luz vindo de três vitórias consecutivas.

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Do outro lado, com cinco triunfos seguidos, a lógica era semelhante. “Em todas as competições, independentemente de estarem difíceis ou não — e nós sabemos que o Campeonato está difícil –, vamos lutar por elas até ao fim. Neste caso, na Taça de Portugal, somos as detentoras do troféu e o nosso objetivo é, para já, ultrapassar os quartos de final. Queremos continuar este percurso e voltar ao Jamor, que é uma festa maravilhosa. Estes dérbis têm sido decididos muito no pormenor. O Benfica tem os seus pontos fortes, nós temos os nossos. Temos uma equipa muito jovem, que tem o ADN da formação, que está a crescer”, defendeu Mariana Cabral, a técnica leonina.

Neste contexto, dentro de campo, Patão lançava Jéssica Silva, Kika Nazareth e Ana Vitória no apoio a Cloé Lacasse, enquanto que Cabral colocava Ana Capeta, Joana Martins e Diana Silva no setor ofensivo e Cláudia Neto a comandar o meio-campo. Ao contrário do que as duas treinadoras tinham antecipado, porém, depressa se percebeu que este dérbi não seria decidido nos momentos, nos pormenores ou nos detalhes — até porque a óbvia superioridade de um dos lados fez-se sentir desde o apito inicial.

Em resumo, ao longo de toda a primeira parte, o Sporting raramente conseguiu passar do meio-campo de forma apoiada e só esticou o jogo em situações de transição, chegando ao intervalo sem qualquer oportunidade de golo ou aproximação perigosa à baliza de Rute Costa. Do outro lado, precisamente, verificou-se o contrário: o Benfica fazia o que queria no último terço adversário, com Catarina Amado a realizar uma exibição brilhante no corredor direito e a defesa leonina a mostrar-se completamente perdida.

De forma natural e expectável, Jéssica Silva abriu o marcador (15′), bisou para aumentar a vantagem (18′) e Ana Vitória fez o terceiro golo das encarnadas (38′), com o Benfica a chegar ao intervalo a vencer o Sporting de forma bastante esclarecedora. Pelo meio, um momento pouco habitual: a árbitra da partida mostrou o cartão branco às equipas médicas das duas equipas, que se uniram para assistir um espectador que se sentiu mal nas bancadas da Luz.

Ao intervalo, naturalmente, Mariana Cabral mexeu e trocou Alícia Correia e Melisa por Chandra Davidson e Carolina Beckert, com Davidson a ter desde logo a melhor oportunidade do Sporting até então com um remate cruzado que passou ao lado (46′). A resposta do Sporting, porém, não durou 10 minutos — e o Benfica aproveitou para chegar à goleada, com Ana Vitória a aproveitar a fragilidade absoluta da defesa adversária para bisar (52′).

O jogo assumiu algum equilíbrio a partir do quarto golo, até porque as encarnadas diminuíram a intensidade e as leoas não foram capazes de criar grandes ameaças, e tudo ficou fechado já no último quarto de hora quando Christy Ucheibe aumentou a vantagem de cabeça (76′) e Mariana Cabral acabou expulsa com vermelho direto por palavras dirigidas à árbitra da partida.

O Benfica goleou o Sporting no dérbi mais desnivelado — em termos exibicionais, pelo menos — da história recente e apurou-se para as meias-finais da Taça de Portugal. Na próxima quarta-feira, na 1.ª mão da meia-final da Taça da Liga e já no Seixal, as duas equipas voltam a encontrar-se. Pelo meio, fez-se história no futebol feminino português: 15.032 pessoas estiveram nas bancadas do Estádio da Luz, naquela que é desde já a maior assistência de sempre num jogo oficial.