Durante dois anos, e apesar da vitória do Arsenal frente ao Manchester City nas meias da Taça de Inglaterra de 2020, os duelos entre Pep Guardiola e o ex-adjunto Mikel Arteta eram vistos quase de forma paternalista perante a superioridade de jogo e no resultado que o mestre conseguia sempre impor ao aprendiz. Houve duas goleadas mais pesadas nesse confronto direto mas, de uma forma ou outra, a regra costumava apontar para um triunfo dos citizens frente aos gunners por números a definir – e se recuarmos ao tempo em que os dois espanhóis estavam na mesma equipa técnica, eram 12 vitórias nos últimos 13 encontros. Agora, com uma temporada quase perfeita do conjunto de Londres, o contexto mudou. E era também há luz desses cinco pontos de avanço na Premier League com menos uma partida realizada que chegava o jogo da Taça.

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“É a Taça de Inglaterra, é uma final e é mais do que simplesmente jogar contra o Arsenal. Trata-se de provar a nós mesmos o quão longe ou quão perto estamos deles e a melhor maneira de perceber é fazer um jogo ao mais alto nível. Carreira do Arteta? Lembro-me de quando marcávamos golos, a comemorar, ele saltava sempre muito, menos contra uma equipa, em que ele ficava sempre sentado. Era contra o Arsenal. Naquela altura sabia o quanto ele amava o Arsenal. Sei que foi para o clube dele, do qual é adepto. Foi capitão lá. Era como se eu estivesse aqui como treinador adjunto e o Barcelona me ligasse. Eu ia, é o meu clube”, confidenciou Pep Guardiola sobre o antigo companheiro que jogou cinco épocas nos gunners até 2011.

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“Premier League? Preferia fazê-lo com outros treinadores, desejo-lhe o melhor. Quando estamos neste tipo de luta surge sempre alguma coisa pelo meio. É uma sensação estranha. Vai ser um grande desafio para nós diante, na minha opinião, a melhor equipa do mundo. Reforços de inverno? O Trossard é um jogador com muita vontade e muito sereno no último terço, precisávamos de um jogador como ele no plantel. Já o Jakub dá-nos mais opções no centro da defesa. Tínhamos apenas três centrais, que é um número curto para atacar a época. Se houver no mercado algo disponível que consiga elevar o nosso nível, nós teremos isso em atenção”, lançou Mikel Arteta antes da partida que abria a quarta ronda da Taça de Inglaterra.

Muitos elogios que são mais do que palavras de circunstância, perspetivas diferentes na abordagem ao jogo a nível de opções iniciais – o que mostrava a tal importância de uma vitória para cada equipa. No lado do City, Pep Guardiola fez apenas duas alterações em comparação com a equipa que iniciou a partida com o Wolves, trocando na retaguarda de guarda-redes (Ortega por Ederson) além de Laporte por Nathan Aké e mantendo João Cancelo, Rúben Dias e Bernardo Silva no banco; da parte dos londrinos, seis mexidas em relação ao conjunto que bateu na última ronda o Manchester United, mantendo apenas Gabriel, Partey, Xhaka, Saka e Nketiah e apostando em Fábio Vieira, entre outros. No final, sobrou a vitória dos visitados com um golo de Nathan Aké, um jogador do qual Guardiola não prescinde pelo momento, pela qualidade e pela inteligência com que consegue interpretar todos os papéis táticos que o técnico espanhol lhe confere.

Apesar da possível ou teórica diferença de valores (e ritmos) entre os dois conjuntos, os visitados tiveram mais posse e controlo como é normal mas o Arsenal não ficou em nada atrás até ao intervalo entre remates e entradas com perigo no último terço. Takehiro Tomiyasu teve o primeiro aviso para uma defesa apertada de Ortega (5′), Trossard conseguiu a melhor oportunidade com um remate cruzado para nova intervenção do alemão (21′), Nketiah desviou ao primeiro poste ao lado (32′) e a única sensação de perigo criada pela equipa de Pep Guardiola foi mesmo um remate de meia distância de Kevin de Bruyne que passou a rasar o poste (25′). Até Erling Haaland, tirando uma bola em que quase ganhou a profundidade perante o adormecimento de Rob Holding, pouco ou nada fez no plano ofensivo. Golos na primeira parte, nada, mas com essa notícia que saía dos 45 minutos iniciais entre ambos esta época: os gunners cresceram muito.

O segundo tempo começou com as mesmas características entre um domínio mais acentuado dos visitados (ou uma maior incapacidade do Arsenal em estender jogo até ao último terço) mas tudo mudaria com a entrada de Julian Álvarez para jogar nas costas de Haaland. Aliás, bastaram pouco mais de cinco minutos para o marcador funcionar pela primeira vez, com o campeão mundial argentino a rematar ao poste e Jack Grealish a assistir Nathan Aké para um “passe” para a baliza sem hipóteses para Matt Turner (64′). Apesar de algumas tentativas de investidas de Zinchenko, Odegäard e Martinelli, o encontro já estava resolvido, abrindo ainda mais curiosidade sobre como será o novo duelo entre ambos no Etihad a meio do mês de fevereiro para a Premier League e com os londrinos a terem em campo toda a armada titular.