Uma primeira edição em 1990 com o Grémio a vencer o Vasco da Gama numa eliminatória a duas mãos (2-0 e 0-0), uma segunda edição na época seguinte com o Corinthians a bater o Flamengo no Morumbi (1-0), um longo interregno de quase três décadas na competição até ao regresso em 2020. A Supertaça do Brasil não é propriamente uma prova com um grande histórico mas tem vindo a ganhar um peso crescente nestes últimos três anos em que colocou em confronto o vencedor do Campeonato e da Taça. Um peso que, quase sempre, assenta em treinadores portugueses. Em 2020 Jorge Jesus bateu o Athl. Paranaense pelo Flamengo (3-0), em 2021 Abel Ferreira perdeu nas grandes penalidade com o Flamengo pelo Palmeiras. Agora, e pela primeira vez, eram dois os técnicos nacionais em confronto com trajetos diferentes mas a mesma ambição.

“Acho que já demos provas de que seguiremos o nosso caminho, com trovoada e chuva. Estamos a conseguir endireitar o clube em todos os aspetos. O clube está a esforçar-se para trazer jogadores. Não quero usar os erros do passado. Quero jogadores prontos, que façam a diferença, não para formar. Para formar eu tenho a formação”, comentara Abel Ferreira na antecâmara do jogo, pedindo também calma aos adeptos pela falta de reforços que levou a que as paredes do estádio fossem pintadas com críticas. “A Supertaça era domingo e agora foi para sábado porque é um horário nobre. O nosso clube tem uma coisa que não sei se é boa ou má: quando é para reclamar, nunca reclama publicamente. Vai sempre por email. Se é da arbitragem, é por email, vai tudo por email e não pode ser. Basta. O treinador treina, os jogadores jogam e a direção tem de dirigir. Dirigir é posicionar-se. Não pode ser só mandar email“, lamentou ainda o técnico do Palmeiras.

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“Como me sinto antes da Supertaça? Motivado. É um jogo grande entre duas equipas fortes, que têm os seus argumentos coletivos e individuais num estádio cheio. Portanto é uma final que espero que seja bem jogada. E espero ganhá-la. Acredito que, com a experiência e a forma como direcionamos os trabalhos, que a equipa amanhã se vai apresentar preparada para enfrentar o Palmeiras”, destacara Vítor Pereira, técnico que está no comando do Flamengo há poucas semanas. “O Palmeiras é uma equipa muito bem trabalhada pelo Abel. É um trabalho que já tem alguns anos. Estão habituados a ganhar e a lutar por finais tal como o Flamengo também está. São dois clubes que se estruturaram para chegar a este momento e serem agora considerados os mais fortes do Brasil e provavelmente da América do Sul”, acrescentou ainda o treinador.

A rivalidade entre clubes era crescente, os próprios treinadores tinham outros dados por superar. Do lado de Abel Ferreira, a procura da primeira vitória em 90 minutos frente ao Flamengo depois de quatro empates e três derrotas que pudesse valer o sétimo troféu pelo Verdão em menos de dois anos e meio a seguir a duas Taças dos Libertadores, uma Supertaça Sul-Americana, um Campeonato, uma Taça e um Paulistão. Da parte de Vítor Pereira, a procura do primeiro triunfo contra o Palmeiras de Abel Ferreira após três derrotas averbadas nos encontros que fez no ano passado no comando do Corinthians. Numa fase em que ambas as equipas procuram ainda reforços para superar saídas chegava o primeiro troféu da temporada.

Até ao momento, e numa época que fica assinalada pela presença de sete treinadores portugueses na Serie A do Campeonato brasileiro (além de Abel Ferreira e Vítor Pereira, Luís Castro no Botafogo, António Oliveira no Coritiba, Pedro Caixinha no Red Bull Bragantino, Ivo Vieira no Cuiabá e Renato Paiva no Bahia), têm sido jogado apenas os estaduais. No Carioca, o Flamengo lidera com 11 pontos mas mais um jogo, tendo três vitórias e dois empates; no Paulistão, o Palmeiras lidera com oito pontos o grupo D, tendo duas vitórias e dois empates. Ou seja, ninguém perdera antes da final. E esse primeiro desaire tocou mesmo à equipa de Vítor Pereira, com Abel Ferreira a sair por cima numa autêntica final de loucos em Brasília.

O encontro começou com muitas faltas e poucas oportunidades, sendo que o primeiro lance de perigo até foi mais “consentido” do que conquistado com Santos a bater contra Endrick e Rony a não conseguir desviar de cabeça para a baliza (20′). Não marcou o Palmeiras, marcou o Flamengo e pelo suspeito do costume, Gabriel Barbosa, que converteu uma grande penalidade por falta de Zé Rafael sobre Arraescaeta à entrada da área depois de ter ficado a pedir uma infração do uruguaio (26′). No entanto, e até ao intervalo, o Palmeiras iria fazer a reviravolta com Raphael Veiga a conseguir dominar uma bola na área para rematar de pé esquerdo rasteiro sem (38′) e Gabriel Menino, já em tempo de compensação, a colocar uma bomba no ângulo da baliza de Santos (45+4′). Pelo meio, Abel Ferreira viu amarelo entre protestos com a arbitragem.

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O jogo já estava bom, o reinício foi ainda melhor e logo no primeiro quarto de hora do segundo tempo houve mais três golos que deixavam tudo em aberto para a derradeira meia hora: Gabriel Barbosa recebeu bem de Éverton Ribeiro e não desperdiçou isolado frente a Wéverton (51′), Raphael Veiga recolocou o conjunto de São Paulo na frente na transformação de uma grande penalidade (58′), Pedro voltou a empatar tudo com um toque de classe de calcanhar a finalizar uma assistência de Ayrton (61′). A tensão era muita num jogo de loucos no Mané Garrincha, João Martins (adjunto de Abel Ferreira) foi expulso mas seria o Palmeiras a passar de novo para a frente do marcador, com Gabriel Menino a bisar e a fazer o 4-3 final (74′), entre muitos nervos à flor da pele nos últimos minutos que levaram também à expulsão de Abel Ferreira.

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