A última quarta-feira não foi propriamente a mais tranquila para Enzo Fernández, mesmo tendo a situação definida depois de uma corrida contra o tempo entre Benfica e Chelsea para fechar negócio que na verdade funcionou mais como jogo da corda entre o toma-lá-dá-cá do que propriamente um braço-de-ferro depois de Rui Costa ter percebido que o médio argentino que tinha sido uma solução ao longo de cinco meses estava a correr o risco de se tornar um problema perante o forcing para rumar de imediato à Premier League: o agora campeão mundial saiu de Lisboa rumo a Londres num avião privado, cumpriu os compromissos que são habituais numa contratação, despediu-se dos encarnados, apresentou-se através dos meios oficiais dos londrinos e terminou a jantar com o “outro 120 milhões” (até mais do que isso) da Luz, João Félix.

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Em condições normais, a dupla que é vista como o motor da revolução dos londrinos na segunda metade da temporada deveria fazer a estreia em Stamford Bridge, no caso do português depois de uma entrada em falso em que jogou bem durante quase uma hora antes de ser expulso com vermelho direto e ficar três encontros de fora. No entanto, e numa informação do The Times, o argentino não teria o visto de trabalho aprovado a tempo, tendo assim de adiar os primeiros minutos pelo Chelsea. Em paralelo, Félix cumpria o terceiro e último encontro de suspensão três semanas depois da expulsão. Não foi o que aconteceu, no caso do argentino. E seja pelos reforços, seja pelo montante global de investimento em janeiro (330 milhões) e na temporada (mais de 610 milhões), os blues passarão a ser um ponto de interesse da Premier, a começar pela receção ao Fulham que estava no sétimo lugar com mais dois pontos do que os rivais londrinos.

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“Todas as transferências são uma aposta mas se olharmos para o mercado de jogadores do meio-campo, mesmo médios que não tenham ganho o Mundial, será sempre pedido muito dinheiro. Temos um jogador com uma forte personalidade. Jogou pela Argentina que ganhou o Mundial. Tem atributos que fazem com que possa jogar em qualquer campeonato do mundo e jogou bem na Liga dos Campeões. Já o seguíamos antes do Mundial, conhecemos bem as suas qualidades. Estamos confiantes na personalidade do jogador. Ainda é jovem a chegar a este país. Será preciso adaptar-se ao clube. Mas iremos ajudar nisso e tem uma personalidade em que pensamos logo ‘não vamos ter problemas'”, comentara Graham Potter sobre a contratação de Enzo, admitindo o desafio que será manter todos motivados no balneário.

Com melhores ou piores nomes, com mais ou menos opções, o mais importante mesmo era o regresso aos triunfos do Chelsea depois de um arranque tenebroso de ano civil que chegou a colocar o próprio treinador em risco: derrota com o Manchester City para a Premier League, goleada sofrida com o Manchester City na Taça de Inglaterra, novo desaire fora diante do Fulham, uma vitória pela margem mínima com o Crystal Palace, um nulo com o Liverpool. Agora, a receção ao conjunto de Marco Silva chegava como uma possível rampa de lançamento para a redenção sem margem de erro, perante os dez pontos de atraso para a zona de qualificação para a Liga dos Campeões. E o cenário não melhorou, com a única notícia positiva a ser mesmo a rápida adaptação de Enzo Fernández ao futebol inglês e à equipa. No entanto, não chegou para desfazer o nulo. Há muito trabalho ainda por fazer que nem todo o dinheiro do mundo consegue comprar.

Enzo Fernández à parte, que chegou para entrar na equipa como ‘6’ à frente dos centrais, a equipa inicial do Chelsea teve outras surpresas: Ziyech, que só não é jogador do PSG porque os ingleses terão enviado três vezes de forma errada a documentação (algo que os franceses desconfiaram ser sabotagem à última…), foi titular na direita do ataque; Gallagher, que recebeu várias propostas de empréstimo e só não saiu porque o clube queria uma proposta de venda definitiva, atuou à frente de Enzo no apoio a Mason Mount; Mudryk assumiu a titularidade pela esquerda, numa posição que parecia destinada a João Félix. E com isso ficaram no banco nomes como Koulibaly, Sterling, Azpilicueta, Noni Madueke ou David Fofana, os dois últimos reforços de inverno. Potter tentava definir um novo 4x3x3 mas a magia prometida continuava adiada.

Havertz foi o perdulário de serviço ao longo da primeira parte, com um remate defendido por Leno (20′), um desvio por cima após assistência de Mason Mount que só não deu golo porque houve ainda um desvio ao de leve na bola antes do toque do alemão (32′) e uma bola no poste num chapéu após ganhar a profundidade (45′). Do outro lado, Andreas Pereira obrigou Kepa à melhor intervenção do primeiro tempo no seguimento de uma recuperação com assistência de Palhinha, muito cedo tapado por um amarelo (25′). No entanto, foi a exibição de Enzo Fernández que foi fazendo furor em Stamford Bridge e nas redes sociais, com 87% de eficácia de passe, nove recuperações, 59 toques e seis dos sete duelos ganhos a ficarem na retina.

Ao intervalo, Mudryk acabou por ser substituído por Noni Madueke, outra das contratações surpresa neste mercado de janeiro. A certa altura o Fulham ainda deu sinais de que poderia adiantar-se no marcador em saídas rápidas quando o encontro estava mais partido mas foi o Chelsea a carregar no ataque com várias oportunidades que nunca conheceram o melhor destino, incluindo um remate do próprio Enzo Fernández, a jogar um pouco mais à frente como tanto gosta, que passou muito perto do poste. As apostas de Potter iam saindo do banco mas nenhuma conseguiu o clique necessário para desfazer o nulo e o Chelsea prolongou esse registo muito aquém em 2023, tendo apenas uma vitória (e por 1-0) em seis jogos realizados contra um Fulham que prolonga a excelente época com um João Palhinha cada vez em melhor momento.