Presidiu o Governo Regional da Madeira durante quase 40 anos. É conselheiro de Estado por inerência e um histórico do PSD mas mesmo prefere elogiar Sócrates e criticar Passos Coelho — em quem diz que nunca votará, caso regresse à política ativa.

Em entrevista ao Diário de Notícias, o ex-presidente do Governo Regional da Madeira diz ter “saudades do doutor Mário Soares” mas presta a maior homenagem a Francisco Sá Carneiro, o líder histórico dos social-democratas. E não poupa nas críticas a Santana Lopes, que classifica de “imprevisível”.

Passos Coelho, contudo, é o destinatário das críticas mais duras. Classificando o ex-primeiro-ministro como “um situacionista político”, que “nunca tolerou que fosse um adversário do sistema constitucional”, Alberto João diz mesmo que Passos “nunca entendeu as autonomias” por ser um “retornado de África”.

O ex-líder do PSD/Madeira não perdoa a Passos Coelho o apoio que deu a Miguel Albuquerque para o substituir, em vez de apoiar a continuidade de Alberto João. “Nem sequer um ‘Olha, obrigado Jardim’. Nada. Foi como se eu não existisse. Isto é ofensivo. Vim a saber que ele tinha dito numa reunião que ‘o Jardim, daqui a três meses, ninguém se lembra dele'”, recorda.

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Jardim sempre foi um crítico da governação de Passos Coelho durante o tempo da troika e acusa agora o ex-primeiro-ministro de  “política de genocídio social. Não se recupera uma economia cortando salários, recupera-se travando a inflação. Não se tira poder de compra às pessoas. Não se vai tirar a uns desgraçados, já com reformas vergonhosas, o pouco que têm. O que ele fez ao país é imperdoável. É a negação da social-democracia”.

Por isso mesmo, quando questionado sobre o que faria se Passos Coelho regressasse à política ativa, Alberto João é peremptório: “Se ele vier eu tenho que votar noutra pessoa qualquer.”

O elogio a José Sócrates

Já José Sócrates, que antecedeu Passos Coelho e que teve de se demitir em 2011 após ter chamado a troika, só merece elogios do ex-líder madeirense.

Para ex-presidente, o socialista “foi impecável” e “acabámos amigos”. A propósito, Jardim recorda uma história relacionada com a transferência de apoios da República para a Madeira.

“Estava de férias no Porto Santo e telefona-me o Sócrates: ‘Tenho uma proposta para lhe fazer. Suspende-se o que está no Orçamento do Estado [OE], arranja-se uma lei para isso, por quatro anos. E eu compenso. O dinheiro que você ia receber dali do OE, vai receber na lei de apoio à recuperação dos aluviões’. E eu: ‘Ó homem desde que eu não perca dinheiro você faça como quiser.'”

O problema é que Fernando Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças de Sócrates, não estava a par de nada. “Quando precisar de tratar coisas das Finanças vai falar com o Emanuel dos Santos”, disse Sócrates a Jardim, referindo-se a um secretário de Estado das Finanças que era da confiança do então primeiro-ministro.

Anos depois, confessou a história a Teixeira dos Santos. “Só soube disto por mim, um dia que me convidou para jantar, anos depois. Ficou branco”, relembrou com risos.

Para terminar, Jardim ainda deixou mais uma pérola. “Podem chamar-me tudo, mas se dizem que sou ladrão… aí vou ao focinho aos gajos“, concluiu.