A ideia nunca morreu, nunca deixou de estar em cima da mesa e nem sequer foi arrumada numa gaveta: a vontade de alguns de romper com o status quo e criar uma nova Superliga Europeia foi sempre uma realidade apesar de a tentativa inicial ter falhado redondamente. Esta quinta-feira, a segunda tentativa começou a ganhar corpo.

Numa entrevista ao jornal alemão Die Welt, o CEO da A22 Sports Management — a empresa fundada para criar, gerir e promover a Superliga Europeia — explicou que a nova versão da competição não teria membros permanentes e seria baseada unicamente na performance desportiva. Ou seja, um corte total com a principal premissa da proposta original.

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“As bases do futebol europeu estão em risco de colapsar. É tempo de mudar. São os clubes quem carrega o risco empresarial no futebol. Mas quando estão em causa decisões importantes, são muitas vezes forçados a ficar sentados a assistir de fora enquanto que as bases desportivas e financeiras desmoronam à sua volta”, começou por referir Bernd Reichart.

Em resumo, de acordo com o CEO da A22, a nova versão da Superliga Europeia inclui 60 a 80 equipas, quatro divisões, um mínimo de 14 jogos disputados por cada clube em cada temporada e um modelo totalmente aberto — ou seja, com qualificação direta ou indireta através das competições internas, como acontece com a Liga dos Campeões, a Liga Europa e a Liga Conferência. Em 2021, a primeira proposta integrava apenas 20 equipas: os 12 membros fundadores e outros três clubes que nunca chegaram a ser nomeados, que teriam uma participação garantida e permanente, e outras cinco equipas que se qualificariam anualmente com base nos resultados domésticos.

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Na altura, depois da condenação total da FIFA e da UEFA, Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham abandonaram a Superliga Europeia no espaço de 48 horas e na sequência de protestos ruidosos dos adeptos e da massa associativa. Real Madrid, Barcelona e Juventus, porém, nunca abandonaram o projeto — mesmo com a particularidade de Andrea Agnelli, um dos principais impulsionadores da nova competição, já não ser presidente do clube italiano e ter sido acusado de irregularidades financeiras que retiraram 15 pontos aos bianconeri na Serie A.

Ao Die Welt, Bernd Reichart acrescentou ainda que a A22 consultou quase 50 clubes europeus desde o passado mês de outubro e, com base nessas conversas, delineou um conjunto de 10 princípios que serão a base da Superliga Europeia. “As conversas que tivemos tornaram claro que os clubes acham impossível falar publicamente contra um sistema que usa a ameaça de sanções para anular a oposição. O nosso diálogo foi aberto, honesto e construtivo e deu origem a ideias claras sobre as mudanças que são necessárias e a forma como podem ser implementadas. Há muito para fazer e vamos continuar este diálogo”, explicou.

A nova proposta, porém, já está a receber críticas. Nas redes sociais, o presidente da La Liga associou a Superliga Europeia à imagem de um lobo. “Hoje disfarça-se de avó para tentar enganar o futebol europeu mas o nariz e os dentes são demasiado grandes. Quatro divisões na Europa? Claro que a primeira é para eles, como na reforma de 2019. Controlo dos clubes? Claro, mas só dos grandes”, escreveu Javier Tebas, que tem sido um dos principais críticos da suposta nova competição.