A vida tem coisas que a própria razão desconhece. A vida, o destino, as leis incontestadas do mundo. Este sábado, na Turquia e depois de inicialmente ter sido noticiado que havia sido resgatado, Christian Atsu foi confirmado como uma das milhares de vítimas mortais do violento sismo de há duas semanas. Também este sábado e no Dragão, defrontavam-se FC Porto e Rio Ave, as duas equipas que o ganês representou no futebol português.

Antes do apito inicial, quando já se agitava uma bandeira com a imagem de Atsu nas bancadas do estádio, as duas equipas uniram-se para uma homenagem ao médio que estava no Hatayspor. Lado a lado, Guga e Pepe exibiram as camisolas que o jogador utilizou no FC Porto e no Rio Ave, o 20 dos dragões e o 27 dos vilacondenses, e recordaram o ganês, que tinha apenas 31 anos.

Ficha de jogo

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FC Porto-Rio Ave, 1-0

21.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Vítor Ferreira (AF Braga)

FC Porto: Diogo Costa, João Mário, Pepe, Marcano, Wendell (Zaidu, 74′), Grujic, Stephen Eustáquio, André Franco (Bernardo Folha, 83′), Pepê, Taremi (Gonçalo Borges, 74′), Toni Martínez (Danny Loader, 83′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, David Carmo, Rodrigo Conceição, Fernando Andrade, Vasco Sousa

Treinador: Sérgio Conceição

Rio Ave: Jhonatan, Josué Sá (Hernâni, 81′), Aderllan Santos, Pantalon, Costinha (Paulo Vítor, 83′), Samaris (Sávio, 81′), Guga, João Graça (Miguel Baeza, 69′), Fábio Ronaldo, Boateng, André Pereira (Leonardo Ruiz, 69′)

Suplentes não utilizados: Magrão, Miguel Nóbrega, Patrick William, Ukra

Treinador: Luís Freire

Golos: Toni Martínez (44′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Fábio Ronaldo (32′), a Pantalon (44′), a João Mário (65′), a André Pereira (67′), a Pepê (90+1′)

Em campo, o FC Porto tinha a oportunidade de ficar à condição a dois pontos da liderança do Benfica, já que os encarnados só defrontam o Boavista na próxima segunda-feira. Na antecâmara de uma semana que tem uma deslocação a Milão para defrontar o Inter na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, Sérgio Conceição não podia contar com sete jogadores devido a lesões e pedia o esforço extra dos adeptos.

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“Não tendo gente para completar o banco, peço que o 12.º jogador — neste caso, o 19.º e o 20.º — seja o público. Se há jogos em que vamos precisar de apoio, é neste. É um apelo que faço a todos os sócios, simpatizantes, adeptos, pessoas que gostam das cores azul e branco e que tem como emblema o dragão, que apareçam para nos apoiar. Vamos ter momentos difíceis no jogo precisamos desse apoio. Estou a lembrar-me de uma ou outra assobiadela contra o Vizela, depois da ganharmos a Taça da Liga e com alguns jogadores de fora após um jogo difícil na Madeira. O que é absolutamente normal, porque temos adeptos exigentes, apaixonados, que querem ver sempre a equipa a cilindrar os adversários. Mas nem sempre é possível. Essa compreensão e percepção do momento é importante. Daí o apelo a todos os adeptos para que amanhã nos possam apoiar do início ao fim”, disse o treinador, que convocou Fernando Andrade pela primeira vez esta temporada, na antevisão.

Assim, sem Uribe, Otávio, Galeno, Gabriel Veron e Evanilson, Conceição lançava Grujic, Eustáquio e André Franco no meio-campo, colocando Toni Martínez ao lado de Taremi no ataque. Do outro lado, num Rio Ave que venceu o Estoril na última jornada, Luís Freire não podia contar com o experiente Vítor Gomes e apostava em André Pereira e Boateng no setor mais adiantado.

O FC Porto assumiu o controlo da partida de forma natural, posicionando-se quase sempre à entrada do meio-campo do Rio Ave, mas demonstrava algumas dificuldades para desembrulhar o próprio jogo. Os vilacondenses pareciam dar aos dragões um pouco do próprio veneno: não recuavam demasiado, mantinham a última linha bastante subida e procuravam implementar uma reação rápida e eficaz à perda da bola. Pelo meio, controlavam Eustáquio e André Franco, bloqueando o transporte da bola do setor intermédio para o ofensivo.

O jogo chegou aos 20 minutos sem qualquer remate efetuado e a primeira ocasião de mais perigo pertenceu a André Pereira, que acertou mesmo na baliza mas viu o golo ser anulado por fora de jogo (23′). O lance, porém, abriu a porta a um período em que o Rio Ave esteve muito perto de abrir o marcador em diversos momentos — e em que o FC Porto parecia não ter capacidade para empurrar o adversário para trás e explorar o ataque.

Diogo Costa foi preponderante em três lances, defendendo um livre direto de Samaris (28′), um remate de fora de área de Guga (31′) e outro pontapé de longe do capitão vilacondense (34′). Ainda assim, e numa altura em que as duas equipas já preparavam a saída para o intervalo, acabou por ser o FC Porto a marcar: Wendell recebeu na esquerda após um livre e cruzou rasteiro para a área, com Taremi a permitir que a bola prosseguisse e Toni Martínez a aparecer ao primeiro poste a desviar para bater Jhonatan (44′).

No fim da primeira parte, os dragões estavam a vencer o Rio Ave pela margem mínima e demonstravam uma eficácia assinalável, com um golo marcado no único remate enquadrado realizado. Do outro lado, contudo, a equipa de Luís Freire já tinha dado mostras de que tinha capacidade para discutir o resultado no Dragão — principalmente num dia em que o conjunto de Sérgio Conceição estava bem abaixo do habitual, com uma exibição cinzenta e pouco inspirada.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo mas o FC Porto prolongava as mudanças táticas que implementou ainda na primeira parte e que iam fazendo a diferença: Taremi atuava atrás de Toni Martínez e não ao lado e Eustáquio aparecia mais subido no terreno, algo que facilitava a transição ofensiva. O internacional canadiano era mesmo o elemento mais importante dos dragões, entre as recuperações de bola que protagonizava e o autêntico pêndulo que era para toda a equipa, numa aposta de Sérgio Conceição que se ia revelando acertada.

Ainda assim, e com o resultado a manter-se na margem mínima, o Rio Ave estava completamente dentro do jogo e ficou perto do empate por intermédio de Boateng, que atirou à malha lateral numa altura em que estava quase isolado na cara de Diogo Costa (58′). Luís Freire mexeu a cerca de 20 minutos do fim, lançando Miguel Baeza e Leonardo Ruiz, e foi nesse período que soou o alarme no FC Porto: Diogo Costa caiu no chão, com queixas na perna direita, e esteve a ser assistido durante muito tempo enquanto Cláudio Ramos realizava exercícios de aquecimento. Ainda assim, o internacional português acabou por ficar em campo.

Sérgio Conceição fez as primeiras substituições à entrada para o derradeiro quarto de hora, trocando Taremi e Wendell por Gonçalo Borges e Zaidu, e ainda colocou Bernardo Folha e Danny Loader — mas nenhuma alteração teve grande impacto na equipa. Os dragões não conseguiam controlar as ocorrências por completo e não evitaram que o jogo partisse, abrindo a porta a algumas transições rápidas vilacondenses que poderiam ter alterado o resultado.

No fim, porém, o FC Porto venceu mesmo o Rio Ave e ficou a condição a dois pontos da liderança do Benfica, esperando agora pelo resultado dos encarnados contra o Boavista na segunda-feira. O herói foi Toni Martínez, o MVP foi Stephen Eustáquio, o iluminado continua a ser Pepê: mas este sábado, no Dragão, qualquer vitória seria sempre por e para Christian Atsu.