Foi mesmo um jogo de tabuleiro. A determinado ponto uma peça ficou comprometida pela possibilidade de outra a derrubar. Porém, restavam mais. Não é por se sacrificar um peão que se deixa de poder ser rei. Roger Schmidt entendeu que o caminho para o xeque-mate era esse. Ao intervalo, tirou Florentino e lançou Neres e as peças voltaram a estar posicionadas favoravelmente para que no fim, fruto de uma segunda parte de luxo, a vitória por 3-1 frente ao Boavista sorrisse ao Benfica.

Os encarnados têm tido a habilidade de maquilhar os poucos desaires que têm tido pelo caminho com feitos positivos como resposta. Após a dura derrota em Braga que ditou a eliminação da Taça de Portugal, o Benfica foi a Brugge e, mesmo sem encantar, conseguiu uma vantagem importante rumo quartos de final da Liga dos Campeões. Assim, o resultado no Minho ficou esquecido. A equipa da Luz voltava, diante do Boavista, no Estádio da Luz, aos jogos em território nacional. O FC Porto já havia feito a sua parte e estava, à condição, a dois pontos da liderança do campeonato ocupada pelo Benfica, abrindo espaço a um comentário gélido de Roger Schmidt: “temos pressão toda a temporada”.

O treinador alemão repetiu o onze inicial que usou na Bélgica, à exceção de Bah que foi expulso frente ao Sp. Braga e, tal como Morato e Ristic, foi ausência. O banco do Benfica estava cheio de juventude a querer contribuir. A grande novidade foi Rafael Rodrigues, lateral-esquerdo que venceu a UEFA Youth League de águia ao peito. Mas não era tudo. João Neves, Andreas Schjelderup e Casper Tengsted davam ao local um ar de uma reunião de jovens à espera que a mãe os fosse buscar à escola.

Ficha de Jogo

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Benfica-Boavista, 3-1

21.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, Lisboa

Árbitro: Hélder Malherio (AF Lisboa)

Benfica: Odysseas Vlachodimos, Gilberto (Lucas veríssimo, 84′), António Silva, Otamendi, Grimaldo, Florentino (Neres, 45′), Chiquinho (João Neves, 90+2′), João Mário, Rafa (Guedes, 74′), Aursnes e Gonçalo Ramos (Musa, 84′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Casper Tengsted, Andreas Schjelderup e Rafael Rodrigues

Treinador: Roger Schmidt

Boavista: Bracali, Pedro Malheiro, Cannon, Sasso, Bruno Onyemaechi, Ricardo Mangas (Luís Santos, 85′), Makouta, Ibrahima Camará (Martim Tavares, 85′), Bruno Lourenço (Vukotic, 78′), Salvador Agra (Gorré, 56′) e Yusupha

Suplentes não utilizados: César, Robson, Bozeník, Masa, Filipe Ferreira

Treinador: Petit

Golos: Gilberto (55′), Yusupha (58′), Gonçalo Ramos (82′) e Musa (90+2′)

Ação disciplinar: Bruno Lourenço (14′), Ibrahima (18′), Sasso (72′), João Mário (73′), Gorré (77′) e Bruno (88′)

Os encarnados entraram bem. Ainda os adeptos no estádio recuperavam os olhos do intenso espetáculo luminoso que marca os momentos que antecedem o perfilar das duas equipas em campo e Rafa só não marcou, porque, talvez afetado pela cor, viu o alvo um pouco mais ao lado do que ele estava efetivamente. O arranque entusiasmava, mas não teve seguimento nos momentos imediatamente a seguir. Gonçalo Ramos foi responsável por acertar um remate na malha lateral. Alguns benfiquistas vão pedir mudança do lugar anual no estádio devido ao sofrimento que a perspetiva para o relvado os levou a passar quando lhes pareceu que estava feito o primeiro sem que isso tivesse verdadeiramente acontecido.

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O Benfica tentava desembaraçar-se do amontoado de jogadores que tinha pela frente e falhava compulsivamente. Mérito da intensidade dos jogadores do Boavista que condicionavam com rigor o portador da bola. Desse modo, os encarnados tentaram conquistar espaço através da cedência de terreno. Parece paradoxal, mas resultou. Uns segundos da bola na posse dos comandados de Petit, que tentavam colocar o lateral-direito Pedro Malheiro no corredor central para atrair o posicionamento de Grimaldo e Aursnes e libertar espaço à largura para Ricardo Mangas ou Salvador Agra, e a equipa da Luz criou a melhor ocasião que teve para marcar no primeiro tempo. Gonçalo Ramos elevou-se e cabeceou para um corte de Reggie Cannon em cima da linha de golo.

Na segunda parte, Roger Schmidt lançou David Neres para o lugar do médio defensivo Florentino e a movimentação teve efeitos imediatos. O Benfica tornou-se muito mais acutilante e vertical nas suas ações. O brasileiro esteve na cara do guarda-redes do Boavista, Bracali, mas permitiu a defesa. Não houve, no entanto, forma de conter o ímpeto encarnado. Grimaldo cruzou a partir da esquerda, Rafa cabeceou para nova defesa de Bracali. Na recarga, Gilberto (55′) marcou foi com tudo para o golo.

O Boavista ainda não se tinha mostrado no ataque. Também Petit teve uma substituição acertada. O técnico lançou Gorré que esteve dois minutos em campo até assistir Yusupha (58′). Estava de novo tudo empatado sem que as águias pudessem saborear a vantagem. O Benfica não conseguiu fazer mais nada a não ser reagir, mas sofreu golpe que teria feito os menos resilientes desistirem. Sasso cometeu falta sobre Rafa dentro da área e, após indicação do VAR, o árbitro do encontro, Hélder Malheiro, assinalou grande penalidade. João Mário rematou para o seu lado direito, o mesmo para onde voou Bracali. Mais uma vida para o Boavista.

Dentro dos últimos dez minutos do encontro, o esforço de uma segunda parte de nível elevado, foi coroado com a vantagem. Gonçalo Ramos (82′), com um remate que entrou na baliza lentamente, adiantou o Benfica. Já para lá da hora, Musa (90+2′) vestiu o resultado em tons de tranquilidade.