Um ainda está em processo de venda, o outro foi notícia depois de ter sido vendido. Um tem um currículo invejável sendo o clube com mais Campeonatos em Inglaterra, outro não ganha um Campeonato há quase um século mas nem por isso deixou de ter equipas altamente competitivas nos anos 90. Um tenta regressar aos velhos tempos em que era candidato a tudo, outro procura volta às fases em que andava nas posições cimeiras em todas as provas nacionais em que compete. Manchester United e Newcastle podem andar longe do que foram e conseguiram ser mas encontraram na presente temporada uma rampa de lançamento para outros voos que os consigam catapultar para posições que atingiram no passado. Agora, ambos jogavam a final da Taça da Liga e o regresso aos triunfos que andavam há algum ou muito tempo arredados.

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Do lado do Manchester United, que atravessava um momento melhor com sete vitórias e dois empates após o desaire frente ao Arsenal que travou uma longe série de triunfos consecutivos, uma vitória seria quase como um prémio para a afirmação do projeto de Erik ten Hag depois de um arranque complicado. Agora, com a equipa mais habituada à ideia de jogo, os red devils chegavam aos últimos dias de fevereiro na final da Taça da Liga, em terceiro a oito pontos do líder Arsenal na Premier, nos oitavos da Taça de Inglaterra e também nos oitavos da Liga Europa, depois de afastarem o Barcelona com um triunfo na última quinta-feira em Old Trafford apesar de terem começado em desvantagem. Marcus Rashford, com a melhor época de sempre (24 golos e sete assistências em 37 jogos), era a grande figura da equipa, Bruno Fernandes mantinha o papel de principal referência e capitão depois da saída de Cristiano Ronaldo entre elogios… ao treinador.

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“Lembro-me que ele trazia as ideias dele, a disciplina nos treinos, durante a semana. Claro que a mudança mais importante passa pelos resultados e a confiança é muito maior agora. Acreditamos que o processo que estamos a atravessar é o correto. Todos estão a seguir as ideias do treinador. Ele exige muito de nós porque sabe o que conseguimos fazer. Temos de seguir as regras dele, senão não será bom. O processo ainda está em andamento e temos que entender que ainda é um longo caminho para nós porque queremos alcançar coisas muito maiores. Tenho conversado com ele algumas vezes e percebo que tem o mesmo desejo que eu. Ele não está feliz em estar atrás de ninguém. Ele trouxe aquela cultura de que não podemos ficar felizes em ficar atrás de ninguém e, sempre que estamos à frente, não podemos ficar felizes em estar com uma diferença”, resumiu o internacional português à Sky Sports sobre os primeiros meses do neerlandês.

Do outro lado, um Newcastle que perdeu algum gás nas últimas semanas mas que tem construído de forma tranquila um projeto a médio prazo depois de ter sido adquirido por um consórcio de fundos da Arábia Saudita sem perder a esperança de entrar num lugar de acesso à Champions da próxima temporada. Não têm sido propriamente contratações baratas as que chegam ao clube, mas sempre com o “mérito” de olharem para aquilo que podem acrescentar à equipa e não para os nomes e currículos. É assim que Eddie Howe, com nomes como Alexander Isak, Anthony Gordon, Botman, Trippier, Bruno Guimarães ou Chris Wood, tem montado a base da equipa, já com vários interessados em algumas das principais figuras onde se inclui também Nick Pope, guarda-redes titular que está lesionado e originou a “história” desta final.

Com o jovem inglês de fora e Martin Dubravka impedido de jogar a final da Taça da Liga – com uma situação ainda mais atípica de só poder receber uma medalha de vencedor caso o Newcastle, o seu atual clube, não ganhasse a final contra a ex-equipa Manchester United –, a opção de Eddie Howe para a baliza teria de passar por Loris Karius, alemão de 29 anos que não mais foi esquecido depois da exibição desastrosa pelo Liverpool na final da Liga dos Campeões de 2018 frente ao Real Madrid. Ainda fez duas épocas como titular no Besiktas, não foi além dos cinco jogos no Union Berlim em 2020/21, não se estreou sequer no Liverpool em 2021/22, continuava sem alinhar esta temporada. Agora, um pouco do nada e quando surgia falado na imprensa por motivos extra futebol da vida amorosa, era chamado e logo para uma final.

728 dias depois, o guarda-redes alemão ainda teve algumas boas defesas entre a infelicidade da “traição” de Botman no lance do segundo golo do 2-0 mas não foi suficiente para travar o pragmatismo do Manchester United, que nunca se importou em não ser a equipa que jogava para ser a equipa que marcava. E foi assim que os red devils chegaram à sua sexta Taça da Liga da história (apenas atrás das nove do Liverpool e das oito do Manchester City), o primeiro título de Erik ten Hag e também de Bruno Fernandes, capitão de equipa que levantou em Wembley o troféu após a final da Liga Europa perdida em 2020/21 com o Villarreal a par do capitão Harry Maguire (entrou nos últimos minutos) como “prémio” pela influência ganha no clube.

O encontro começou com uma intensidade de loucos onde a única coisa que até destoava um bocado era a facilidade “anormal” como eram marcadas faltas e com o Newcastle mais confortável em campo entre um primeiro remate de Weghorst que saiu fácil para Karius (13′). Aliás, além de ter mais remates, mais bola no meio-campo contrário e mais unidades no meio-campo capazes de controlar as transições, o conjunto de Eddie Howe teve a grande oportunidade da partida com Saint-Maximin a fazer um nó cego a Diogo Dalot e a rematar para defesa por instinto de David de Gea (32′). Ficava a ameaça de golo numa baliza, surgia depois a concretização na outra e em versão dupla: Casemiro inaugurou o marcador de cabeça na sequência de um livre lateral na esquerda de Luke Shaw (34′), Botman aumentou pouco depois com um autogolo após remate de Rashford (38′) e a contar só não foi maior porque Karius brilhou na baliza em cima do intervalo.

Ambos os técnicos mexiam ao intervalo, com Ten Hag a “poupar” Diogo Dalot já com um amarelo lançando Wan-Bissaka e Howe a apostar em Isak para reforçar o ataque em vez que Longstaff. E continuou a ser o Newcastle a ter maior domínio e ações ofensivas na frente, sempre com o Manchester United a defender da melhor forma a baliza e a apostar nas transições rápidas para fechar o encontro, algo que não aconteceu porque Karius teve mais uma grande defesa a remate de Rashford (73′). Apesar de todas as tentativas, a história do encontro estava mesmo fechada. Bruno Fernandes, que há muito procurava o primeiro título no clube inglês, chegou finalmente a uma vitória e com o toque de Midas de Casemiro à mistura, reforço da época que não só marcou como provou que continua a ser um dos melhores médios centro da atualidade.