O adoçante que utiliza no café, numa tentativa de escapar aos pacotes de açúcar, pode estar a aumentar o seu risco de sofrer ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVC). O alerta surge num estudo publicado na revista Nature Medicine que refere uma correlação entre o consumo de eritrol — um famoso adoçante obtido pela fermentação da sacarose — e as doenças do foro cardiovascular.

Mas os resultados não podem ser extrapolados para a generalidade da população. Os cientistas olharam especificamente para os casos de pessoas obesas e com diabetes — comorbilidades que já colocam os indivíduos numa situação de maior risco de doenças cardiovasculares. E compararam as análises de sangue das pessoas com maiores níveis de eritrol no organismo com as das pessoas com níveis mais baixos.

Depois de avaliarem os dados de 2.100 pessoas obesas nos Estados Unidos e 830 europeus com diabetes, os investigadores descobriram que os indivíduos com maiores níveis de eritrol no organismo tinham uma probabilidade duas vezes superior de sofrer ataques cardíacos e AVC nos três anos seguintes do que quem tinha níveis mais baixos.

Como estes dados não bastam para concluir que esse risco está a ser causado por um maior consumo de eritrol — outros fatores podem explicar o fenómeno —, os cientistas tentaram apurar o efeito deste adoçante no sangue. Para isso, mediram os níveis de eritrol em oito pessoas com baixo risco de desenvolver doenças cardiovasculares, antes e depois de consumirem 30 gramas do adoçante num alimento.

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Descobriram assim que os níves de eritrol aumentaram de quatro micromoles — uma medida para concentração de substâncias microscópicas — para 6.000 micromoles. Stanley Hazen, uma das autoras do estudo, disse que, “assim que se bebe uma bebida adoçada artificialmente, os níveis superam as concentrações normais no sangue“. E permanece assim durante algumas horas.

As autoridades de saúde continuam a defender que o consumo destes adoçantes são uma alternativa saudável ao açúcar, que tem sido consumido pela população em níveis considerados preocupantes. Mas a investigadora insiste que o eritrol “não é inocente” porque causou “um aumento na reatividade das plaquetas sanguíneas”.

Esta tese surge porque, de acordo com o estudo, o eritritol promoveu o surgimento de coágulos sanguíneos em ratinhos com 300 micromoles da substância na corrente sanguínea; e em amostras de sangue humano em laboratório, quando elas foram expostas a 45 micromoles de adoçante. Mas, em declarações à New Scientist, Duane Mellor , porta-voz da Associação Dietética Britânica, assegurou que a maioria das pessoas não consome níveis suficientes de eritritol para desencadear esse efeito.

Numa reação em entrevista à CNN, o diretor executivo do Conselho de Controlo de Calorias defendeu que “os resultados deste estudo contrariam décadas de investigações científicas que mostram que os adoçantes com baixo teor calórico, como o eritritol, são seguros, conforme evidenciado por permissões regulatórias globais para o uso em alimentos e bebidas”.