A circulação ferroviária na linha de Sintra esteve interrompida na noite desta quarta-feira, mais um dia de greve de vários sindicatos da CP, depois de ter sido acionado o travão de emergência num comboio que seguia lotado e do qual os passageiros acabaram por ser retirados, após cerca de uma hora. A informação foi confirmada ao Observador por fonte dos Sapadores de Lisboa, que deu conta de que o alerta foi dado às 20h35.
Em reação ao acidente, num comunicado enviado à Lusa, a CP revelou ter dado início a uma avaliação interna e revelou que tudo aconteceu cerca das 19h43. Ou seja, entre a paragem da composição e a chamada dos bombeiros terá passado quase uma hora — o tempo que os passageiros dizem ter esperado até sair do transporte.
Segundo a mesma fonte, o comboio parou entre as estações de Campolide e Benfica, a cerca 700 metros da estação, e “circulava com a lotação completa” — não usando a expressão sobrelotado como indicam as testemunhas e imagens partilhadas nas redes sociais. O transporte estava previsto nos serviços mínimos decretados e circulava “com um atraso de 45 minutos em consequência do auxílio prestado a passageiros na viagem imediatamente anterior”.
À CNN, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP avançou que o comboio parou depois de ter sido “acionado o travão mecânico” pelos passageiros. Estes acionaram o travão de emergência “devido à superlotação” dentro do comboio. À Lusa, fonte policial disse que alguns passageiros se sentiram mal, razão pela qual o travão foi acionado.
A CP destacou, no comunicado, que, “enquanto o revisor seguia os procedimentos de segurança e se deslocava para a carruagem onde o sinal de alarme havia sido acionado, alguns passageiros abriam as portas das carruagens e saíram para a linha”. Ainda de acordo com a empresa, o agente da autoridade a bordo requisitou reforço de operacionais que, depois de chegarem ao local e com a ajuda dos trabalhadores da CP, removeram um painel de rede que limita o acesso à linha do comboio e encaminharam os passageiros para o passeio, fora da área onde é proibida a circulação de peões.
“Apesar de este incidente não ter causado dano físico grave nas pessoas a bordo, a CP lamenta a situação, pedindo desculpa aos passageiros afetados por todos os transtornos causados”, sublinhou ainda a CP na nota de imprensa, acrescentando que “foi iniciada uma avaliação interna”.
“O pior foi não nos terem dito absolutamente nada, nenhuma justificação, nada”
Utentes que estavam dentro do comboio confessaram ter vivido momentos de dificuldade. “Ouviram-se vários gritos, as pessoas não conseguiam respirar e começaram a tentar abrir as portas e a partir as janelas”, disse uma testemunha ao canal de televisão.
Ao Observador, outra passageira que estava dentro do comboio também disse que viu pessoas à beira de terem “ataques de asma”. “O pior foi não nos terem dito absolutamente nada, nenhuma justificação, nada”, queixou-se Beatriz Gomes, estudante, que apanhou o comboio na estação do Oriente e foi assistindo à enchente progressiva a cada paragem.
No local, em declarações aos jornalistas, o comissário António Dionísio, da PSP, confirmou que apenas um passageiro acabou por precisar de auxílio médico: “Houve uma senhora que se sentiu mal, creio que com um ataque de ansiedade. Foi retirada, assistida e transportada para o hospital de Santa Maria.”
Ao fim de uma hora de espera dentro das carruagens, a PSP acabou por chegar ao local e conseguir criar um “corredor de segurança”, mantido por cerca de 30 agentes, segundo o comissário. Ao Observador, a passageira Beatriz Gomes explicou que os agentes da polícia foram abrindo as portas à vez, para deixar sair as pessoas de forma controlada, ajudando os passageiros a descer. Depois, estes seguiram a pé pelo corredor criado pela PSP, até à estação de Benfica.
Na minha opinião, a evacuação foi bem executada. Compreendo o porquê de não terem logo deixado sair as pessoas assim do nada para a linha do comboio”, diz a estudante.
Contudo, sublinha a desorientação dos passageiros ao longo de todo o processo: “Deixarem ali as pessoas num comboio sobrelotado — que já tinha pessoas a sentirem-se mal por esse mesmo motivo — sem informações foi péssimo“.
O processo da retirada dos passageiros foi retratado em vídeos publicados nas redes sociais.
https://twitter.com/JheymisonBreno/status/1631036154186170368
Se calhar a CP precisam de mais colaboradores ???????? meu passe está carregado para usar o comboio.#comboios #cp #alertacm #TVI #Sic #tvi24 #TVI #Alerta #greve #portugal #Lisboa #sintra #vergonhanacional #VesteABandeira #chega pic.twitter.com/59UdlQiP4p
— Jonathan Santos (@Jonatha02529447) March 1, 2023
A circulação foi entretanto reposta. Os passageiros terão sido transportados em dois comboios diferentes. Para travar o acesso à linha onde estava este comboio, foi mesmo usado um outro em sentido contrário.
António José Pereira, presidente do Sindicato Independente Nacional dos Ferroviários, classificou a situação como “um momento caricato”. Em declarações à Rádio Observador, o sindicalista reforçou que o SINFB está disponível para negociar. “A empresa e o Governo devem meter os olhos nisto”, afirmou, referindo-se à situação desta quarta-feira.
A greve dura até esta quinta à noite
Até às 18 horas desta quarta-feira, desde a meia noite, tinham sido suprimidos em todo o país 748 comboios de um total de 985 que deviam ter circulado. A CP efetuou 239 comboios, cumprindo os serviços mínimos estabelecidos, o que corresponde a um nível de supressão de 75,7%. No serviço de longo curso, a CP suprimiu 43 comboios de 58 programados e no serviço regional não foram realizados 199 comboios de 261 estimados.
Nos urbanos de Lisboa, foram suprimidos 354 comboios de um total de 468 programados e no Porto não se realizaram 150 comboios em 198 estimados.
Os trabalhadores da CP deram início na segunda-feira a mais greves, com a transportadora a alertar para “fortes perturbações” até quinta-feira, num protesto pelo impasse nas negociações salariais que também envolve a Infraestruturas de Portugal (IP).
A CP já tinha alertado na sexta-feira para “fortes perturbações” na circulação dos comboios entre as 00h00 de segunda-feira e as 23h59 de quinta-feira, devido à greve, havendo serviços mínimos decretados para os quatro dias (25%).
A greve foi convocada por vários sindicatos: SINFA, Associação Sindical das Chefias Intermédias de Exploração Ferroviária (ASCEF), Sindicato Independente Nacional dos Ferroviários (SINFB), Sindicato Independente dos Operacionais Ferroviários e Afins (SIOFA), Associação Sindical Independente dos Ferroviários de Carreira Comercial (ASSIFECO), Federação Nacional dos Transportes, Comunicações e Obras Públicas (FENTCOP), Serviços Técnicos Ferroviários (STF), STMEFE – Sindicato dos Trabalhadores do Metro e Ferroviários (STMEFE), Sinafe – Sindicato Nacional dos Ferroviários do Movimento e Afins, Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Setor Ferroviário (SNTF) e Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap).