O Novo Banco fechou o ano de 2022 com lucros de 560,8 milhões de euros, mais do que o triplo do resultado obtido no ano anterior, confirmou esta quinta-feira a instituição em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). O aumento das taxas de juro cobradas nos créditos, que foi mais rápido e pronunciado do que a subida do custo de financiamento do banco (incluindo aquilo que pagou pelos depósitos), impulsionou a margem financeira do banco, sobretudo na reta final de 2022.
Em 2021, o Novo Banco já tinha tido o seu primeiro exercício positivo com um lucro de quase 185 milhões de euros. Mas os resultados de 2022, em linha com o que aconteceu na generalidade dos outros bancos a operar em Portugal, subiram de forma expressiva apoiados na margem financeira e na cobrança de comissões, que aumentou 3,8%.
A margem financeira, um indicador decisivo que reflete a diferença entre os juros que o banco cobra pelos créditos que concedeu e aquilo que o banco paga para se financiar (depósitos, BCE, etc), aumentou 9,1% na comparação homóloga. Porém, o banco acrescenta que no quarto trimestre deu-se um aumento da margem financeira na ordem dos 59%, em relação ao terceiro trimestre – uma aceleração que se explica pelo ajustamento das prestações de crédito pagas pelas famílias e empresas que têm créditos com taxa variável e que se acentuaram sobretudo na segunda metade do ano.
O desempenho da margem financeira está em linha com as expectativas para o ano de 2022 e com o atual contexto macroeconómico de subida generalizada das taxas de juro, com a estratégia de gestão de ativos e passivos a mitigar os efeitos da pressão inflacionista”, afirma o Novo Banco no comunicado.
O Novo Banco, que não vai fazer conferência de imprensa de apresentação destes resultados, diz que a margem financeira subiu à boleia de uma “melhoria da taxa média dos ativos“, isto é, os juros cobrados nos créditos. Esse efeito “mais que compensou o aumento do custo de financiamento“, o que inclui as taxas dos depósitos, os custos das emissões de dívida nos mercados financeiros e a alteração das taxas de juro do financiamento extraordinário atribuído pelo Banco Central Europeu (TLTRO III).
A suportar os lucros esteve, também, um reconhecimento menor de imparidades – menos 241,5 milhões de euros, ou -68,5%, do que no ano anterior. Já os custos com pessoal subiram apenas 0,4%, com o banco a reduzir o número de trabalhadores de 4.193 para 4.090 e o número de agências de 311 para 292. O retorno dos capitais próprios (ROTE) antes de impostos saltou de 8,8% para 14,4%.
“Não estamos a ver stress nos pedidos de renegociação de crédito”
Numa teleconferência com analistas, à hora de almoço desta quinta-feira, o presidente-executivo do Novo Banco comentou que “olhando para a carteira de crédito como ela está neste momento, não estamos a ver sinais de stress“, incluindo no que diz respeito aos pedidos de renegociação de crédito à habitação devido ao aumento das taxas de juro.
Mark Bourke reconheceu alguma descida nos novos pedidos de crédito, especificamente nos pedidos de crédito empresarial, mas garantiu que a subida das taxas de juro não está a criar “tensão” na carteira de créditos do Novo Banco, que é muito “madura”, sublinhou. Segundo o gestor, houve cerca de 5.500 pedidos de renegociação, “mas isso é apenas uma duplicação em relação ao que tínhamos antes da subida das taxas de juro” e antes da nova lei lançada pelo Governo em novembro.
Um dos analistas presentes na conference call também questionou a gestão do Novo Banco sobre uma eventual venda ou cotação do capital em bolsa. Porém, Mark Bourke remeteu todas as questões sobre eventual alteração da estrutura acionista “para os acionistas”. “Nós concentramo-nos em garantir que o banco tem uma operação forte e em desenvolvimento, assegurando que o banco consegue concorrer como banco independente”, afirmou o presidente-executivo do Novo Banco.