Quando se olha para aquilo que é uma verdadeira equipa num desporto como o ciclismo, a quarta etapa do Tirreno-Adriático poderia ser um exemplo paradigmático para essa explicação através da Jumbo. Por um lado, a forma como a neerlandesa conseguiu formar quase um bloco na maioria das quatro voltas ao circuito final com chegada a Tortoreto. Por outro, as opções que apresenta na prova, juntando ao regressado Primoz Roglic (que depois de cair e desistir no Tour repetiu a “dose” na Vuelta) nomes como Wout van Aert, Wilco Kelderman, Tiesj Bennot, Attila Valter ou Koen Bouwman. Por fim, pela maneira como souberam reagir ao insucesso do plano A (vitória de Wout van Aert, que sofreu uma queda com Thomas Pidcock) e ganharam puxando pelo plano B, com Primoz Roglic a quebrar um jejum de cerca de 200 dias sem vitórias.

Sobe, sobe, João, sobe: Almeida chega em oitavo a Tortoreto e passa a terceiro da geral no Tirreno-Adriático

Filippo Ganna teve poucas hipóteses de segurar a camisola azul da liderança mas esse foi o único ponto que a Jumbo não conseguiu ganhar esta quinta-feira, com Lennard Kämna (Bora) a ascender ao primeiro lugar com seis segundos de vantagem em relação a Roglic e com oito de João Almeida, português que fechou mais uma etapa no top 10 (oitavo) e que subiu a melhor corredor da UAE Team Emirates com o terceiro posto da geral à frente de Brandon McNulty. Mais: antes da quinta e antepenúltima tirada, os sete primeiros lugares eram todos de Bora (Kämna, Vlasov e Jai Hindley), Jumbo (Roglic e Kelderman) e Emirates (Almeida e McNulty), sobrando outros candidatos mais isolados mas na mesma com ambições como Tao Geoghegan Hart (Ineos), Ciccone (Trek), Enric Mas (Movistar), Hugh Carthy (EF Education) ou Pinot (Groupama).

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“Foi um dia bom, num etapa dura e difícil mas onde a equipa fez um trabalho fundamental. Podemos estar satisfeitos. É uma boa motivação para as próximas etapas. Queremos disputar a prova e almejar a vitória, sendo que nesta altura estamos bem posicionados comigo e com o Brandon [McNulty]”, destacara João Almeida na antecâmara daquela que seria a tirada mais complicada do Tirreno-Adriático, com chegada a Sarnano-Sassotetto. E foi outro português a assumir um primeiro papel de destaque: Nelson Oliveira.

Apesar de ter caído para 40.º lugar da geral na véspera, depois de um bom contrarrelógio que o colocara no top 15 da classificação geral, o corredor da Movistar voltava a mostrar que é o tipo de elemento com que todos querem contar, agarrando na etapa para colocar um ritmo forte que ou deixava alguns para trás ou ia provocando mossa na condição com que se atingiria a parte final da subida com um vento mais forte do que nos dias anteriores que também causava mossa. Aliás, provavelmente a corrida podia ser diferente da que se viu exatamente por isso, com o grupo da frente a ser maior do que na véspera nos últimos quilómetros até a UAE Team Emirates assumir a dianteira, com Davide Formolo a aumentar o ritmo para mexer na tirada.

João Almeida mantinha-se a meio do grupo e na roda de Primoz Roglic, quase como uma opção tática para a etapa que tinha Kämna a ser protegido pelos elementos da Bora. Na frente, Damiano Caruso, que era 20.º da geral, conseguia uma pequena vantagem mas era atrás de si que a corrida mexia com o português a tentar colar de novo a pouco mais de três quilómetros quando a chuva se juntou ao vento e a vir depois marcar um ritmo mais forte que entroncasse melhor nas suas características. Os corredores que estão um pouco mais recuados na geral ainda assumiram a luta pela etapa a um quilómetro da meta mas seriam os da frente a discutir a vitória, que voltou a cair para Primoz Roglic e para a mudança na classificação geral.

O esloveno ganhou com o mesmo tempo dos restantes corredores do top 10: Ciccone foi segundo, Tao Geoghegan Hart acabou em terceiro, seguiram-se os três Bora (Hindley, Kämna e Vlasov), Mikel Landa, João Almeida, Caruso e McNulty. Na classificação geral, Roglic passa a ter a camisola azul da liderança com quatro segundos de avanço sobre Kämna e 12 de João Almeida por causa das bonificações, seguindo-se McNulty (17”), Kelderman (19”), Tao Geoghegan Hart (19”), Vlasov (21”), Hindley (22”), Ciccone (24”) e Enric Mas (31”). O português conserva também a camisola branca da juventude que ganhou na véspera.