A peça “A noite dos assassinos”, do dramaturgo cubano José Triana, produzida pelo Teatro Experimental de Cascais (TEC) em 1973, quando foi proibida pela ditadura, é a próxima criação da companhia, a estrear no próximo dia 27.
A estreia visa assinalar os 50 anos do 25 de Abril de 1974, e também homenagear elenco e encenador da produção original, que foi proibida pela censura, no ensaio geral, antes da primeira representação pública: os atores Maria do Céu Guerra, Manuela de Freitas e Sinde Filipe, que constituíam o elenco, e o dramaturgo e encenador Jorge Listopad, que a dirigia; aqueles que a censura calou, disse à agência Lusa o diretor artístico do TEC, Carlos Avilez.
Como 174.ª produção do TEC, a estreia de “A noite dos assassinos” no Teatro Municipal Mirita Casimiro, coincide com o Dia Mundial do Teatro e assinala igualmente o início das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 pela companhia de Cascais que, até 2024, promoverá um ciclo de textos proibidos pela Censura.
Nascido em Hatuey, na província de Camagüey, em Cuba, em 04 de janeiro de 1931, José Triana terá começado a escrever a peça “A noite dos assassinos” em finais de 1957, três anos depois de se ter mudado para Espanha, na sequência da ditadura imposta no seu país pelo Presidente Fulgencio Batista, de março de 1952 a 01 de janeiro de 1959.
Formado em Letras na Universidade do Oriente, em Cuba, José Triana frequentou depois a Universidade de Madrid, mas acabou por optar pelo teatro, tendo por mestre o ator José Franco (1908-1980).
José Triana iniciou a carreira de dramaturgo em Espanha, onde atuou com o Grupo Dido, entre 1956 e 1957, antes de, em 1958, dar origem ao Teatro Ensayo, de que foi diretor de cena.
Regressado a Cuba, na sequência da Revolução liderada por Fidel Castro, que levou à destituição do ditador Fulgencio Batista, em 1 de janeiro de 1959, José Triana viria mais tarde a ser assessor literário do Conselho Nacional de Cultura do seu país, da Editora Nacional e do Instituto Cubano do Livro.
“De la madera del sueño“, poemas publicados em Madrid, em 1958, “El parque de la fraternidad“, peça de teatro publicada em Havana em 1962, e “La muerte del ñeque” são títulos de obras de José Triana que foram traduzidas para várias línguas.
Publicada na capital cubana, em 1965, “A noite dos assassinos” valeu ao escritor o prémio de teatro da Casa das América, em 1965, e, no ano seguinte, o Galo de La Habana, além de prémios obtidos na Colômbia, Argentina e no México.
A tradução portuguesa de “A noite dos assassinos”, de Orlando Neves, utilizada em 1973 e agora pelo TEC, foi publicada pela primeira vez em 1972, pelo Jornal do Fundão, na coleção Cena Atual.
A ação da peça passa-se em Cuba, nos anos de 1950, antes da Revolução Cubana, e centra-se em três irmãos — Cuca, Beba e Lalo —, que se encontram no sótão de casa para encenar o assassínio dos pais, numa metáfora que recorre aos valores educacionais e ao conflito de gerações, traçando o retrato da relação complexa entre irmãos e remetendo para o regime ditatorial vivido no país sob o poder de Fulgencio Batista.
Para o TEC, trata-se de uma metáfora que, “de forma mais profunda“, está ligada a “contextos mais universais e atuais, onde num mundo instável e caótico, três irmãos lutam pela sua sobrevivência fechados num espaço, através de jogos de representação”.
Num “violento jogo metateatral de faz-de-conta, mortal e simbólico, onde não há amor entre os pais e filhos, revivem-se os acontecimentos num espelho interminável e nada é o que parece”, acrescenta o TEC a propósito de “A noite dos assassinos”, que agora será posta em cena com encenação de Carlos Avilez.
A interpretar estarão Elmano Sancho, dando continuidade à sua colaboração na companhia dirigida por Avilez, Teresa Coutinho, assinalando a estreia da atriz na companhia, e Lia Carvalho, uma atriz saída da Escola Profissional de Teatro de Cascais há vários anos, e que se estreia agora em Cascais com a peça do autor cubano.
Com versão e dramaturgia de Miguel Graça, a peça tem cenografia e figurinos de Fernando Alvarez, desenho de luz de Daniel Worm d´Assumpção, desenho de som ‘surround’ e operação de som de Hugo Neves Reis, apoio ao movimento de Mónica Alves, e assistência de encenação e direção de cena de Rodrigo Aleixo.
“A noite dos assassinos” estará em cena até 25 de abril, com sessões de quarta-feira a sábado, às 21h00, e ao domingo, às 16h00.
Nos dias 27 de março, 24 e 25 de abril, as récitas realizam-se às 21h00. Nos dias 05 e 12 de abril não haverá espetáculos.