Não ia ser fácil para ninguém, mas o ciclista português da UAE Team Emirates, João Almeida, conseguiu chegar em terceiro lugar na prova, subindo a segundo da geral. A sexta etapa do Tirreno-Adriático, vencida por Primoz Roglic, estava desenhada num traçado irregular e seletivo. Sem subidas longas, mas íngremes, era de prever níveis de desgaste elevados para os ciclistas devido ao constante sobe e desce. Na etapa anterior, a organização poupou os corredores aos últimos quilómetros da subida a Sassotetto devido aos ventos fortes que se faziam sentir na zona da chegada. Assim, em vez dos 13,2 quilómetros de subida previstos, foram realizados apenas 10,7, um corte que deixou etapa nos 165,6 quilómetros.

Mas nem por isso os corredores tiveram descanso. À entrada para a última etapa competitiva da prova, Primoz Roglic (Jumbo-Visma) liderava a geral com quatro segundos de vantagem para Lennard Kämna
(BORA-hansgrohe). O ciclista português da UAE Team Emirates, João Almeida, completava o pódio, partindo para a sexta etapa do Tirreno-Adriático a 12 segundos do líder da classificação geral. Num traçado tão seletivo, o corredor das Caldas da Rainha vestia a camisola branca do líder da juventude — que deve manter até ao fim — e alimentava a esperança de, se não fosse possível melhorar a posição, pelo menos manter o pódio.

“Vai ser o dia decisivo. É um circuito difícil com subidas íngremes onde já corri antes, o que pode ser uma vantagem. Temos aqui uma equipa muito forte e vamos dar o nosso melhor”, disse João Almeida, relembrando a experiência de 2021, após a etapa desta sexta-feira.

Os 193 quilómetros começaram de forma tranquila. Uma primeira tentativa de fuga onde o nome mais sonante foi Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck) foi rapidamente anulada. Maior sucesso teve o conjunto de 11 corredores —  Gianni Vermeersch (Alpecin-Deceuninck), Nikias Arndt (Bahrain-Victorious), Davide Bais (Eolo-Kometa), Mike Teunissen e Georg Zimmerman (Intermarché-Circus-Wanty), Krists Neilands (Israel-PremierTech), Casper Pedersen (Soudal-QuickStep), Clément Russo (Arkéa-Samsic), Alessandro De Marchi (Team Jayco AlUla), Valentin Ferron (TotalEnergies) and Quinn Simmons (Trek-Segafredo) –, que permaneceu durante um período alargado a cerca de 2 minutos e 30 segundos do pelotão onde o ritmo era ditado pelos camisolas amarelas da Jumbo-Visma, equipa do líder Roglic.

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A cerca de 50 quilómetros deixou de haver fuga. A Jumbo-Visma forçava a velocidade do pelotão, mas sofreu um duro golpe quando Wilco Keldermam, neerlandês que trabalhava na cabeça da corrida, caiu, deixando Roglic mais desamparado. Os últimos dez quilómetros da prova tinham uma inclinação média de 10% e máxima de 22%. Antes de cortarem a meta, os corredores tinham de passar por aquela zona três vezes. Na segunda ocasião que o fizeram, formou-se um grupo de 16 corredores com os ciclistas do top-10 da geral a separarem-se ligeiramente dos restantes. João Almeida estava lá. 

Guillaume Martin (Cofidis), Aleksandr Vlasov (Bora-hansgrohe), Alex Aranburu (Movistar) e Carlos Verona (Movistar) atacaram a vitória na etapa. A 24 segundos do pelotão, lutavam entre si. Apesar de tudo, Vlasov, que trazia 21 segundos de desvantagem para o líder, tornara-se virtualmente camisola azul, beneficiando do trabalho que a Movistar estava a fazer para tentar ganhar a etapa.

Enquanto isso, no pelotão, a INEOS Grenadiers, para tentar dar condições de Tao Geoghegan Hart subir na geral, assumiu a perseguição, acabando por apanhar os quatro fugitivos. João Almeida mantinha-se junto à frente e seguiu o ataque de Mikel Landa (Bahrain Victorious).

No entanto, Roglic conseguiu a terceira vitória consecutiva no Tirreno-Adriático acelerando nos metros finais como se não tivesse quase 200 quilómetros de subida e descida nas pernas. Só se deu pelo esloveno no cruzar da meta. João Almeida terminou no terceiro lugar e entrou nas bonificações, subindo a segundo na geral. Tao Geoghegan Hart foi segundo, saltando para o último lugar do pódio da geral.

No final da corrida, João Almeida disse que não ficou arrependido com as decisões que tomou durante a etapa. “Estivemos bem durante toda a corrida, a equipa fez o seu trabalho. Fiz a minha corrida e acho que estive bem”, referiu o corredor de 24 anos que tem praticamente garantida a camisola branca da juventude.

O Tirreno-Adriático termina em San Benedetto Del Tronto, mas não terá impacto na classificação final. Mesmo assim, Primoz Roglic, já com uma mão no tridente, lembrou que “ainda não acabou, falta uma etapa, acaba só amanhã”. “Foi um final complicado e tático, com muitos ciclistas a cruzar a meta separados por apenas alguns segundos na geral”, analisou. João Almeida volta a correr ainda em março na Volta à Catalunha, onde vai competir novamente com o esloveno. O World Tour segue com a clássica de primavera, Milão-San Remo.