Quando um filme como “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, produzido pelo A24, “o” estúdio independente na berra em Hollywood, ganha sete dos 11 Óscares para que estava nomeado, incluindo todos os principais, menos o de Melhor Ator (que foi para Brendan Fraser em “A Baleia”), e filmes como “Os Fabelmans”, “Os Espíritos de Inisherin” e “Tár” saem da cerimónia com as mãos a abanar, fica muita coisa dita.
Sem grandes surpresas, “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” arrebatou a noite dos Óscares
Nomeadamente, que o frenesim como sistema, a anarquia estilística, a citação em jato contínuo, o “pastiche” intensivo e a salada de géneros cinematográficos, embrulhados num enredo que toca temas de atualidade como a “diversidade”, o choque de costumes geracional e a experiência imigrante nos EUA, são suficientes para criar um “hype” descomunal e triunfar nos prémios mais importantes do cinema americano, votados pelos próprios membros da indústria, que se deixam conquistar por tal informe espalhafato com subtexto de “tematicamente importante”. E se forem ver a série animada “Rick e Morty”, constatarão que muito de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” já lá constava.
[Veja o “trailer” de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”:]
Numa noite em que a curta-metragem animada “Ice Merchants”, de João Gonzalez, não conseguiu conquistar o respetivo Óscar — perdeu para um filme que vinha associado a pesos-pesados como JJ Abrams, a Apple e a BBC — mas mesmo assim fez história para o cinema português e a nossa animação, as surpresas foram escassas (uma delas foi o Óscar de Melhor Argumento Adaptado para “A Voz das Mulheres”, de Sarah Polley” — mas era preciso premiar o ativismo feminista); e até o alemão “A Oeste Nada de Novo”, da Netflix, realizado por Edward Berger, que toma bastantes liberdades com o livro original de Erich Maria Remarque e nos esfrega na cara as atrocidades da guerra para melhor enfatizar a sua “mensagem” anti-guerra, saiu com quatro estatuetas, quase todos esperados, aliás. A cerimónia, misericordiosamente, foi mais curta dos que nos últimos anos, e também menos “pesada” politicamente (apesar das pontuais erupções “woke”).