O comandante do NRP Mondego garante que o navio tinha condições de segurança para cumprir a missão de acompanhamento de uma embarcação russa a norte da ilha de Porto Santo, na Madeira — que acabou por não acontecer porque 13 militares se recusaram a embarcar, alegando razões de segurança.

Ao final da tarde desta quarta-feira, o primeiro-tentente Vasco Lopes Pires adiantou à RTP que na noite da missão um dos motores estava indisponível. “Ou seja, só tínhamos um motor operacional e, para garantir uma maior segurança na largada do cais do Funchal, solicitei apoio de um rebocador, para poder fazer a manobra com maior segurança.”

O primeiro-tenente do NPR Mondego avançou ao mesmo canal que o motor que não estava operacional no sábado foi reparado no domingo, estando, durante a tarde de quarta-feira, em testes para garantir que “tem toda a capacidade necessária”.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre o regime disciplinar dos militares.

Os militares podem recusar ordens?

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Ainda assim, Vasco Lopes Pires reforçou que, como se encontrava, o navio tinha condições de segurança para seguir. “Os navios militares são construídos e equipados com material para terem sempre redundância. Ou seja, se tivermos um equipamento avariado, pode estar até limitado e não quer dizer que não tenhamos segurança para navegar, até pelo contrário.”

Na quinta-feira, o  ​​​​​​​​​​​​​​​​​​​Almirante Gouveia e Melo, Chefe do Estado-Maior da Armada vai visitar a embarcação so Funchal.

“O navio tinha condições de segurança para avançar”

“Estava confortável, tanto que assumi que o navio tinha condições de segurança para navegar, e falei disso à guarnição”, tinha já afirmado Vasco Lopes Pires, em declarações à CNN, acrescentando que se em algum momento sentisse que os militares estavam em risco recuaria na decisão.

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“Afirmei perante toda a guarnição que, se em qualquer momento da missão sentisse que algum dos meus militares estaria em perigo, retornaria de imediato para o Funchal e abortaria a missão, se assim fosse necessário. Aliás, tinha essa autorização direta do comandante naval para o fazer, caso fosse necessário”, indicou.

Segundo o primeiro-tentente Vasco Lopes Pires, 50% dos militares recusaram cumprir ordens. “Não posso fazer juízos de valor. Temos 13 processos disciplinares em curso, tive 50% da guarnição do meu lado e outros 50% que não quiseram cumprir as minhas ordens”, afirmou o responsável, que considera ter condições para continuar no cargo. “Mantenho o mesmo espírito e confio nas mesmas capacidades que tive há um mês quando tomei a responsabilidade de assumir o comando do navio”, disse.

Segundo um documento elaborado pelos 13 militares em questão, a que a Lusa teve acesso, no sábado à noite o NRP Mondego recebeu ordem para “fazer o acompanhamento de um navio russo a norte do Porto Santo”, numa altura em que as previsões meteorológicas “apontavam para ondulação de 2,5 a 3 metros”. Segundo estes 13 militares, o comandante do NRP Mondego “assumiu, perante a guarnição, que não se sentia confortável em largar com as limitações técnicas” do navio. Mas essa tese não é confirmada por Vasco Lopes Pires.

Marcelo espera pela investigação para comentar

O Presidente da República, que é também Comandante Supremo das Forças Armadas, voltou a recusar comentar o caso, remetendo para a inspeção em curso. “Neste momento decorrem as investigações e, na parte disciplinar terão de ser ouvidos todos os militares, que estiveram envolvidos”, afirmou.

Sem comentar o caso em concreto, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a sublinhar a necessidade de se investir na manutenção e na atualização do equipamento militar. “Há na marinha, como no exército, como na força área, capacidades que vêm do passado — uma mais recentes, outras menos recentes —, que precisam de atualização. Essa atualização vai ser agora mais possível do que foi no passado próximo. Nesse sentido há que tirar proveito desta ocasião importante para valorizar a defesa nacional”, defendeu.