Henrique Gouveia e Melo, o Chefe do Estado-Maior da Armada, chegou na manhã desta quinta-feira à Madeira para transmitir uma mensagem clara aos militares do navio “Mondego”: “Nunca se poderá desautorizar a linha hierárquica”, frisando a importância da disciplina.

A intervenção foi feita a bordo do navio, perante os militares, incluindo as 13 pessoas que se recusaram a embarcar no navio destacado para acompanhar uma embarcação russa a norte da ilha de Porto Santo, menos de 24 horas depois dos seus primeiros comentários sobre o assunto. 

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“Não gosto de mandar recados”, disse Gouveia e Melo aos jornalistas, já à saída da embarcação. “Quando tive um evento idêntico num passado recente fui à unidade dizer o que pensava claramente, dizer o que pensava sobre o evento. Vim dizer nos olhos e cara a cara o que pensava do evento.”

“Disse que não esquecia e que este ato vai ficar registado na nossa história”, salientou Gouveia e Melo sobre a intervenção que fez perante a guarnição do “Mondego”.

A propósito da recusa dos militares, disse que “em princípio vão ser substituídos”, explicando que ficaram na Madeira durante o tempo necessário para que a substituição se processasse. Além disso, Gouveia e Melo vincou que queria que estivessem presentes para o ouvir. A viagem foi feita com o intuito de garantir que atos do género não alastram. “Não vou permitir que isto alastre ou que possa passar despercebido”, disse à imprensa.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre o regime de disciplina militar

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Questionado sobre se a recusa dos militares poderá ter impacto aos olhos de organizações como a NATO, Gouveia e Melo admitiu que “vai ser notado” pelos aliados. “Não consigo dizer que vá colocar Portugal numa situação complicada”, começou por explicar, notando que as Forças Armadas portuguesas estão presentes em vários pontos do globo, como a Roménia, no Báltico ou na Lituânia. Portugal “tem um leque de operações que decorre de forma brilhante, não manchará certamente”, disse Gouveia e Melo, “mas será notado pelos nossos aliados.”

Ainda assim, disse que prefere “não fazer julgamentos precipitados”, já que um “juiz de direito é que vai julgar o comportamento”. “O que vim aqui dizer é que não é admissível atos de indisciplina”.

Gouveia e Melo disse ainda que “gostaria de saber” que “interesses” é que este ato de indisciplina possa ter servido. “Não vejo que interesses é que possa ter servido. O país não serviu, da Marinha não serviu e destes homens, que também serão vítimas dos seus próprios atos, também não serviu certamente.”

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Os 13 militares que se recusaram a embarcar alegaram que havia receios sobre a segurança do navio. Gouveia e Melo admitiu que a embarcação “não está nas melhores condições”, mas frisou que a Marinha não envia para missão “navios sem capacidade” para tal.  “Não mandamos missões impossíveis, se me permitem usar o título do filme”.

Ainda sobre a recusa dos militares, o Chefe do Estado-Maior da Armada sublinhou que fazer avaliações desse género “não lhes compete”. “São militares que não têm conhecimento global nem da missão, nem dos compromissos, nem do verdadeiro estado global do navio. Essa avaliação é à linha de comando.”

Garantiu que “nunca” teve dúvidas sobre a decisão da linha de comando mas que, “face ao ruído externo”, fez questão de mandar fazer uma inspeção independente ao material. “A resposta foi um rotundo não.”

Os militares que se recusaram a partir em missão abandonaram o navio poucos minutos antes das 13h30 desta quinta-feira, de acordo com imagens transmitidas pela CNN Portugal.

(Atualizada às 13h29 para incluir saída dos militares)