No Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão

Foi uma sensação global, de conjunto e que se espalhou por todo o Autódromo Internacional do Algarve: quando Miguel Oliveira terminou a primeira curva do Grande Prémio de Portugal, deixando Marc Márquez, Pecco Bagnaia e Jorge Martín para trás para assumir a liderança, milhares de pessoas sentiram que o piloto português poderia voltar a ganhar em Portimão. Até que aconteceu o impensável.

Já depois de o português da RNF Aprilia ter perdido o primeiro lugar para Bagnaia, Márquez procurou fazer algo que só ele entendeu — bateu em Martín, foi direitinho a Oliveira e tirou-lhe o tapete, acabando com a corrida de ambos e deixando o piloto natural de Almada em dificuldades físicas. Miguel Oliveira demorou a levantar-se, tendo ficado deitado na berma até ser apoiado pela equipa de emergência, acabando por ser retirado e conduzido ao centro médico do circuito algarvio.

Fez arranque canhão, tinha tudo para lutar pela vitória, acabou abalroado: Miguel Oliveira abandonou, Bagnaia venceu em Portimão

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O momento em que Márquez acertou em cheio no português trouxe uma onda de enorme choque e desagrado nas bancadas. De um instante para o outro, milhares de pessoas levantaram-se ainda incrédulas, entre gritos e reações mais a quente que aparecem mais vezes em estádios de futebol do que propriamente em desportos motorizados. O piloto espanhol foi muito assobiado enquanto saía da pista — já depois de ser o primeiro a falar com Oliveira enquanto este ainda estava no chão — e voltou a sê-lo quando reapareceu na zona do pitlane, já vestido à civil e sem equipamento, acabando por juntar as mãos para pedir desculpa aos adeptos portugueses nas bancadas de Portimão.

Marc Márquez dirigiu-se diretamente à box da RNF Aprilia, provavelmente para ter notícias de Miguel Oliveira e pedir desculpas pessoalmente, e acabou a saudar rapidamente Razlan Razali, diretor da equipa. O piloto espanhol foi depois ao centro médico do Autódromo Internacional do Algarve para perceber o estado de saúde do português — numa altura em que, em Portimão, existia a ideia e o receio de que Oliveira pudesse ter sofrido uma fratura numa perna, algo que complicaria uma temporada que acabou de começar.

Contudo, instantes depois, a RNF Aprilia garantiu que tudo não tinha passado de um grande susto, já que o piloto português sofreu apenas uma contusão na perna e não tem qualquer osso partido. Márquez, por outro lado, corre o risco de ter sofrido uma fratura na mão direita e será analisado já em Barcelona.

Miguel Oliveira reapareceu cerca de meia-hora depois do fim da corrida, transportado de mota mas à boleia, e coxeou até à garagem da RNF Aprilia. “O que é que aconteceu? Deu para ver o que aconteceu. Estávamos na segunda volta, isto era uma corrida de 25 voltas. Acho que alguém se esqueceu de que isto não era uma corrida sprint. Mas é difícil aceitar, para todos. Vamos ver o que aconteceu exatamente. O Marc apareceu na box para pedir desculpa e disse que tinha tido um problema na mota. Temos de perceber qual foi o problema. Não foi a melhor maneira de acabar este primeiro Grande Prémio. Mas não há fraturas e é tempo de recuperar o melhor possível para a Argentina”, explicou Razlan Razali em declarações à SportTV, deixando desde logo praticamente certo que o piloto português estará presente na próxima corrida.

No fim, Pecco Bagnaia venceu no Algarve, sucedendo a dois triunfos consecutivos de Fabio Quartararo em Portimão, e juntou o primeiro lugar da corrida sprint ao da prova principal. Maverick Viñales e Marco Bezzechi fecharam o pódio e o primeiro Grande Prémio do Mundial de MotoGP teve sol, calor e o vento do costume. Num fim de semana em que o Autódromo Internacional do Algarve recebeu mais público do que na temporada passada — algo visível pelo preenchimento das bancadas e pela agitação nas imediações do circuito –, fica claro que a região está a habituar-se da melhor maneira a este tipo de eventos.

Os acessos ao Autódromo estão cada vez melhores, bem longe das longas filas de trânsito do Grande Prémio de Fórmula 1 de 2021, e até os vastos parques de estacionamento garantem que ninguém fica sem lugar para estacionar o carro — independentemente das inevitáveis distâncias. A organização está melhor e mais fluida, garantindo uma experiência mais positiva para qualquer espectador, e o Grande Prémio de Portugal é cada vez mais uma corrida a ter em conta no Campeonato do Mundo.