Aproveitando as celebrações dos dez anos do Papa Francisco, e na antecâmara das Jornadas Mundiais da Juventude que se realizam em Lisboa no início de agosto, José Mourinho marcou presença com o cardeal José Tolentino de Mendonça na Pontifícia Universidade Gregoriana falando na sessão “A caminho de Lisboa”. Um papel diferente entre elogios à liderança do Papa mas que foi também aproveitado para fazer uma reflexão sobre os seus 60 anos e a forma como vê o futebol nos dias que correm (que não trocava).

No Mourinho, no party: Roma perde dérbi com a Lazio e soma segunda derrota seguida na Serie A

“A única coisa que não gosto nos meus 60 anos é que fisicamente estou um pouco menos forte. Às vezes acordo com um pouco de dor aqui e ali. Às vezes, depois do treino, preciso de ir para a cama para descansar porque estou um pouco mais cansado. Mas além dessas coisas óbvias que chegam a toda a gente, eu, no que me diz respeito, não me trocaria pelo José de 50, 40 ou 30 anos”, destacou, falando também dos problemas do futebol que não são exemplo “para um mundo diferente do desporto que queremos para os nossos filhos”. “Garantidamente, a 200%, há pais que dizem aos filhos para não passarem a bola a um companheiro de equipa porque senão marcam mais golos do que ele. Isso é crueldade. Mas treinar futebol inclui empatia, solidariedade, busca pela alegria de vencer, saber quando se perde, que a derrota não é o começo de um período difícil mas o fim de um período difícil”, salientou a esse propósito o técnico português.

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A experiência é algo que não tem preço, algo que se parece aplicar de forma literal a Mourinho: apesar das alegadas abordagens de Newcastle e PSG para poder agarrar nos projetos desportivos na próxima temporada, o técnico parece apostado em cumprir contrato com a Roma numa fase em que se mantém a lua de mel com os adeptos giallorossi. “A forma mais fácil de definir um clube de topo é dizer que eles venceram muito. No entanto, existem clubes de topo que nunca venceram mas que são grandes em termos de adeptos e no impacto que produzem nas redes sociais. A Roma tem essa beleza particular, que é ainda mais extraordinário quando a imprensa local tenta dividir-nos. Eu é que deveria agradecer aos adeptos por tudo aquilo que me deram. Em termos sociais, as pessoas precisam de ter uma referência, que não sou eu, mas o clube. Essa empatia, esse sentimento de pertença, de família, é isso que gosto aqui. Na Roma existe o sentimento de ‘estamos felizes se vencermos; se perdermos, ficamos tristes, mas, ao menos, estamos juntos'”, referiu.

Era neste contexto que a Roma voltava ao ativo depois da paragem para as seleções e de duas derrotas na Serie A de forma consecutiva (Sassuolo e Lazio) que mesmo assim não colocavam de parte a possibilidade de subida a lugares da Champions em caso de vitória com a Sampdoria (e caso o AC Milan perdesse depois em Nápoles com o líder do Campeonato). E não eram só os adeptos que se juntavam a Mourinho e à equipa. “Ele é uma lenda, gosto muito dele. Ele é aquilo que nós chamamos de um verdadeiro treinador. É um líder. Quando ele fala, tu ouves. Sabe como lidar os jogadores e é um dos melhores do mundo nas suas funções. É alguém que sabe como te motivar e fica debaixo da tua pele. Mesmo quando estás a jogar bem, ele quer mais. Nunca está satisfeito e deseja sempre mais”, comentara Tammy Abraham. Em campo, a Roma mostrou que está viva contra o penúltimo classificado, regressou ao quarto lugar e Mourinho voltou a ser um dos heróis ajudado pelo grande “mártir”, Wijnaldum, que se lesionou logo em agosto de forma grave.

A entrada dos romanos na partida não foi propriamente a melhor mas o último quarto de hora da primeira parte foi uma sucessão de oportunidades para os visitados, que viram Ravaglia negar o golo a Llorente, Paulo Dybala e Pellegrini em lances quase seguidos antes de Wijnaldum acertar também no poste (35′). Zalewski, numa tentativa de meia distância, tentou também surpreender o guarda-redes da Sampdoria mas o nulo iria manter-se até ao intervalo sem que o conjunto de Génova tivesse feito junto da baliza de Patrício.

No segundo tempo, tudo ficou resolvido em cinco minutos: Murillo foi expulso com segundo amarelo por uma entrada mais dura sobre Tammy Abraham (52′), Wijnaldum inaugurou pouco depois o marcador de cabeça após cruzamento de Matic (57′). Stankovic, técnico da Sampdoria que foi jogador de Mourinho no Inter e que passou alguns anos na Lazio, estava à beira de um ataque de nervos na sua área técnica e começou a ouvir também cânticos ofensivos do topo sul do Olímpico mas bastou Mourinho levantar o braço a pedir para que parassem para que as coisas serenassem. Quando em agosto lamentou a grave lesão de Wijnaldum apenas duas semanas depois de ter sido contratado ao PSG, o técnico português lamentou que o futebol “pode ser uma m****”. “Em duas semanas o Gini, com as suas qualidades humanas, tornou-se um de nós. Infelizmente, num azarado acidente sofreu uma lesão grave que o vai afastar dos relvados durante muito tempo”, acrescentou. Agora, houve um toque de justiça divina. Ou melhor, dois: foi o neerlandês que sofreu a grande penalidade do 2-0 de Dybala (87′) antes de El Shaarawy fechar as contas (90+4′).