Jogaram muito, esforçaram-se mais, em alguns casos tiveram erros que não são normais sobretudo estando numa fase ascensional, não evitaram uma razia quase completa de jogadores portugueses na primeira ronda do Estoril Open. Primeiro o estreante Henrique Rocha, que não era favorito. Depois um Pedro Sousa na sua última dança, não sendo também favorito. No final o confiante Nuno Borges, que levantou moral nos EUA entre a vitória no challenger de Phoenix e a entrada no quadro principal do Miami Open mas também não conseguiu confirmar o estatuto de favorito. Restou apenas João Sousa para defender a honra nacional num torneio que mostrou uma competitividade talvez acima até do que era esperado. E agora do outro lado da rede estava aquele que era teoricamente o adversário mais difícil que poderia ter: Casper Ruud.

“Foi uma boa vitória, acho que consegui jogar a um nível muito bom nível. Já não jogava assim a este nível há algum tempo. Acho que o público esteve incrível. O que fez a diferença para isso? Acho que foi tudo um pouco… Apesar de ter perdido um encontro difícil a semana passada, cheguei motivado para jogar e para fazer um bom encontro. Preparei-me bem. Tive dois dias de treino, com o par adaptei-me à competição já no campo e deu-me esse à vontade de já estar metido no torneio. E agora? Independentemente de onde posso chegar, para mim é muito emotivo vencer aqui no Estoril. Já venci o torneio mas é sempre muito especial para mim este torneio, por isso e não só. Adivinha-se um encontro difícil, frente a um jogador top 10, com quem já perdi duas vezes mas espero que o público, da minha parte, possa fazer essa diferença”, comentou após o triunfo com Giulio Zeppieri, recordando o encontro com o norueguês em Genebra.

“Era sempre difícil vir jogar porque tinha um bom historial em Munique na mesma semana. As condições aqui são semelhantes ao que vemos em Roma, Madrid e no sul da Europa e sempre quis jogar cá. Estou muito motivado, é a minha parte favorita da temporada, estou perto de casa e jogo em terra batida pela primeira vez desde julho. Devo estar enferrujado mas ainda tenho alguns dias de preparação. Espero fazer um bom torneio no arranque da terra batida. Não tive o começo de ano ideal e por isso tenho de subir o nível para tentar manter o meu ranking. Espero que este torneio me ajude a concretizar esse objetivo”, tinha salientado o atual número 5 do mundo, que também não esqueceu um desaire sofrido em 2018 num torneio em Braga frente a outro português, Pedro Sousa, quando estava a dar os primeiros passos na sua ascensão.

Era nesse jogo de Genebra em 2022 que João Sousa se tinha de focar. Não tanto pelo resultado, claro, mas por aquilo que conseguiu fazer até à final desse torneio em maio, depois de já ter ganho o seu último ATP (Pune, em fevereiro) e antes de passar uma ronda em Roland Garros. Essa foi talvez a última grande fase do português no circuito, uma fase que tentava agora retomar no seu espaço preferido entre algumas lesões que lhe têm marcado os últimos meses. No final, imperou a lei do mais forte, com Casper Ruud a ganhar e a marcar encontro com o campeão em título, Sebastián Báez, nos quartos. No entanto, e ao contrário das duas últimas eliminações no Estoril Open, João Sousa jogou bem, ganhou um set e talvez não tenha ido um pouco mais longe pelo cansaço que também já foi acusando no final do terceiro parcial.

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Com Casper Ruud a ganhar a moeda ao ar e a escolher servir primeiro, o set inicial teve um ponto de viragem no quinto jogo quando João Sousa conseguiu fazer o break inicial na partida que confirmou depois no seu jogo de serviço para passar para 4-2. Até mesmo com o norueguês a sacar mais winners o português não vacilava, aguentando o encontro a um nível ainda melhor do que aquele que apresentara na ronda inicial. No décimo e decisivo jogo, Sousa conseguiu até fazer um ás num segundo serviço a abrir, fechando em 6-4 com a certeza de que aquilo que parecia quase impossível estava ao alcance com o seu melhor nível de jogo.

O court principal do Estoril Open celebrava mas o norueguês, mesmo perdendo, estava melhor. Melhor no serviço, melhor no peso que colocava nas bolas, melhor na forma como conseguia contrariar o estilo de jogo do português. Com isso e com uma dose de azar à mistura como a bola que bateu na rede e foi para fora no ponto que poderia fazer o contra break para o 2-1, Casper Ruud foi passando para o controlo da partida com um break à maior e outro à vontade naquela que era a primeira partida do ano em terra batida. João Sousa, esse, nunca desistiu. A ganhar ou a perder, voltou a jogar como o Conquistador que gosta de ser entre bolas onde não parava de correr até ao ponto final, passing shots, bolas demasiado a queimar a linha que ficavam fora e outras curtas que paravam na rede. Depois da maratona que foi o sexto jogo, ganho para o 4-2 pelo português, as marcas ficaram lá e Ruud fechou com um break em branco no serviço de Sousa (6-2).

Apesar do apoio do público, as coisas não estavam a correr bem com algum azar à mistura nas bolas que batiam na rede e saíam a queimar a linha. O norueguês aproveitava: salvou um break no seu primeiro jogo de serviço para fazer o 1-0, aguentou os períodos de ascensão motivacional do português para quebrar o seu serviço e fechar em branco em 3-0. Era ali que estava escrita a história do terceiro e decisivo set apesar da resistência que ofereceu ainda no final e que provocou um break no serviço de Ruud (6-2), num jogo em que João Sousa não ficou em nada abaixo do que fizera na véspera mas acabou por ceder perante um número 5 do mundo que está longe do momento que lhe valeu em 2022 a final de Roland Garros.