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Taremi, o violino e o bombo de uma banda que não está para festas (a crónica do Benfica-FC Porto)

Este artigo tem mais de 1 ano

FC Porto regressou ao palco que foi salão de festas na última época para adiar celebrações antecipadas do Benfica com uma reviravolta carimbada por um jogador diferenciado que é capaz de tudo (1-2).

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Taremi voltou aos golos fora e decidiu a reviravolta do FC Porto frente ao Benfica na Luz

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Taremi voltou aos golos fora e decidiu a reviravolta do FC Porto frente ao Benfica na Luz

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Em menos de um ano, tudo mudou. Mudou porque o Benfica chegava à 27.ª jornada com mais pontos de avanço na liderança do que pontos perdidos ao longo de toda a campanha. Mudou porque o FC Porto não ia lutar pelo título mas sim por agarrar uma última e pequena oportunidade de manter a discussão até ao final. Mudou porque a perceção geral que existia em relação ao futebol dos dragões é colocada agora nas águias e de forma bem mais premente. Mudou porque em vez de todos aqueles cachecóis e bandeiras azuis e brancas atrás dos autocarros seguia sobretudo uma onda vermelha que desaguava perto de uma rotunda Cosme Damião em delírio até entre as limitações do cordão policial. Não sendo um clássico para carimbar de forma matemática o título, era o clássico que ia decidir o título – por mais que os treinadores fugissem da palavra.

FC Porto vence Benfica na Luz com reviravolta e fica a sete pontos da liderança da Liga

Principal obreiro dessa viragem? Roger Schmidt. Que chegou com aquelas declarações de amor ao Benfica, que voltou a deixar os adeptos apaixonados pelo Benfica. Em tempo recorde até pela participação nas duas eliminatórias de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, o técnico alemão montou uma ideia de jogo entre um sistema tático aberto a alguma flexibilidade posicional mediante as necessidades da equipa, criou uma filosofia ofensiva da qual nunca abdicou e foi depois colocando os jogadores certos até consolidar uma viragem no onze que ganhou outro equilíbrio quando Aursnes passou a ser mais vezes opção em vez de David Neres. Era isso também que estaria à prova, depois da vitória alcançada no Dragão na primeira volta.

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“O FC Porto é uma equipa muito boa, muito forte individualmente, com um treinador muito experiente e que venceu muitos jogos nos últimos anos. Temos de estar preparados para uma equipa muito concentrada e que fará tudo para fazer um bom jogo. Conhecemo-nos bem, sabemos como eles jogam, como defendem… Não precisamos de nos concentrar em algo concreto, temos de estar preparados e respeitar o adversário. Temos de estar muito concentrados e acreditar em nós próprios, essa tem sido a chave ao longo da temporada. Há sempre ajustes a fazer em relação ao adversário mas vamos jogar à Benfica. Título entregue em caso de vitória? Claro que não. É a 27.ª jornada. Se vencermos, a probabilidade é maior do que se não vencermos. É um jogo importante, mas até sermos campeões, não me sinto campeão”, comentara o técnico germânico.

Principal adversário nessa viragem? Sérgio Conceição. Numa época que confirma o sim-não-sim-não-sim-não desde que assumiu o comando do FC Porto a nível de superioridade a nível nacional, o treinador não conseguiu evitar alguma irregularidade sobretudo na primeira metade da época, perdeu pontos onde não era esperado e acabou por ver a diferença para os encarnados até a uns quase proibitivos dez pontos. As lesões de alguns elementos chave foram fazendo mossa pela falta de um plantel com maior profundidade a nível de qualidade mas só a espaços se conseguiu ver aquele ADN Porto que tantas vezes fazia a diferença. Era isso que o técnico tentava colocar à prova, sabendo que um desaire podia colocar até o segundo lugar em risco.

“O meu discurso sempre foi o de confiança total em toda a gente, vamos lidando as ausências. A beleza do jogo é ganhar, sou muito pragmático nisso. No ano passado, a opinião foi quase unânime, que tínhamos um futebol fantástico com outros jogadores que estavam no plantel e que nos permitiam chegar à baliza do adversário para marcar golos de uma forma e tentar não sofrer depois. Era uma dinâmica um bocadinho diferente. Mas lá está, é a história de que tocar violino ou bombo, só é bom aos olhos de quem vê. Clássico decisivo? Os jogos são todos decisivos e ganham essa força a partir do momento em que ficam a faltar sete depois deste. Preparamos os jogos todos da mesma forma. O ambiente é diferente, os jogadores sentem isso, mas quando o árbitro apita, esquecemos tudo aquilo que está à nossa volta. Aliás, há muitos jogadores que gostava que jogassem de tampões nos ouvidos”, tinha referido o treinador dos dragões.

Mais uma vez, e entrando num encontro sem margem de erro, o FC Porto teve a sua sexta-feira santa com outra vitória na Luz que reduziu a distância para o Benfica para sete pontos. Nem por isso deixa de ser muito difícil ser ainda campeão, porque os encarnados perderam apenas sete pontos em 26 jornadas e teriam de repetir a dose em sete rondas, mas ficou mais uma demonstração do que é uma equipa com orgulho e sem preconceitos entre vários destaques individuais entre Uribe, Grujic, o regressado Pepe ou Taremi, o violino e o bombo da banda azul e branca que tão depressa desperdiça situações de 3×1 sozinho como decide jogos com golos que só grandes jogadores conseguem fazer num estilo que de quando em vez parece meio atabalhoado mas que não encobre o que é um avançado completo e diferenciado que nem mesmo no período de Ramadão, com todas as limitações que isso comporta nesta fase, perde gás para desequilibrar.

Ficha de jogo

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Benfica-FC Porto, 1-2

27.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Benfica: Vlachodimos; Bah (Gilberto, 25′), António Silva, Otamendi, Grimaldo; Florentino Luís (David Neres, 56′), Chiquinho; João Mário, Aursnes, Rafa (Musa, 87′) e Gonçalo Ramos

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Lucas Veríssimo, Morato, João Neves, Tengstedt e Schjelderup

Treinador: Roger Schmidt

FC Porto: Diogo Costa; Wilson Manafá (João Mário, 56′ e Toni Martínez, 71′), Pepe, Marcano, Wendell (Zaidu, 71′); Uribe, Gruijic (Eustáquio, 56′); Otávio, Galeno, Pepê e Taremi (Fábio Cardoso, 87′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Danny Loader, Evanilson e Gonçalo Borges

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Diogo Costa (10′, p.b.), Uribe (45′) e Taremi (54′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Florentino Luís (14′), Uribe (23′), Otávio (45+5′), Grujic (49′), Gilberto (49′), Wilson Manafá (52′), António Silva (83′) e Taremi (87′)

Os dragões entraram apostados em não permitir uma tarde de festas na Luz. A pressionar alto, a promover um ritmo intenso, a aproveitar os posicionamentos sem posição de Otávio para procurar o internacional no espaço no último terço e criar ocasiões. Só mesmo as lesões de António Silva e Galeno travaram esse início frenético, com Taremi a ter um cabeceamento muito fraco após cruzamento de Otávio (2′) antes de não evitar um corte fulcral de António Silva na área quando podia ter ficado isolado num lance 1×1 (4′). Rafa estava em modo off perante uma defesa subida que tantas vezes gosta de encontrar, João Mário e Aursnes falhavam na missão de esticar jogo mas lá apareceu um suspeito do costume e aquela estrelinha que tantas vezes faz os campeões: Bah cruzou largo na direita, Ramos foi ao primeiro andar cabecear em força e a bola bateu de forma caprichosa nas costas de Diogo Costa após ir à trave antes de encaminhar-se para a baliza (10′).

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Na primeira vez que tocou na bola na área, contra nove anteriores dos portistas, os encarnados marcaram. Ainda assim, e contra o que seria até expectável que acontecesse perante a desvantagem e o ambiente a ferver na Luz, os dragões tiveram uma boa resposta. Mais bola, mais jogo no meio-campo, mais chegadas ao último terço, nenhuma daquelas oportunidades flagrantes apesar de uma tentativa de Marcano após passe de Grujic que saiu ao lado. Até nos lances de estratégia os azuis e brancos pareciam ter condições para visar a baliza de Vlachodimos mas havia sempre algo a falhar contra um Benfica que não conseguia colocar as transições rápidas como queria mas que começava a controlar o encontro mais a seu jeito, com uma maior circulação e mais jogo de João Mário por dentro numa fase em que Bah tinha saído lesionado no joelho (25′).

Era neste ritmo que o clássico se encaminhava para o intervalo, com o Benfica a ter duas saídas rápidas com perigo em minutos consecutivos que não deram remate porque João Mário falhou o último passe e porque Pepe teve um corte fantástico quando Gonçalo Ramos tentava enquadrar-se na área (36′ e 37′) e com o FC Porto a esboçar um início de festa que não passou disso mesmo num lance em que Manafá empurrou para a baliza deserta quando Artur Soares Dias já tinha assinalado falta de Taremi sobre Vlachodimos (41′). No entanto, os últimos minutos tinham reservado uma particular emoção junto da área dos lisboetas, sendo a chave para aquilo que seria o resto do clássico: Uribe empatou num grande remate cruzado na área depois de uma jogada de Manafá com assistência final de Pepê (45′) e Galeno aproveitou a desconcentração generalizada dos encarnados para marcar mas com o golo a ser anulado por seis centímetros (45+3′).

Apesar de ter estado quase toda a primeira parte em vantagem, o Benfica não conseguia fazer a ligação de jogo entre setores que lhe permite ter superioridade na maioria dos encontros e era também por isso que Roger Schmidt insistia com Gonçalo Ramos para dar mais apoios frontais. Já o FC Porto, a ter de ganhar, iria tentar recuperar o fôlego anímico com que terminou os 45 minutos iniciais (mais seis de descontos devido às muitas paragens). E, à semelhança do que acontecera no início da partida, o primeiro remate acabou como primeiro golo: Otamendi fez um corte incompleto à entrada da área, nenhum dos defesas encarnados foi a tempo de compensar na segunda bola e Taremi, num remate rasteiro enrolado, fez a reviravolta (54′) sendo que, uns minutos antes, o Benfica tinha ficado a pedir uma grande penalidade por mão de Grujic.

Ainda os portistas festejavam e já os treinadores aceleravam as primeiras alterações na partida. A perder, Schmidt não demorou a abdicar de Florentino (que tinha amarelo) e a lançar David Neres com ideia de dar maior largura ao ataque nos corredores laterais. A ganhar, Conceição trocou por uma questão física Wilson Manafá por João Mário e abdicou ainda de Grujic por já ter um amarelo numa falta clara sobre Rafa na primeira vez que o avançado conseguiu sair em velocidade para apostar em Eustáquio ao lado de Uribe. O contexto mudara por completo, com o FC Porto a baixar o ritmo e as linhas da primeira zona de pressão e o Benfica a tentar carregar jogo mas com muitos passes falhados que quebravam jogadas antes da chegada ao último terço. A 20 minutos do final, João Mário e Rafa conseguiram a primeira ligação numa transição mas Pepe cortou na área antes de João Mário (o do FC Porto) ter mesmo de sair de novo lesionado.

Os encarnados tentavam apertar o cerco, aproveitando duas bolas paradas para puxar pelos adeptos que iam vendo os minutos passar sem mexidas no marcador, mas até aí ficou visível como o Benfica estava perdido em campo, deixando que Taremi se conseguisse colocar em velocidade pela esquerda numa situação de 3×1 na área antes de fazer o passe atrasado que Chiquinho conseguiu cortar num momento que podia ter sido o “fim” do jogo (73′). David Neres, numa diagonal da direita para o meio que o diferenciava no início da época, atirou ao lado (75′). Pouco depois, Chiquinho, o mais inconformado num lote de exibições muito abaixo do que é normal, fez o primeiro remate enquadrado dos encarnados (78′). Havia um esboço de reação que não se confirmou de uma forma consistente, com Sérgio Conceição a ver Musa entrar para o lugar de Rafa e a lançar Fábio Cardoso no lugar de Taremi para desenhar uma linha de três centrais com Pepê e Zaidu nas alas, e seria Gonçalo Ramos a desperdiçar a última chance isolado na área já nos descontos (90+1′).

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