Terminou o otimismo, começou o pragmatismo: por muito que o Sporting não o quisesse, o jogo desta quinta-feira era a verdadeira possibilidade de continuar a alimentar o objetivo de estar na Liga dos Campeões da próxima temporada. Com dois empates nas últimas três jornadas do Campeonato, os leões ficaram a sete pontos do terceiro lugar — ou seja, eliminar a Juventus, chegar às meias-finais da Liga Europa e sonhar com uma eventual conquista da competição era a única alternativa.

A equipa de Rúben Amorim recebia os italianos uma semana depois da derrota em Turim, num jogo em que o Sporting dominou durante grande parte do tempo e foi particularmente perdulário, e procurava repetir a façanha dos oitavos de final e da eliminação do Arsenal. Os leões contavam com o apoio do 12.º jogador, já que Alvalade registava a melhor assistência da temporada, e o treinador não escondia que confiava no apuramento.

Ficha de jogo

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Sporting-Juventus, (1-1, 1-2 no conjunto das duas mãos)

Quartos de final da Liga Europa

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: François Letexier (França)

Sporting: Adán, Diomande, Coates, Gonçalo Inácio (Matheus Reis, 81′), Ricardo Esgaio, Morita, Manuel Ugarte, Nuno Santos, Marcus Edwards, Pedro Gonçalves, Trincão (Chermiti, 81′)

Suplentes não utilizados: Franco Israel, Diogo Pinto, Luís Neto, Sotiris, Rochinha, Fatawu, Bellerín, Mateo Tanlongo, Arthur Gomes, Dário Essugo

Treinador: Rúben Amorim

Juventus: Szczesny, Danilo, Bremer (Gatti, 73′), Alex Sandro, Cuadrado, Miretti (Pogba, 72′), Locatelli, Rabiot, Di María, Vlahovic (Milik, 71′), Chiesa (Kostic, 78′)

Suplentes não utilizados: Pinsoglio, Mattia Perin, De Sciglio, Bonucci, Rugani, Soulé, Paredes, Fagioli

Treinador: Massimiliano Allegri

Golos: Rabiot (9′), Marcus Edwards (gp, 20′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Manuel Ugarte (24′), a Gatti (83′), a Pogba (89′), a Marcus Edwards (90+3′)

“Esta equipa já demonstrou que se supera nestes jogos. Que está à vontade, que é atrevida e consistente, tirando os jogos com o Marselha [fase de grupos da Liga dos Campeões]. Somos fortes nestes jogos. Temos boas sensações de Turim, onde criámos oportunidades e controlámos bem os pontos fortes da Juventus. Não fomos tão eficazes como eles e isso fez a diferença. Mas foi dito aos jogadores que este jogo é completamente diferente. Há pormenores que mudam o jogo. Eles são experientes, vêm com vantagem. Mas não jogam no estádio deles e as equipas grandes, quando vêm de maus momentos, têm alguma ansiedade. Temos de ser inteligentes e perceber que o jogo vai ter momentos diferentes. Mas temos 90 minutos para gerir isso e para, pelo menos, empatar a eliminatória”, disse Amorim na antevisão da partida.

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Assim, poucos dias de empatar com o Arouca, o Sporting apresentava-se sem uma referência ofensiva clara: com Paulinho lesionado, o treinador leonino deixava Chermiti no banco e apostava num ataque móvel, com Trincão ao meio e Edwards e Pote a partir dos corredores. Gonçalo Inácio voltava ao onze e Matheus Reis era suplente, sendo Nuno Santos o responsável pela ala esquerda. Do outro lado, numa Juventus que perdeu nas últimas duas jornadas na Serie A, Massimiliano Allegri não contava com o lesionado Moise Kean e colocava Chiesa, Vlahovic e Di María no setor ofensivo, lançando ainda o regressado Alex Sandro.

Tal como tinha acontecido em Itália, o Sporting entrou bem na partida, colocando as linhas subidas no relvado e procurando inserir-se no meio-campo adversário. Coates teve a primeira ocasião mais perigosa do jogo, com um cabeceamento por cima na sequência de um canto na direita (6′), e os leões iam tentando chegar perto da baliza de Szczesny essencialmente a partir dos corredores.

Ainda no quarto de hora inicial, porém, a Juventus colocou-se a vencer. Na sequência de um canto cobrado na esquerda e de muita confusão na área, entre alívios insuficientes e ressaltos, Rabiot atirou à meia volta já muito perto da baliza e surpreendeu Adán (9′). Numa fase ainda muito embrionária do jogo, o Sporting via-se novamente a perder e com a tarefa ainda mais dificultada — num nervosismo que tinha o seu exemplo paradigmático em Gonçalo Inácio, que demonstrava muitas dificuldades na hora de responder à qualidade de Di María.

O golo sofrido empurrou ainda mais os leões para a frente, numa movimentação que era quase sempre coordenada pela subida de Esgaio e Nuno Santos pelas alas, e a equipa de Rúben Amorim acabou por chegar ao empate 10 minutos depois do golo de Rabiot: Ugarte foi carregado em falta pelo mesmo Rabiot no interior da grande área da Juventus e Marcus Edwards, na conversão da grande penalidade, não falhou (20′).

O Sporting aproveitou o embalo do empate (e da eliminatória relançada) e demonstrou um claro ascendente nos minutos seguintes, com Ugarte a atirar de muito longe e pouco por cima da baliza (25′) e Diomande a cabecear ao lado na sequência de um canto (35′). O jogo ficou mais equilibrado à medida que o intervalo se foi aproximando, com a Juventus a recuperar alguma posse de bola e a beneficiar de alguns lances mais perigosos na grande área de Adán — onde ficava claro que, sempre que os italianos levantavam a bola, a defesa leonina tremia.

A partida chegou empatada ao intervalo, com a eliminatória totalmente em aberto, e o Sporting ia novamente realizando uma exibição positiva nas competições europeias — na defesa destacava-se Coates, que anulou Vlahovic; no meio-campo destacava-se Ugarte, que ia enchendo o campo com recuperações e intensidade; e no ataque destacava-se Edwards, que para além do golo ia baralhando a organização defensiva italiana.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a Juventus voltou melhor do balneário, assentando arraiais no meio-campo leonino à procura de mais um golo que desse outro conforto na eliminatória. Vlahovic ficou muito perto de empatar com um cabeceamento que não chegou à baliza depois de uma investida de Di María na direita (55′) e o Sporting tinha muita dificuldade para passar do meio-campo, com Morita a registar alguma quebra de rendimento de Turim para Alvalade.

Allegri foi o primeiro a mexer, lançando três jogadores de uma vez com as entradas de Gatti, Pogba e Milik, e Esgaio teve a melhor ocasião dos leões na segunda parte com um remate cruzado na área que passou por cima (75′). O jogo foi partindo e abrindo mais espaço, até porque a Juventus procurava uma transição mais rápida e direta para aproveitar a subida das linhas leoninas e o espaço nas costas da defesa, e Amorim fez as primeiras substituições a 10 minutos do fim ao trocar Trincão e Gonçalo Inácio por Chermiti e Matheus Reis.

O Sporting voltou a assumir por completo o controlo da partida nos instantes finais, assim como tinha acontecido em Turim, e Coates (já no ataque em conjunto com Chermiti) teve a derradeira oportunidade leonina ao atirar por cima já sem o guarda-redes na baliza depois de um grande investida de Edwards na direita (88′). Os leões tentaram tudo, perderam o norte nos derradeiros segundos dos descontos e já não aproveitaram o tempo por completo e não conseguiram reverter a desvantagem.

No fim, o Sporting empatou com a Juventus em Alvalade e foi afastado da Liga Europa graças à derrota sofrida na primeira mão, com Portugal a ficar sem qualquer representante nas competições europeias. Marcus Edwards foi o melhor elemento leonino em termos globais, mas não conseguiu resolver sozinho; Coates teve as oportunidades do costume, mas não conseguiu ser eficaz; Rúben Amorim sai de pé como é habitual, mas sai eliminado. E a melhor possibilidade que o Sporting tinha para chegar à Liga dos Campeões da próxima temporada esfumou-se em dezenas de ocasiões desperdiçadas no eixo Turim-Lisboa.