Dois chefes de Governo, dois alvos: os negócios e o ataque a Bolsonaro. O Presidente do Brasil, Lula da Silva, e o primeiro-ministro, António Costa, celebraram, numa conferência de imprensa conjunta este sábado, o regresso das cimeiras entre os dois países sete anos depois e assistiram aos ministros a assinarem, um a um, 13 acordos bilaterais em áreas que vão desde agências especiais até agências de notícias.
Lula e Costa congratularam-se ambos com o retomar das relações Portugal-Brasil e alinharam no tiro ao Bolsonaro. No fim das intervenções, saíram sem dar tempo aos jornalistas para fazer perguntas.
António Costa lembrou que a prova de que as relações entre Lisboa e Brasília estavam esfriadas é que “Chico Buarque de Hollanda só vai receber o Prémio Camões na segunda-feira, quatro anos depois” de lhe ter sido atribuído.
O primeiro-ministro português estendia assim a passadeira a Lula, não só para atacar o antecessor, mas para regressar a Portugal: “É sempre bem-vindo. Esta é a sua casa“.
Lula da Silva aproveitaria para dizer que o Brasil ficou isolado no tempo de Bolsonaro, “que ninguém queria receber”, e que essa política externa do antecessor foi uma “irresponsabilidade“. O erro foi cometido também com Portugal: “Como é que se explica? Um país não reconhecer a importância de Portugal? Não em termos populacionais, mas de importância histórica?” Costa ia sorrindo perante as críticas a Bolsonaro, que Lula também acusou de ter destruído políticas sociais no Brasil como uma verdadeira “praga de gafanhotos“.
O presidente brasileiro já antecipa que vai sair “feliz” do país, mesmo que ainda fique mais três dias em Portugal: no domingo folga (“A Nazaré me espera”); na segunda-feira vai ao Porto encontrar-se com empresários, volta a Lisboa num avião vendido pela Embraer a Portugal e entregar o prémio Camões a Chico Buarque; e terça-feira, 25 de Abril, discursa na AR).
Lula lamentou ainda que Bolsonaro não tenha percebido que o Brasil consegue “mais penetração no continente europeu a partir de Portugal”.
Para já estão fechados 13 acordos em várias áreas: “Concessão de equivalência de estudos entre Brasil e Portugal; proteção de testemunhas; instalação e funcionamento da escola de São Paulo; direitos das pessoas com deficiência; energia; geologia e mineração; reconhecimento mútuo de títulos de condução; cooperação na investigação biomédica; produção cinematográfica entre agências dos dois países; um acordo entre agências espaciais dos dois países; uma carta de promoção da Saúde; um entendimento entre a Turismo de Portugal e a Embratur; e um acordo entre a agência Lusa e a agência de notícias brasileira.”
Lula disse sentir que “Portugal é extensão da nossa casa chamada Brasil e o Brasil é a extensão da nossa casa chamada Portugal”. Ainda relativamente às relações com os países, defendeu que “política é uma coisa química”, que a “relação humana é química” e que esta não funciona se as pessoas “não se conhecem, não se abraçam, ombro no ombro.” Disse que não quer sair de Portugal sem “comer bacalhau” e fez uma promessa aos portugueses: “O Brasil está de volta”.