Francisca Van Dunem já fez chegar o seu depoimento ao tribunal no caso que acusa o ativista antirracista Mamadou Ba de difamar o ex-dirigente dos “Hammerskins” Mário Machado, avança a edição deste domingo do jornal Público.

A ex-ministra da justiça considera que Mamadou Ba “é um cidadão honesto e empenhado”, “um homem comprometido com a sua causa, que defende à outrance (em português, “ao extremo”)”, o que justifica que use “linguagem dura, que choca, para produzir efeito. Para gerar o necessário sobressalto”.

Mamadou Ba vai a julgamento por, em 2020, nas redes sociais, ter escrito que o neonazi Mário Machado foi “uma das figuras principais do assassinato de Alcindo Monteiro”, cabo-verdiano de 27 anos que morreu a 10 de junho de 1995, no Bairro Alto, em Lisboa, quando um grupo de “skinheads” saiu à rua para comemorar o que consideram o “Dia da Raça”, perseguindo e agredindo pessoas negras. O ativista apelidou Mário Machado de “assassino”.

Machado, que esteve presente no grupo na noite dos acontecimentos, não foi condenado pelo homicídio, razão pela qual decidiu apresentar queixa-crime contra Mamadou Ba por difamação, publicidade e calúnia. Em outubro, o juiz de instrução Carlos Alexandre viu razões suficientes para remeter o arguido para julgamento.

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Testemunha de defesa do arguido, Francisca Van Dunem afirma, no depoimento escrito a que o jornal Público teve acesso, que no texto partilhado nas redes sociais “Mamadou Ba não imputa a Mário Machado” o homicídio de Alcindo Monteiro. Justifica a juíza conselheira jubilada que a referência ao neonazi se prende “pela sua relevância como agente político e pela sua associação às pessoas e circunstâncias em que teve lugar o homicídio, num contexto em que critica” a forma como a imprensa noticiou o caso.

“Tanto quanto sei, [Mamadou Ba] está perfeitamente inserido na sociedade portuguesa e comporta-se como um cidadão exigente, dinâmico e politicamente ativo”, cita o diário. “Tem uma consciência aguda de um problema crítico para o desenvolvimento harmonioso da sociedade portuguesa: a discriminação social — e luta ativamente contra ela.”

O arranque do julgamento está marcado para 26 de Abril. Van Dunem é uma das testemunhas de defesa arroladas por Mamadou Ba, ao lado da diplomata Ana Gomes, o ex-líder do BE Francisco Louça, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, o deputado do livre Rui Tavares, ou os jornalistas Daniel Oliveira, Diana Andringa e Paulo Pena.

Mário Machado acusado pelo Ministério Público de incitamento à violência sexual