A guarda parental e a gestão do tempo passado com os filhos é um dos principais tópicos durante o processo de divórcio, mas não é o único problema. A saída de casa, a sua venda e a procura de dois novos locais para viver pode ser também uma tarefa árdua, que se torna impossível para muitos casais, especialmente numa altura em que a inflação atinge níveis tão elevados.

A solução, para muitos casais, passa pela transformação da moradia onde a família residia antes do divórcio. Uma parede destruída, cabos de eletricidade e sistemas de canalização alterados, e uma nova cozinha ou casa de banho surgem na moradia. Três quartos num andar da casa podem ser transformados num quarto e uma sala. A solução parece apelativa, especialmente para quem não tem meios financeiros de pagar uma renda e uma prestação da antiga casa onde residia com a companheira ou o companheiro.

Em Espanha, uma dupla constituída pela advogada Paloma Abad e pelo arquiteto Javier Ruiz Barbarín colaboram desde 2015 na adaptação de casa para que os ex-casais possam viver em harmonia, com ou sem filhos. O primeiro caso do par surgiu em Majadahonda, nos arredores de Madrid, após o divórcio de um casal com filhas que queria alterar a sua habitação, explicam ao El Mundo.

Eles não queriam vender a propriedade porque isso implicava desenraizar as suas filhas”, explicou a advogada. “Disse-lhes que ia procurar um arquiteto para encontrar uma solução e, no final, conseguimos. A garagem foi transformada em cozinha, e instalámos uma escada nas traseiras da moradia para que não tivesse apenas uma entrada. Assim cada elemento do casal ficava num nível e as crianças só tinham de subir e descer.”

Para Javier Ruiz Barbarín, a falta de capacidade dos casais divorciados para comprar casa depois da separação é um problema cada vez maior, especialmente no sul da Europa. “No norte e centro da Europa já existem soluções específicas para eles [os casais divorciados], mas aqui estamos atrasados.”

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Em Portugal, de acordo com os dados da Pordata, houve quase 60 divórcios por cada 100 casamentos em 2020. No ano anterior, este valor atingiu os 91,5 divórcios por cada centena de matrimónios. Com a crise económica que o país enfrenta, é cada vez mais difícil aos casais divorciados resolver a questão da casa, e parte devido aos valores elevados do mercado imobiliário. Este problema, contudo, não afeta apenas Portugal, sendo comum em toda a Península Ibérica.

A Associação Espanhola de Advogados de Família afirmou que 36% das pessoas que desistem do processo de divórcio justificam a decisão com base no impacto financeiro que a separação teria nas suas vidas. “Em famílias com um nível económico médio-baixo, a rutura legal implica não conseguir cobrir as necessidades básicas tanto do próprio como dos seus filhos”, explicou María José Sánchez González, porta-voz da associação. Entre os ex-casais compostos por pessoas com mais de 60 anos, a perda de estatuto social assim como de estabilidade e a queda do nível de vida são receios comuns em relação ao divórcio.

A opção mais económica, ainda de acordo com Javier Ruiz Barbarín, é a “casa tetris”, em que se conjugam as habitações individuais do ex-casal com um espaço comum para os filhos.

Uma opção mais económica e uma solução para a partilha dos filhos

Após o divórcio, segundo o site Homebay, existem quatro formas de proceder em relação ao futuro da casa que era anteriormente partilhada pelo ex-casal. As duas pessoas envolvidas podem vender a casa e dividir os lucros entre si. Outra opção passa por um dos elementos do ex-casal  comprar a parte do outro, passando a ser o único proprietário do imóvel, ou trocar a sua parte da casa por um bem de igual valor — um carro por exemplo. A outra opção mais comum é manter a partilha da casa enquanto ex-casal.

O site foi mais longe, e apresentou as vantagens e desvantagens de partilhar uma casa com o ex-marido ou a ex-mulher. Dividir a habitação garante a uma das pessoas mais tempo para juntar dinheiro e comprar a parte do ex-companheiro, além de permitir que os filhos continuem a viver numa só casa. Casais que optem por manter a mesma casa podem ainda esperar pela altura em que o seu imóvel possa adquirir valor após uma reavaliação. Por outro lado, a partilha do mesmo lar pode tornar o luto emocional mais difícil, uma vez que o ex-casal vai continuar, ainda que de forma mais individual, a partilhar certas rotinas.

“Este é o futuro”, salientou Javier Ruiz Barbarín.”Estamos a viver numa altura de enormes mudanças e a mente começa a abrir-se a outras opções.”