João Galamba está “politicamente diminuído” depois de ter mentido à comissão parlamentar de inquérito e de ter omitido “informação relevante sobre o tema da TAP”. Assim, não “terá condições para continuar no cargo” de Ministro das Infraestruturas.
As afirmações são de Jorge Miranda Sarmento, líder da bancada parlamentar do PSD, a propósito da polémica relacionada com Frederico Pinheiro, agora ex-adjunto do ministro das Infraestruturas que esteve presente na reunião secreta entre o deputado socialista Carlos Pereira e Christine Ourmières-Widener. O encontro terá servido para preparar a ex-CEO da TAP para a audição que, no dia seguinte, a gestora iria ter na comissão de Economia. Galamba não esteve presente no encontro, mas uma mensagem de WhatsApp do seu ex-adjunto dá conta de que a autorizou.
“Acabamos de saber pela voz do seu ex-adjunto que o ministro quis mentir à comissão parlamentar de inquérito, omitindo informação relevante sobre o tema da TAP e isso é inaceitável no comportamento de um membro do Governo, por isso o ministro João Galamba está politicamente muito diminuído pela mentira que quis fazer à CPI no parlamento“, declarou, reforçando: “O senhor ministro João Galamba não terá condições para continuar no Governo”.
Miranda Sarmento pede também esclarecimentos ao líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, a propósito das “acusações muito graves e sérias relativamente a outros grupos parlamentares que compõem a Assembleia da República” — os quais acusou de “violarem a lei e de passarem informação a comunicação social que lhe tinha sido entregue à comissão parlamentar de inquérito da TAP.”
“Ora hoje à tarde soubemos que o governo apresentou queixa na PJ contra o agora ex assessor do ministro das infraestruturas exatamente porque suspeita que a fuga de informação tenha vindo desse gabinete”, disse. Brilhante Dias, terá de “esclarecer o parlamento e o pais” acerca da “declaração profundamente infeliz”. Miranda Sarmento exige um pedido de desculpa “a todos os grupos parlamentares e reputados que representam povo português”.
Por último, Miranda Sarmento falou de Augusto Santos Silva, com uma breve alusão à reação do Presidente da Assembleia da República ao protesto do Chega contra o discurso de Lula da Silva na AR, no 25 de Abril. “Se o senhor presidente da Assembleia da República – que está muito preocupado e bem com o regular do funcionamento desta casa – tem de atuar também neste comportamento inaceitável por parte do grupo parlamentar do Partido Socialista e por parte do Governo”, afirma, acrescentando que “tem de ser muito afirmativo naquilo que estabelece como o regular funcionamento deste parlamento e tem de atual sobre aquilo que foi uma grave violação da ética.”
Bloco de Esquerda: “Se há um ministro que deliberadamente tentou mentir à comissão de inquérito”, este “não pode continuar como ministro”
Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, também pede “respostas urgentes” e afirma que “se há um ministro que deliberadamente tentou mentir à comissão de inquérito”, este “não pode continuar como ministro.”
“Se nós já achávamos que João Galamba devia dar explicações sobre o estado atual da TAP, ele agora deve, não só isso, como dar explicações sobre o estado atual do ministério das Infraestruturas que lidera, porque nos parece que todo este caso é demasiado grave para se deixar que passe como a espuma dos dias”, declarou aos jornalistas no Parlamento.
O responsável bloquista pediu ainda explicações ao Governo: “Se há acusações de que o ministro quis faltar à verdade à comissão de inquérito, essas acusações têm de ter uma resposta clara e inequívoca por parte do Governo”, disse. “O Governo não pode fugir às suas responsabilidades” e, assim, “o senhor ministro e o senhor primeiro ministro são chamados a dar resposta em nome da democracia e em nome da verdade a este parlamento”.
CDS-PP faz “apelo direto” a Marcelo para pedir demissão de Galamba
O líder do CDS-PP também se pronunciou sobre o caso. Em comunicado enviado às redações, Nuno Melo pediu diretamente ao Presidente da República para que intervenha junto do primeiro-ministro para pedir a demissão de João Galamba, e considerou que este e outros casos “mina perigosamente a credibilidade das instituições democráticas”.
“Não sendo de crer que o ministro João Galamba peça a respectiva demissão, ou que António Costa a decida, como seria suposto num quadro de normalidade democrática, o CDS faz um apelo directo ao Presidente da República para que, a exija do primeiro-ministro”, pode ler-se na nota do líder centrista.
Para o presidente do CDS, a sucessão de polémicas é sintomática do fim de ciclo da governação socialista. Lembrando que o partido já tinha pedido a dissolução da Assembleia da República no final de 2022 por, na altura, considerar que “a situação política só se podia agravar”, Nuno Melo diz que o presente reivindica os centristas. “É hoje evidente que o CDS tinha toda a razão”.
Ventura diz que ministro Galamba não tem condições para continuar no cargo
O líder do Chega, André Ventura, considerou também que o ministro das Infraestruturas, João Galamba, já não tem condições para continuar no cargo devido ao caso Frederico Pinheiro. “Isto é muito grave e, sendo verdade, o ministro não tem quaisquer condições para continuar”, afirmou em Moura, no distrito de Beja.
Nas declarações aos jornalistas, Ventura antecipou que, nos próximos dias, haverá “um vazamento de informação constante” sobre o caso que “só vai fragilizar dia após dia o ministro das Infraestruturas”, lembrando que se aproximam os processos de privatização da TAP e da escolha do novo aeroporto de Lisboa. “Precisávamos de um ministro com credibilidade, sobretudo, com autoridade política e este ministro já perdeu essa credibilidade e essa autoridade e acho que o melhor que fazia para ele e para a república era sair”, assinalou.
Para André Ventura, o Governo do PS adotou, neste caso, a “mesma política de passar culpas a terceiros”, ou seja, “a culpa é sempre do motorista, do adjunto, do secretário e nunca é do próprio ministro”. “Ficou claro que o ministro sabia e queria aquela reunião, de tal forma que disse que foi a CEO [presidente executiva] da TAP que tinha pedido essa reunião e, agora, vir dizer que a responsabilidade foi de um adjunto é um pouco estranho”, realçou.
Assinalando que é “uma incoerência” em relação ao que o Governo tinha dito e “mais uma mentira”, o líder do Chega sustentou que “este episódio é grave”, pois “mete informações guardadas por assessor e envolveu a Polícia Judiciária”. “Não sabemos se não envolveu outras agências do Estado e, aparentemente, o assessor em causa disse que João Galamba quis que se mentisse à comissão de inquérito”, disse, insistindo que “o ministro não tem quaisquer condições para continuar”.
O presidente do Chega considerou ainda que o Presidente da República “deve estar numa posição também muito desconfortável”, pois “sabe que, mais cedo ou mais tarde, a continuar assim, vai ter que tomar decisões difíceis e difíceis para a república também”.